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Cultura
Segunda - 29 de Janeiro de 2007 às 05:59
Por: Luiz Fernando Vieira

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Para se tornar um ator mais completo, a pessoa precisa, além de talento, de uma série de ferramentas que o possibilitem interpretar qualquer tipo de personagem, seja ele dramático ou cômico. E uma técnica em especial tem lugar de destaque nesse trabalho de instrumentalização do ator: é a do Clown. Ela vai muito além do que a tradução pura e simples da palavra de origem inglesa pode suscitar -quer dizer palhaço em português. É o que explica a atriz Juliana Capilé que, juntamente com Tatiana Horevicht, desenvolve de amanhã até sexta-feira (dia 02) a oficina Aprendiz de Clown, no Sesc Arsenal.

Mas o que é esse tal de Clown, afinal? Juliana explica que a figura pode até se parecer com um palhaço, mas se trata de algo mais complexo do ponto de vista teatral. Destaca-se do palhaço que bem conhecemos por ser uma técnica mais refinada. Como exemplo, a atriz cita o clássico personagem de Charles Spencer Chaplin, Carlitos. Quem conhece os filmes do diretor e ator inglês sabe que ele não fazia somente "palhaçadas". A figura podia viver tanto situações hilariantes quanto dramáticas sem perder o seu aspecto um tanto cômico.

De acordo com Juliana, o Clown é um personagem completo, é sempre aquele que faz as coisas mais diferentes, que enfrenta situações diversas. Trabalhá-lo num ator o deixará mais preparado para enfrentar melhor qualquer que seja o desafio que o tablado lhe impinja. O ator passa a ter muito mais possibilidades. A técnica é uma profunda pesquisa que busca desenvolver a potencialidade de ator numa relação com o público, no desafio de estar diante do outro. Os progressos são certos e muitas empresas hoje se valem da técnica para o treinamento de seus quadros.

As cenas de Clown são construídas a partir da realidade das pessoas normais em suas atividades rotineiras. A lógica é descobrir pessoas e situações que possam ser caricaturadas. Os traços marcantes das pessoas e situações são ampliados de forma ingênua e ridícula, passando a fazer parte de um mundo paralelo e semelhante ao comum, com a diferença de que o mundo do Clown é um mundo de fantasias onde tudo é possível.

As pessoas não sabem, mas admiram o trabalho do Clown já há muito tempo. No cinema, por exemplo, ainda no início do século 20 o francês Gabrielle Leuvielle, cujo pseudônimo era Max Linder, consagrou-se como o primeiro desses personagens no cinema. Ele, que também dirigia e atuava em seus filmes, foi a grande influência de Chaplin, quer por sua vez influenciou uma legião de outros. Juliana cita como exemplos de Clowns mais contemporâneos os comediantes Jerry Lewis e Mister Bean.

Quanto à origem da expressão, existem várias explicações. A palavra palhaço, dizem, viria do italiano "paglia", a mesma palavra usada para se referir ao tecido utilizado para revestir colchões. Também era assim a primitiva roupa desse personagem, complementada por suspensórios e paletós desengonçados, além de sapatos maiores que o habitual. A palavra Clown tem sua origem na língua inglesa no vocábulo "clod", que é bastante antigo e se refere ao meio no qual vive o camponês, a terra e a ele próprio.

O curso - O trabalho com o Clown não é exatamente uma brincadeira. Ao contrário, pode ser uma experiência profunda e extremamente marcante, onde o ator fará um mergulho e se confrontará consigo mesmo. De acordo com Juliana, ele tem a capacidade de realmente soltar as travas, libertar a pessoa de empecilhos que não a deixem livre para atuar, para ser outra pessoa, com todas as suas diferentes formas de pensar, agir e se portar.

A atriz explica que o curso é direcionado a pessoas que tenham uma certa bagagem porque é mais aprofundado. Juliana e Tatiana partirão para um trabalho de continuidade na formação do ator. Os benefícios, garantem, vão desde uma maior capacidade de criar situações até uma maior concentração e atenção em cena. Durante a oficina serão realizados jogos de improvisação e dinâmica de grupo, para a reversão de dificuldades em potencialidades pessoais.

As ministrantes - A diretora, atriz e dramaturga Juliana Capilé e a diretora, atriz e preparadora corporal Tatiana Horevicht, da Cia. Pessoal de Teatro, já são bem conhecidas do público mato-grossense. Juliana é de Cuiabá e fez parte do Grupo Folhas de Teatro. Em 1990 mudou-se para Curitiba, para estudar na Faculdade de Artes do Paraná, no Curso de Licenciatura em Artes Cênicas. Lá trabalhou no projeto Piá e participou de oficinas de cinema e teatro. Retornando para Cuiabá, trabalhou como produtora e diretora de estúdio.

Após um ano de trabalho foi para Belo Horizonte participando da criação e fundação da Associação de Curta Metragistas de Minas Gerais, a Curta Minas, tendo na seqüência obtido ingresso no Curso de Cinema de Havana-Cuba e Curso de Cinema Casa Amarela -Instituto Dragão do Mar Fortaleza, Ceará. Depois ingressou na Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP, na primeira turma do Curso de Direção Teatral.

Montou a Cia Pessoal de Teatro, tendo produzido e apresentado peças em Minas Gerais, inclusive no Teatro do Sesc Arsenal. De volta a Cuiabá, começou sua construção profissional, "para trabalhar a universalidade da cultura do nosso território".

Tatiana é de Cascavel (PR), estudou Faculdade de Artes do Paraná, no curso de Licenciatura em Artes Cênicas. Desenvolveu trabalho no Projeto PIÁ - Arte na Periferia, com ênfase em dança. Trabalhou no Teatro de Bonecos da Fundação Cultural da Prefeitura de Curitiba. Estudou Dança Flamenga no Instituto Brasil Espanha. Em Minas Gerais cursou no Palácio das Artes, Fundação Clóvis Salgado, o Curso Profissionalizante de Ator, tendo cursado Dança Moderna nesta mesma Instituição.

Trabalhou em Belo Horizonte com performances circenses, após uma trajetória de formação com o professor Marcelo Bones. Ingressou em 2000 na Universidade Federal de Ouro Preto - Ufop, tendo contribuído na formação da Cia. Pessoal de Teatro, da qual é diretora do espetáculo Primeira Pele. Trabalhou como preparadora corporal de várias encenações em Ouro Preto. Dirigiu também o espetáculo Criadouro, encenado num antigo casarão de Ouro Preto, tendo Daniel Furtado como orientador de formatura.

Serviço - A oficina, que será desenvolvida no horário das 18h às 21h, tem vagas limitadas. Informações podem ser obtidas pelo 3616-6900 -Sesc Arsenal Rua Treze de Junho, s/ nº - Porto.




Fonte: A Gazeta

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