Comandante da PM quer extinguir Polícia Comunitária
"Com certeza, o comandante geral da PM vive num condomínio fechado ou em um edifício com segurança reforçada, além de ter os policiais militares que exercem a função de guarda-costas, não necessitando, portanto, de ter uma Companhia Comunitária nas imediações de sua residência", critica o presidente da Ucamb, Édio Martins de Souza. "Não vamos aceitar que as companhias de Polícia Comunitária acabem de forma ditatorial, numa “canetada” de quem não conhece seu funcionamento", protesta Matheus Magalhães, presidente da Univab.
Além disso, o modelo não pode ser encerrado por uma simples portaria, como deseja o comandante da Polícia Militar, porque foi criado pela Lei 7.538/2002 e regulamentado pelo decreto 4.638/2002. Édio Martins revela que, levantamento da própria PM, demonstra que, nas 15 regiões da Capital e de Várzea Grande em que as Companhias foram implantadas, houve redução de 70% nos crimes contra o patrimônio e de 30% em crimes contra a vida.
Em 2005, durante o Fórum Internacional de Polícia Comunitária, no Centro de Eventos do Pantanal, especialistas dos Estados Unidos, Bélgica, Japão, Canadá, Espanha e Chile vieram até Cuiabá conhecer a forma de funcionamento do projeto. Desses países, somente o vizinho Chile não é considerado de “primeiro mundo”, na comunidade internacional, embora tenha a maior renda per capita da América Latina.
Também estiveram no evento especialistas do Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná, Rondônia, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Pará, Tocantins e Maranhão. No mesmo Fórum, a diretoria da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), vinculada ao Ministério da Justiça, classificou a Polícia Comunitária de Mato Grosso como a mais avançada do Brasil, principalmente no quesito custo benefício.
Em Cuiabá, funcionam Companhias de Polícia Comunitária em 12 regiões: Bosque da Saúde, Distrito da Guia, Moinho, Ribeirão do Lipa, Planalto, Pedregal, Jardim Vitória, Lixeira, São Matheus, Santa Izabel, Pedra 90, São João Del Rey e Três Barras. Em Várzea Grande, foram implantadas companhias no Cristo Rei e Jardim Imperial.
O tesoureiro do Conselho de Segurança Comunitária do Moinho, Ronald Muzzi, acusa o novo Comando da Polícia Militar de retroceder à década de 70, quando a PM não tinha diálogo com a comunidade e, em muitas situações, abusava da violência justamente por não ouvir a comunidade. "É imprescindível, para o bem-estar da população, que as companhias continuem funcionamento", pede Muiz.
"Caso sejam extintas as Companhias, Mato Grosso estará jogando pelo 'ralo' mais de R$ 3 milhões em investimentos destinados ao modelo, nos últimos três anos, no Estado, em parceria com a União", reclama a vice-presidente do Conselho de Segurança Comunitária do Jardim Vitória, Maria das Graças Santos “Chica do Paiaguás”, que engloba 17 bairros.
O presidente do Conselho de Segurança Comunitária do Bosque da Saúde, José Clemente, acredita que o novo comandante geral da PM está equivocado.
A decisão do Comando Geral de Polícia Militar de extinguir as companhias, segundo Claudir Santos Rocha, o 'Chico Leblon', representa uma afronta às comunidades e à inteligência da população. "Quer dizer que policias dos Estados Unidos, Canadá, Japão e de vários outros estados estão errados e o comandante da PM, sozinho, está certo? Isso não tem cabimento", ataca Chico Leblon.
"O comandante da PM deveria ter a humildade de ouvir a comunidade antes de tomar qualquer decisão sobre o tema", aponta Eunice Monteiro da Silva, presidente do Conselho de Segurança do Moinho, que atende 14 bairros.
Fazem parte, ainda, da luta pela manutenção das companhias comunitárias.
Para o presidente do Conselho de Segurança do Ribeirão do Lipa, Jonail Costa, o comandante Adaildon Moraes está desrespeitando até mesmo a Assembléia Legislativa, porque está passando por cima da lei que criou as companhias. "Se não respeita a lei, não tem condições de comandar uma corporação valorosa", reclama Jonail.
Nesta quarta-feira, às 16h, dirigentes de oito entidades vão se reunir com o secretário de Justiça e Segurança Pública, Carlos Brito, para cobrar uma posição direta e objetiva do governo Blairo Maggi sobre essa questão.
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