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Cultura
Quarta - 24 de Janeiro de 2007 às 05:19
Por: Ubiratan Brasil

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John North é um escritor de sucesso, pois é o virtual vencedor do mais importante prêmio literário americano - seu mais recente romance, publicado em vários países, é sucesso de crítica e público, e em breve ganhará versão cinematográfica. Também mantém uma vida equilibrada com a mulher, Lydia, médica renomada e esposa dedicada. Mas, mesmo cercado de felicidade, North está em crise. E é sobre esse momento delicado que trata o romance Naufrágio, de Louis Begley, que a Companhia das Letras lançou recentemente (240 págs., R$ 43).

Begley nasceu na Polônia, em 1933, quando foi registrado como Ludwik Begleiter. Trocou de nome quando emigrou para os Estados Unidos, após a 2ª Guerra. Formou-se em Direito pela Universidade de Harvard, onde foi colega de classe do também escritor John Updike. Só estreou na literatura aos 57 anos, com A Infância da Mentira, editado no Brasil, assim como o restante de sua obra, pela Companhia das Letras.

Seus livros seguem uma linha pungente, reflexiva, mas não se trata de uma literatura piedosa, tampouco cruel - Begley oferece uma visão profundamente compreensiva da natureza humana. Em sua crise, John North coloca em dúvida sua própria capacidade criativa, suspeitando dos elogios que recebe da crítica. Atormentado pela insegurança, ele conhece, em Paris, Léa Morini, encantadora jornalista por quem tem atração quase imediata.

Disposto a evitar que a mulher desconfie de seu caso, North se equilibra em uma vida dupla, fato que ele narra para um desconhecido em um bar, o que torna Naufrágio uma longa confissão. Sobre o romance, Begley falou em entrevista.

- É possível que John North esteja falando consigo mesmo e não com um interlocutor sem nome?

- Esta é uma possibilidade bem possível. Ele é um novelista. Pode ser que esteja compondo um romance enquanto fala. Eu deixei, muito conscientemente, para o leitor a decisão se o narrador do livro é um ouvinte desconhecido que reconta a história que ouviu de um estranho que conheceu em um bar, ou se John North foi quem inventou o ouvinte sem nome para poder contar sua história.

- É difícil é escrever um monólogo?

- Escrever qualquer coisa é difícil. Eu, pelo menos, acho isso. Sou um perfeccionista, então, preocupo-me com cada palavra, cada frase, cada parágrafo. Mas, contanto que se encontre o tom de voz apropriado, escrever o monólogo não é mais difícil que escrever diálogos normais. Por isso, entenda-se que tenho plena consciência de como John North deve falar, e também de cada diferente tom de voz que usa dependendo das interjeições de seu interlocutor, que ocasionalmente fala com ele. Eu diria que eu tive esta idéia quando li um grande poema de Samuel Taylor Coleridge, The Rime of the Ancient Mariner, que nada mais é que um monólogo em que há um ouvinte passivo, quase silencioso, mas ostensivo ouvinte/narrador.

- Quando o personagem principal de uma história é um escritor, não há como não ser tentado a perguntar: como não confundir Louis Begley com John North?

- É verdade! Eu acho que o leitor inevitavelmente procura pelo escritor, por rastros deixados pela biografia do escritor, no protagonista de um romance. Acaba virando uma perseguição de gato e rato. No entanto, North explica cuidadosamente para a jornalista com quem ele tem o affair fatal o romance que está escrevendo: "meu novo romance, exatamente como seus irmãos e irmãs, é autobiográfico em um sentido: é feito de coisas que a vida depositou em mim. Mas minhas novelas não são sobre mim, e nenhuma delas é a história da minha vida."

- John North parece deixar claro que uma de suas maiores preocupações é sua perda de fé e confiança em seu próprio trabalho. Isso aconteceu com você também?

- Eu estou sempre muito preocupado com meus livros enquanto os escrevo. Eu sempre continuo reescrevendo-os. Então, depois de terminá-los, eu começo a me familiarizar com eles, como se eu nunca os tivesse visto antes. Se parecem bons, eu os envio ao meu publisher e, a partir daí, mantenho minha fé neles.

- Em que você está trabalhando atualmente?

- Minha mais nova história, Matters of Honor, acaba de ser publicada nos Estados Unidos e vai ser publicada na Alemanha em fevereiro. Eu não comecei outro livro ainda, apesar de que isso vai acontecer certamente. Atualmente, eu estou escrevendo uma pequena biografia, na verdade é um ensaio, sobre Franz Kafka.




Fonte: AE

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