Novos sambas com enredos velhos...
Não estou me referindo ao carnaval propriamente dito ou às nossas maravilhosas escolas de samba que o fazem o maior espetáculo da terra. Refiro-me, usando metáforas, à folia das campanhas eleitorais; à mesmice desse nosso carnaval político que dura quatro anos, ou seja, todos os Governos que temos aturado nesse mais de meio século. Falo dos grupos políticos que os sustentam e das forças oposicionistas que os combatem com ferocidade. Quase todos – usando a expressão popular – farinha do mesmo saco.
A última campanha, fora a proibição de showmícios, em nada diferiu das anteriores quanto à forma e aos métodos utilizados. A mesma promiscuidade ideológica, o mesmo ritual de conchavos e mancebias eleitorais de sempre; as mesmas bandeiras desfraldadas por todos os candidatos, as mesmíssimas promessas e os mesmos compromissos que mais uma vez não serão cumpridos. A mesma e até maior influência do poder econômico de novo se fazendo presente, gestando candidaturas milionárias e repetindo a prática condenável dos mesmos crimes eleitorais.
Tudo parece indicar que o período de governo há pouco iniciado não será diferente dos anteriores. Já decorreram mais de dois meses e nenhum lance novo no tabuleiro do xadrez político, nenhuma mudança no tal jeito petista de governar. O governo-bis de Lula continua com a mesma cara e os mesmos cacoetes. No palco, ainda permanece o elenco do espetáculo anterior atuando como antes. A pretexto de garantir a governabilidade, a pauta prioritária continua a mesma: a reconstrução da necessária base de apoio parlamentar, tida como indispensável aos objetivos do Planalto. Para tanto, o governo volta a empregar os mesmos métodos de cooptação, utilizando os ministérios e altos cargos do primeiro escalão para comprar apoios.
Os prováveis “aliados” se oferecem com a mesma fome de poder. Estão dispostos a servir o Brasil, contanto que sejam regiamente pagos e tenham acentos privilegiados à mesa do banquete oficial. Veja-se, por exemplo, como age o PMDB para mostrar o seu desprendimento neste novo escambo político. Por sua vez, os demais setores mercenários do fisiologismo acompanham os passos da outrora independente Legenda da Esperança do finado Dr. Ulisses. Quanto à oposição, continua como sempre: passional, raivosa e maniqueísta. PSDB, PFL e outros partidos do “água, meus netinhos, azeite, senhora avó”, desde já se arregimentam e dão início as escaramuças pensando em 2010.
Se o Executivo permanece como dantes, o Legislativo se mantém quase o mesmo. O Congresso continua exibindo a maioria dos medalhões da política nacional. Entre eles, velhos freqüentadores das páginas policiais, outros que sobreviveram ao tsunami do mensalão e sanguessugas e alguns que imaginávamos já mortos e enterrados para a vida pública. É certo que houve um razoável percentual de renovação na Câmara Federal. Acontece que de suas 513 cadeiras,175 foram ocupadas por parlamentares que respondem a vários processos. A renovação, pelo visto, corre o risco de ter o mesmo efeito de remendo novo em tecido velho. Como se vê e dizia Salomão, nada de novo existe sob o sol.
( Wilson Lemos= E-mail: wfelemos@terra.com.br)
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