Programação regional quer reviver os antigos bailes

A programação deste ano em Cuiabá mostra que o Carnaval tradicional, aquele das marchinhas, continua bem vivo. Isso graças ao trabalho de bandas como a Coração Cuiabano, da coordenação do Centro Cultural Casa Cuiabana e da Prefeitura Municipal. A primeira foi criada em 2005 com o objetivo de fazer esse resgate; o segundo, depois de realizar vários bailes de máscaras, prepara agora seu Baile à Fantasia, e a terceira promoverá o Baile da Cidade no tradicionalíssimo Clube Feminino, nos moldes dos que aconteciam no local há algumas décadas, além do Corso.

A banda carnavalesca Coração Cuiabano, que vem animando a população com seus concorridos ensaios, sempre às sextas-feiras, em algum ponto da região central da cidade, é um bom exemplo desse sentimento. Foi criada por um grupo de foliões das antigas que sentiram a falta do espírito dos carnavais de outrora. Segundo seu presidente, Márcio Frederico Cunha de Arruda, de 63 anos, é também uma forma de dar opção às pessoas da chamada Melhor Idade, geralmente esquecidas nesta época.

O interessante é que, cada vez mais, os jovens estão se rendendo à tradição. Onde a banda Coração Cuiabano toca, a quantidade que pára para ouvir e dançar é cada vez maior. Eles puderam ver isso, por exemplo, no Carnaval do ano passado, a primeira vez em que saíram. Não havia quem não se entusiasmasse com suas marchinhas, marchas-rancho, sambas e frevos. "O autêntico e verdadeiro carnaval é esse. Não é questão de saudosismo, é questão de você valorizar culturalmente", diz.

Para este ano, a banda escolheu umas 40 canções, muitas delas clássicos dos salões, como "Lata D"água", "Falam de Mim", "Tristeza", "Trem das Onze", "Maracangalha", "Jardineira", "Cidade Maravilhosa", "O Teu Cabelo não Nega", "Índio Quer Apito", "Taí" e muitas outras. "Você vai tocar o que? Tem décadas que não se produz música de Carnaval, só samba-enredo. Acabou esse espírito. Você vê que o Rio está tentando fazer voltar esse carnaval, colocando bandinhas nas praças", informa Arruda, lembrando que o desfile das escolas cariocas virou mesmo produto para turista.

Com uma diretoria completa e o carnavalesco Joãosinho Trinta como presidente de Honra, a banda conta com um time de músicos dos mais experientes e tradicionais, como Bolinha, Dito Twist, Major Cláudio, Tenente Sabiá e Kalu. Além deles, muitos outros comporão o grupo para este Carnaval. Ao todo, serão 22 componentes. Eles tocam trombone, pistom, sax, dois são cantores e há ainda uma "cozinha" de respeito, com percussionista, baterista e contrabaixista.

Quem quiser conferir o trabalho da Coração Cuiabano pode fazê-lo no próximo ensaio, que acontece no dia 09, na praça da Mandioca (Centro Histórico), e no Baile da Cidade, no Clube Feminino, no dia 10. Senão, é só comparecer à Praça 8 de Abril (do Choppão) de 16 a 20 que eles estarão lá com seu trio elétrico.

Charme - Os bailes de Carnaval antigos eram, acima de tudo, charmosos. Os foliões usavam máscaras e fantasias, cuidadosamente preparados para a ocasião. E a Casa Cuiabana tem trabalhado no sentido de manter essa tradição. Depois de quatro anos organizando bailes de máscara - que, por sua vez, remetem ao ancestral carnaval veneziano -, o centro cultural realiza, no dia 09, a partir das 21h, o seu Baile à Fantasia. De acordo com os coordenadores do local, a idéia é fazer como antigamente mesmo, com concurso de fantasia e de folião mais animado.

A trilha sonora ficará por conta do "santo de casa", a banda 100% Cultura, que tocará marchinhas, sambas-enredo e sambas tradicionais de carnaval. E quem quiser conferir o som do grupo pode participar do ensaio aberto, que deve acontecer na terça ou na quinta-feira. Para o baile, as mesas custam R$ 30,00 e o convite individual R$ 10,00. Mais informações pelo telefone 3613-9236.

Descentralização - O secretário Municipal de Cultura Mário Olímpio revela que a programação de Carnaval de Cuiabá também dá uma atenção especial à tradição. Segundo ele, na verdade, o ponto chave do calendário são o multiculturalismo e a descentralização, seguindo uma tendência já adotada por cidades como Recife (PE). Lá, os ritmos locais dividem espaço com todas as tendências, transformando o Carnaval num festival cultural bem variado, lembra.

Olímpio informa que a programação começa no dia 09, com baile da escolha da Rainha do Carnaval, no Clube Feminino (onde hoje funciona a secretaria). No dia 10, acontece o Baile da Cidade, este voltado principalmente para o público da Melhor Idade, numa parceria com a Associação Brasileira da Melhor Idade. No dia 16, o tradicional Corso segue pelas ruas do centro. Sairá da praça Alencastro e só pára mesmo na praça 8 de Abril (do Choppão), onde a banda Coração Cuiabano anima os foliões.

Já dentro do que ele considera um grande movimento de descentralização, vem o Carnaval dos Bairros, experiência que deu certo no ano passado e atende a pedidos da própria população. Só que com uma boa ampliação. Em 2006, foram seis pontos, este ano serão dez pontos, nos bairros Pedra 90, Osmar Cabral, Tijucal, Parque Cuiabá, Planalto, CPA 2. Guia, Morada do Ouro, Jardim Vitória, Lixeira e Porto. Sem contar com a praça 08 de Abril, salienta.

A expectativa é de juntar, cumulativamente, mais de 130 mil pessoas, o que torna esse o maior evento de cultura popular de Mato Grosso, analisa o secretário.

Na "avenida do samba" (Beira-Rio), acontecem os desfiles dos blocos e escolas de samba. Este ano, serão onze blocos do Grupo A e provavelmente mais oito do Grupo B - o que dá um aumento de 100% - e uma escola, a Império do Sol.

Para fechar, ele ressalta que, no Clube Feminino, o Grito Rock faz a alegria de quem não está nem aí para a folia, pelo menos a carnavalesca. A programação traz música, teatro, audiovisual, hip hop e grafite. Serão diversas atividades permanentes acontecendo simultaneamente, resume Olímpio.