Discussão sobre etanol é política, diz ex-ministro
Rodrigues preside o Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e participa da Comissão Interamericana de Etanol. Hoje, lembra Rodrigues, o Brasil não tem excedente de produção para atender a demanda norte-americana pelo produto.
Os Estados Unidos aplicam uma tarifa de US$ 0,54 por galão de álcool brasileiro, o que inibe a entrada do produto naquele país. "Comercialmente, neste momento não é importante que essa tarifa seja eliminada porque o Brasil hoje produz para garantir o abastecimento do mercado interno, que é crescente", esclarece ele.Atualmente, os carros flex fuel - que utilizam álcool ou gasolina, à escolha do consumidor - respondem por 83,5% das vendas de automóveis no Brasil, segundo Rodrigues. "O produtor e o governo brasileiros têm interesse em atender ao consumidor brasileiro prioritariamente.
Os brasileiros podem ficar tranqüilos quanto ao abastecimento, e os americanos podem ficar tranqüilos, que não haverá uma inundação de álcool", destaca ele. Rodrigues acredita que um bom acordo envolveria a manutenção da barreira tarifária por um ou dois anos. Nesse período, porém, a tarifa seria aplicada em investimentos em pesquisas no Brasil. "São recursos auferidos pelos americanos em cima do produto produzido no Brasil.
Faz todo o sentido que volte para o Brasil sob forma de estímulo para pesquisa na produção do etanol brasileiro ou para pesquisa nos Estados Unidos acompanhada por brasileiros", afirma.O ex-ministro destaca que, do ponto de vista político, a barreira tarifária não pode ser excluída das negociações em torno de uma possível parceria entre Brasil e Estados Unidos na área de etanol. "Que sentido faz criar uma parceria entre dois países se um deles cria resistência para a entrada de seu produto no outro país?", indaga. "É preciso compatibilizar essas duas questões, manter a barreira ainda viva para que tenha garantia absoluta do mercado interno e, ao mesmo tempo, dar um sinal político de que esta barreira vai cair dentro de dois, três ou quatro anos", diz ele. "Aí, sim, com o crescimento de nossa produção, o Brasil terá excedentes exportáveis para os Estados Unidos e para outros países do mundo também." Apesar da natural resistência dos produtores agrícolas norte-americanos, o ex-ministro acredita que a eliminação da tarifa acabará sendo aceita em razão da demanda norte-americana pelo álcool combustível.
Rodrigues avalia como preocupante a realização de eleições presidenciais nos Estados Unidos dentro de dois anos, pois a proteção ao produtor norte-americano é tema recorrente nas campanhas.
Por outro lado, ressalta que o presidente George W. Bush propõe que 20% da gasolina consumida nos Estados Unidos seja substituída por álcool até 2017."É um volume gigantesco de etanol, quatro, cinco ou seis vezes o que é hoje produzido nos Estados Unidos e dificilmente eles terão condições de produzir isso sozinhos", enfatiza o ex-misnitro. "Hoje, o produtor de milho americano tem medo do álcool brasileiro e exige a tarifa.
Quando esse medo desaparecer, e a demanda dos consumidores for mais forte do que a pressão dos produtores de milho, acredito que haja uma posição política no sentido da tarifa diminuir ou até desaparecer", avalia. Ele faz um alerta: "É preciso que o governo brasileiro tenha hoje a clareza de que, num acordo bilateral dessa natureza, a manutenção da tarifa é uma incongruência."
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