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Politica Brasil
Segunda - 19 de Março de 2007 às 17:35

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Ao dar posse na sexta-feira 16 a três novos ministros de Estado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que poderia se dar ao luxo de olhar apenas para o futuro. “Se a gente fosse analisar somente o que as pessoas fizeram ontem, sem pensar no que fariam amanhã, não faríamos muitas coisas. No segundo mandato, eu não tenho tempo de pensar em ontem”, discursou ele.

Esta semana, seria recomendável que o presidente reavaliasse essa sua convicção antes de confirmar ou não o deputado Odílio Balbinotti, do PMDB do Paraná, no Ministério da Agricultura. O nome escolhido por Lula está encrencado com a Justiça – e até o pescoço. Balbinotti responde a processo no Supremo Tribunal Federal por falsidade ideológica devido a um empréstimo junto ao Banco do Brasil.

É fundador e diretor de uma instituição, a Fundação Mato Grosso, acusada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de roubo na propriedade intelectual de sementes transgênicas de algodão. Como ministro, ele seria o chefe da Embrapa. Seria botar a raposa como guardiã do galinheiro.

Sediada em Rondonópolis, a Fundação Mato Grosso é uma associação da qual fazem parte os principais empresários do agrobusiness do Estado. O governador Blairo Maggi (PR-MT), principal padrinho da indicação de Balbinotti, é um deles.

A fundação foi criada para trabalhar no desenvolvimento de sementes e de soluções tecnológicas para a agricultura. A Sementes Adriana, principal empresa de Balbinotti, em Rondonópolis, utiliza sementes de soja e de milheto (forragem para alimentação de gado) desenvolvidas pela fundação.

A pendenga da Embrapa com a Fundação Mato Grosso iniciou-se em 2001. Em 1997, a fundação fez um convênio com a Embrapa para a pesquisa e desenvolvimento de sementes transgênicas. A Embrapa investiu cerca de R$ 16 milhões no projeto. No caso do algodão, envolveu ainda seus cientistas na Paraíba.

A estatal cedeu à fundação a matriz genética do algodão para que fosse plantado por seus associados. Quando as matrizes das sementes foram plenamente desenvolvidas, a fundação resolveu romper unilateralmente o contrato que tinha com a Embrapa. Argumentou que, a partir daquele ponto, prosseguiria no trabalho sozinha. Ou seja: jogava às favas o trabalho dos cientistas da estatal e, no momento da venda de sementes e royalties, buscava lucrar sozinha.

Para piorar a situação, quando os pesquisadores da Embrapa conseguiram na Justiça Federal uma ordem de seqüestro das sementes geneticamente modificadas, elas foram trocadas. As matrizes foram levadas para as fazendas Maggi II e Mônica e outras sementes de baixa qualidade foram entregues à estatal. O juiz César Augusto Bearsi, da 3ª Vara de Mato Grosso, determinou, então, que, se o seqüestro das sementes não fosse cumprido, Blairo Maggi e Gilberto Goellner, outro envolvido diretamente no processo, deveriam ser presos. Maggi fez, então, um acordo amigável. Em 2002, aceitou pagar R$ 2,5 milhões à Embrapa para que a fundação se livrasse da ação civil. Mas o procurador Pedro Taques abriu um processo criminal, que iniciou uma investigação da Polícia Federal. Um dos diretores da fundação investigada é Balbinotti.

Esse não é o seu único problema. Balbinotti responde a um processo que está no Supremo Tribunal Federal nas mãos do ministro Ricardo Levandowski por fraude num contrato de empréstimo do Banco do Brasil. O processo corre em segredo de Justiça. Mas, no dia 15 de agosto de 2006, o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, anexou a ele um parecer em que diz ter encontrado “a existência de indícios veementes da prática dos crimes de falsidade ideológica”.

Souza pediu ao Ministério Público Federal para solicitar à Polícia Federal que aprofunde as investigações. O golpe: ao pedir ao Banco do Brasil o alargamento do prazo de uma dívida, Balbinotti usou funcionários da sua fazenda como “laranjas” para modificar a capacidade societária da sua empresa e, assim, aumentar o seu potencial de refinanciamento. As regras do financiamento agrícola estabelecem que cada produtor tem um limite de endividamento de R$ 200 mil. Assim, quanto maior for o número de produtores envolvidos, maior o tamanho da dívida que pode ser negociada. Balbinotti defende-se dizendo que não houve fraude no processo. O que ele costuma é dar terras e fazer parcerias com seus funcionários que se destacam, como uma espécie de bônus, afirma.





Fonte: Revista Isto É

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