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Cultura
Quarta - 07 de Fevereiro de 2007 às 06:12
Por: Patrícia Villalba

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Fred Astaire das artes marciais e chinês mais importante do século 20 são apenas duas das diversas maneiras de definir e enaltecer o mito Bruce Lee, talvez a figura mais influente do cinema asiático e responsável pela "descoberta" das artes marciais pelo Ocidente. E a justificativa para cada uma delas está detalhada no livro Bruce Lee Definitivo (80 págs., R$ 27), um volume generosamente ilustrado que a Conrad acaba de mandar para as livrarias, mais um dos títulos do seu catálogo ligado ao Oriente, que agradam a um público fiel da editora. Escrito pelo jornalista Marco Antonio Lopes, o livro revela, especialmente para as novas gerações que ficam vidradas na frente de cenas de luta, como um garoto encrenqueiro e hiperativo de Hong Kong se tornou o herói que viu a fama de invencível correr o mundo até virar mito - para alguns, um Che Guevara, um Pelé.

"Até Bruce Lee aparecer, as artes marciais tinham um heroizinho aqui e outro ali. A Ásia sempre produziu filmes de luta, mas ninguém tinha visto tanta plasticidade na aplicação dos golpes. E até hoje não apareceu outro como ele", anota o autor. Antes de Bruce Lee, lembra Lopes, os filmes de luta costumavam descambar para o pastelão - um pouco de farinha de trigo, e seriam Os Trapalhões.

Mas o lutador que se esforçava para ser ator se sentia tão incomodado com isso que acabou convencendo produtores e diretores a filmar do seu jeito. E que jeito. As câmeras de cinema da época mal conseguiam captar os movimentos do aprendiz de ator que parecia voar. A técnica vinha do berço e, por incrível que pareça, da ópera. O pai de Bruce, Li Hoi Cheun, era ator da Ópera de Pequim, que sofreu influência das artes marciais.

Um dos três sobreviventes do massacre do templo Shaolin, ocorrido por volta de 1760, resolveu ensinar a técnica de luta para os atores da companhia, para preservar a tradição, e eles passaram a reproduzir os saltos, golpes e chutes no palco, uma tentativa de denunciar a violência praticada pela dinastia Ching. A tradição não morreu, como se sabe, mas só seria massificada em escala mundial com a chegada de Bruce Lee.

O "pequeno dragão", um apelido de infância dado pela irmã Agnes, nasceu no bairro de Chinatown, em São Francisco, em 27 de novembro de 1940, por causa do trabalho do pai, que na época excursionava pelos Estados Unidos com a companhia de ópera. Mas voltaria ao seu país natal somente aos 18 anos, uma viagem forçada, castigo de Li, que não agüentava mais as confusões aprontadas pelo filho baderneiro - Bruce costumava desafiar os colegas de escola. Saiu de Hong Kong com apenas US$ 115 dólares.

"Vá com esse dinheiro e vença na vida", disse o pai. Nos Estados Unidos teve vários subempregos típicos de imigrantes, mas não deixou de treinar kung fu e estudar filosofia - numa mão segurava os halteres, na outra, o livro. Em agosto de 1964, foi descoberto num festival de artes marciais em Miami por um funcionário dos estúdios Warner e foi parar na TV, como o motorista Kato do seriado Besouro Verde.

"Ele perseguiu uma carreira no cinema obstinadamente, porque logo percebeu que essa seria uma maneira de disseminar as artes marciais no Ocidente", analisa Lopes. Depois que o seriado acabou e enquanto não conseguia coisa melhor em Hollywood, Bruce Lee montou uma escola em Los Angeles, e colecionou alunos notáveis, como Chuck Norris, Steve McQueen e o diretor Roman Polanski. Fora os famosos, as classes ficavam cheias de anônimos, que vinham aprender a técnica fantástica de desafiar as leis da física.

Mas essa popularização do kung fu e outras técnicas milenares de luta do lado de cá do globo não agradava aos mestres tradicionais, muito menos os chefões da máfia chinesa que chegaram a ameaçar Lee. É nessa implicância dos chineses mafiosos que está o surgimento de um dos maiores mistérios do meio cinematográfico. Bruce Lee, como se sabe, morreu jovem e no auge, aos 32 anos, e numa situação um tanto estranha, depois tomar um analgésico, que poderia ter-lhe provocado um edema cerebral.

Até hoje, muita gente se recusa a acreditar que um comprimido tenha tombado o herói e prefere pensar que a máfia o assassinou. Bruce Lee Definitivo opta pela versão oficial do caso. "Não sei, realmente, se alguém pode morrer por tomar um analgésico. Mas o fato é que Bruce já havia tido alguns desmaios e sentia fortes dores de cabeça, provavelmente causadas pelos golpes que levou", argumenta Lopes. "As pessoas próximas a ele não acreditam na teoria da conspiração. Mas, sabe como é, a versão conspiratória é sempre mais instigante."

Para escrever o livro, o autor investigou jornalisticamente a técnica de luta do mestre, não só lendo O Tao do Jeet Kune Do - livro no qual Bruce Lee descreve minuciosamente o estilo que criou, e que foi lançado em 2003 no Brasil também pela Conrad -, mas também freqüentando aulas em academias de kung fu, onde o mito é cada vez mais cultuado. Queria entender o gênio, descobrir o que o tornava um lutador tão especial.

"Ele não fazia movimentos desnecessários, os golpes eram precisos. Na hora de transportar isso para o set, desenhava todas as cenas antes, com uma riqueza impressionante de detalhes. Ali, já estava previsto que daria tal golpe, que o sujeito cairia de tal jeito etc. Depois, repetia isso no set quantas vezes fosse necessário", conta o autor. "Quando em alguma cena precisava parecer estar levando a pior, simulava arranhões e machucados em lugares estratégicos, justamente onde estariam se fossem resultado de uma luta de verdade. Até nisso ele pensava."




Fonte: A Gazeta

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