Petista desafia ''ricos'' a concluir Rodada Doha
A alternativa ao acordo, segundo Lula, seria o conflito. "O que a gente não gasta num acordo comercial, a gente gasta depois numa guerra como a do Iraque, uma guerra sem fim."
O presidente acredita que o caminho para "evitar o terrorismo e o crescimento do crime organizado" é a rodada de Doha, que pode ser "a esperança de milhões de seres humanos que aguardam um gesto nosso [dos líderes mundiais]".
Tanto Lula como o chanceler Celso Amorim, que é o negociador-chefe do Brasil na área comercial, acham que as diferenças que separam os atores da negociação são pequenas demais para justificar o impasse, ainda mais tão prolongado.
"Raras vezes vi negociações comerciais estarem tão próximas de um resultado e, ao mesmo tempo, terem tantas dificuldades", disse Amorim.
Lula se disse disposto a voltar a falar com líderes com os quais já conversou a respeito, citando George W. Bush, a alemã Angela Merkel, o francês Jacques Chirac e até o chinês Hu Jintao.
Ontem, Lula conversou com o primeiro-ministro britânico Tony Blair, que, à saída do encontro, relatou idêntico esforço. Telefonou para Bush e para Merkel e de ambos ouviu garantias de que estão empenhados em destravar a rodada.
Lula estendeu o esforço aos empresários, aos quais discursou pela manhã: "Queria dizer a todos vocês que têm relações com os governos dos países importantes do mundo como é importante que os empresários participem ativamente no convencimento dos governantes de que é preciso acontecer um acordo na Rodada de Doha".
O presidente repetiu o que tem dito desde o ano passado: o Brasil está disposto a fazer a sua parte, abrindo indústria e serviços, como pede o mundo rico, em troca de concessões na agricultura de EUA e União Européia. Mas a abertura seria de forma proporcional. "Na agricultura brasileira, ainda temos 25% da população, na Europa tem 1%. Não dá para ser igual."
A portas fechadas, Lula discutiu a rodada com a cúpula do Fórum Econômico Mundial e outros governantes, como Blair e o sul-africano Thabo Mbeki. Todos se mostraram dispostos a fechar o acordo, o que levou o ministro Celso Amorim a brincar: "É melhor então afastar os negociadores e pôr os governantes à mesa da negociação".
Se a brincadeira de Amorim fosse levada a sério, Lula diria mais ou menos o seguinte a seus pares, conforme ele próprio comentou aos jornalistas: ele próprio e Bush não podem mais se eleger, Blair está para deixar o cargo. "Então, que legado vamos deixar para o mundo nesta questão do comércio?" A resposta é óbvia: a liberalização comercial decorrente da Rodada Doha, que é, nas contas de Blair, três vezes mais abrangente do que a negociação anterior, batizada de Rodada Uruguai, encerrada em 1994.
Mas, como a brincadeira não passará disso, os negociadores é que voltam, hoje, a tentar esquematizar um acordo, no bojo de uma reunião mini-ministerial, em Davos. O encontro deve reunir representantes de cerca de 30 países para discutir a retomada das negociações da Rodada Doha.
Se dependesse só de Lula e, por extensão, dos negociadores brasileiros, a rodada "seria destravada até o mês de abril".
O presidente disse que não está preocupado com o Brasil, porque o país "é competitivo em várias áreas, sobretudo na agricultura". E acrescentou: "Mas, se quisermos dar um sinal aos países mais pobres do planeta de que eles vão ter chance no século 21, é preciso que os países mais importantes assumam a responsabilidade de pactuar esse acordo".
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