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Cultura
Quarta - 14 de Fevereiro de 2007 às 05:48
Por: Luiz Fernando Vieira

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Integrantes da orquestra de flautas e do coral do Instituto Cultural Flauta Mágica realizam em breve o que pode ser considerado um marco na história da iniciativa, criada em 1998, no bairro Jardim Vitória. O grupo viaja no dia 04 de março para a cidade do Rio de Janeiro (RJ), onde grava o primeiro CD. O local é a sala de concerto Cecília Meirelles, considerada por muitos a melhor do país. Além disso, a gravação contará com a participação de músicos de renome, como a pianista fluminense Ruth Serrão.

O responsável pelo instituto, o maestro Gilberto Mendes, explica que tudo aconteceu de maneira inesperada. Ele vinha fazendo contatos com o objetivo de viabilizar recursos para a produção do disco, mas não esperava que as empresas viessem procurá-lo e sim o contrário, como geralmente ocorre. Conta que no dia seguinte ao concerto de final de ano da orquestra, realizado no dia 19 de dezembro, representantes da Pantanal Energia entraram em contato e pediram que fosse até o escritório da empresa. O motivo: queriam investir na gravação.

Ainda que fosse para apoiar uma parte (a maior), foi uma notícia que encheu o grupo de alegria. O espanto, porém, foi maior no dia seguinte, quando a Cemat entrou em contato para oferecer o restante do dinheiro que era preciso. Mendes então pôde começar a trabalhar no projeto já no início deste ano. O maestro viajou até o Rio para acertar a utilização da sala Cecília Meirelles, palco de apresentações memoráveis de grande nomes nacionais e internacionais. E não pelo seu glamour, mas pela qualidade acústica que oferecia.

Mendes salienta que "dez entre dez" concertistas do Brasil preferem gravar lá porque é uma sala que tem uma resposta de som perfeita, atestado por especialistas. "Para gravar flauta doce tem que ter um acústica muito boa. A gente vai fazer um trabalho para preservar a qualidade acústica da flauta doce, como se estivesse sendo tocada ao vivo mesmo. Essa vai ser a maior preocupação nossa", justifica.

Segundo ele, as músicas foram escolhidas e os arranjos feitos. A orquestra e o coral estão agora na fase de ensaio. "Vamos passar o Carnaval inteiro ensaiando", garante Mendes. O repertório trará, na parte erudita, composições de Johannes Brahms, Georg Friedrich Haendel, Johann Sebastian Bach, Wolfgang Amadeus Mozart (este com três músicas) e o brasileiro Heitor Villa-Lobos. Na parte da Música Popular Brasileira (MPB), estão nomes como do maestro Tom Jobim, Toquinho e do mato-grossense Nelson Timo. Deste último, destaca, será gravada "O Menino e o Rio". São duas do Tom Jobim, uma do Toquinho e uma última da Banda de Pau e Corda, do Recife (PE), formada em 1972.

Entre as participações especiais, Mendes destaca a presença da pianista de renome internacional Ruth Serrão. Ela tocará em "Benedictus", da Missa da Coroação de Mozart. O mato-grossense Edmilson Maciel vai gravar como solista em "Lágrimas de Prata" (Sergio Andrade - Waltinho), da Banda de Pau e Corda. Em "Bachianas", de Villa-Lobos, haverá a contribuição de um percussionista. "A preocupação nossa é que fossem pessoas renomadas", frisa o maestro.

Mendes acrescenta que o coral do Instituto Flauta Mágica não participará em todas as músicas. Vai fazer "Falando de Amor", de Tom Jobim, "O Caderno", de Toquinho, e "O Menino e o Rio", de Nelson Timo.

Ao todo, calcula, estarão envolvidas no projeto de gravação cerca de 70 pessoas. São 56 músicos - 40 da orquestra de flautas e 16 do coral, com idades que vão de 12 a 21 anos -, os músicos convidados, técnicos, assistente, diretor.

Reconhecimento - Gilberto Mendes considera este um momento sem par na história do Instituto. E olha que o grupo participou do XX Orchestrades Universelles, na França. Apresentou-se na igreja Saint Martin para um público superior a 1.200 pessoas, com uma platéia formada também por dezenas de maestros de várias partes do mundo. A grandiosidade do projeto está no sentido de dar visibilidade a um aspecto que muitas vezes fica em segundo plano quando se fala no Flauta Mágica.

Além do lado social, evidentemente muito importante, o instituto tem um outro, o cultural. E este acaba sendo ofuscado pelo primeiro. O disco vai possibilitar que as pessoas atentem para a qualidade musical e artística do grupo. "O que se tem mostrado a respeito do Flauta Mágica até hoje? O lado social. É a criancinha no barraco, pé no chão, flautinha na mão. O disco, para nós, é uma forma de mostrar que nós não somos apenas isso. Nós temos um produto e eu vou me desdobrar para que esse produto tenha realmente qualidade. E que traduza o que os meninos realmente sabem fazer. E aí mostrar para o mundo", diz.

Para isso, Mendes já pensou numa estratégia de distribuição que faça o produto chegar a várias partes do país e exterior. "Estamos construindo uma loja virtual no site e também vou procurar fechar com empresas, para que dêem os nossos produtos como brindes", sugere. Serão produzidos dez mil CDs.

O maestro revela que há inclusive uma turnê sendo formatada. "Nós já fechamos com a Canarinho Tur, que vai fazer essa viagem com a gente para o Rio, que em julho vamos realizar uma turnê por algumas cidades como Curitiba (PR), a Capital brasileira da flauta doce", conta.

Mendes pensa ainda em registrar a história do projeto Flauta Mágica em livro. A idéia surgiu do poeta e advogado Nelson Timo. Para ele, esta é uma grande oportunidade para escrever uma obra que relate a história do grupo. "Não foram poucas as realizações e não foram pequenas", argumenta o maestro. Mas esse seria um outro projeto, cujos recursos o instituto ainda não tem. Poderia vir, por exemplo, do poder público que, segundo ele, não tem apoiado tanto o projeto como poderia.

O reconhecimento, pelo menos, ele já conseguiu. Em setembro de 2001, após um trabalho de pesquisa no Brasil, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconheceu o Flauta Mágica como projeto cultural modelo. Além disso, é uma iniciativa premiada pelo Criança Esperança.





Fonte: A Gazeta

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