Disputa por liderança na Câmara reflete divergências

A disputa pela liderança do PT na Câmara refletiu hoje (07) as divergências internas do partido, com o confronto entre o Campo Majoritário, moderado, e as tendências de esquerda e independentes, que lutam por mais espaço na legenda. Na noite de ontem, os deputados ainda discutiam o nome do novo líder, mas a tendência era que um acordo desse a liderança a Luiz Sérgio (RJ), apoiado pelo Campo Majoritário, grupo formado, entre outros, pelo ex-ministro e deputado cassado José Dirceu, pelo presidente do partido, Ricardo Berzoini (PT-SP), e pelo ex-ministro e deputado Antonio Palocci (PT-SP).

Para garantir a escolha de Luiz Sérgio, deveriam desistir da disputa outros dois candidatos, os pernambucanos Maurício Rands, também integrante do Campo Majoritário, porém mais independente, e Fernando Ferro, da tendência Movimento PT. A negociação girava em torno da garantia de que Rands assumirá a liderança no ano que vem e de que Ferro assuma a presidência de uma das comissões permanentes que caberão ao PT.

A candidatura de Rands tinha a simpatia dos deputados ligados ao ministro Tarso Genro, que lidera, dentro do partido, um movimento para a criação de um novo campo político no comando do PT. Ferro apresentava-se como o candidato alternativo ao Campo Majoritário.

Embora a tendência fosse de se fechar o acordo em torno de Luiz Sérgio, Fernando Ferro protestava, no início da noite de hoje: "Ainda não combinaram comigo. O Campo Majoritário insiste em uma hegemonia que não leva a um bom caminho."

Ele insistia que um acordo deveria incluir "a distribuição de responsabilidades na bancada e uma nova dinâmica nas comissões e no plenário, valorizando as vice-lideranças". Na prática, Ferro reivindica um rodízio entre os parlamentares que falam em nome do PT e cargos relevantes nas comissões.

A escolha de Luiz Sérgio é mais uma vitória de José Dirceu que, embora fora da vida parlamentar, tem voz ativa no PT e foi uma figura importante na eleição do petista Arlindo Chinaglia (SP) para a presidência da Câmara, em vitória sobre o governista Aldo Rebelo (PC do B-SP).

Já na tarde de hoje, Rands anunciava a "inclinação" a aceitar um acordo com Luiz Sérgio. Com a escolha do deputado do Rio de Janeiro para substituir o atual líder, Henrique Fontana (RS), saem vitoriosos deputados ligados a José Dirceu e que trabalharam diretamente na campanha de Chinaglia, como Cândido Vaccarezza (SP) e João Paulo Cunha (SP).

Embora Chinaglia seja integrante do Movimento PT, o presidente da Câmara disse ontem que não se envolveria na disputa pela liderança. "Não tenho candidato", despistou, ao deixar a reunião da manhã. À tarde, Chinaglia chegou a brincar com Luiz Sérgio, a quem chamou de novo líder, durante a sessão no plenário. O presidente da Câmara cumprimentou o deputado do Rio pelo novo cargo, mas Luiz Sérgio desconversou. "Ainda preciso do seu voto", respondeu a Chinaglia.