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Nacional
Segunda - 15 de Janeiro de 2007 às 03:20

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A operação da Força de Segurança Nacional (FSN) no Rio de Janeiro, cuja tropa chegou neste domingo à capital, vai se estender por 19 pontos nas divisas com outros Estados do Sudeste a partir da quarta-feira e tem como um de seus principais objetivos reprimir a rota do tráfico internacional de armas operada por aliados de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.

Os primerios 300 militares da tropa de elite desembarcaram aproximadamente às 22h30 de domingo na Base Aérea do Galeão. Eles vieram em avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Outros 200 partiram de Brasília em comboio de 52 Blazers e chegaram à capital por volta das 2h desta segunda-feira.

O combate ao tráfico de armas comandado por Beira-Mar se justifica porque traficantes de favelas próximas ao centro da capital são os que mais recebem remessas vindas do Paraguai, segundo levantamento da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae).

Os dados mostram que os morros do Turano, no Estácio; da Mineira, no Catumbi; e dos Prazeres, em Santa Teresa, são os principais "clientes" dos operadores da rota. Segundo investigações da Polícia Federal (PF) e da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai (Senad), a fronteira entre Brasil e Paraguai continua sendo a base da quadrilha de Beira-Mar, atualmente preso na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná.

O levantamento da Drae compreende o rastreamento das 320 armas que saíram ilegalmente do Paraguai e foram localizadas pela polícia do Rio entre março de 2001 e dezembro de 2005. Do total, 12% foram parar nas três favelas, que ficam na área da 6ª DP (Cidade Nova).

Segundo o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, a região sul do Estado, que faz divisa com São Paulo, será a mais patrulhada pela Operação Divisa Integrada, da FSN. "É ponto estratégico em razão das armas que vêm da fronteira com o Paraguai e abastecem os integrantes das facções criminosas. Fechando essa 'porta' fica difícil para eles", avaliou.

O governador de São Paulo, José Serra, partilha da mesma idéia. "O contrabando de armas é decisivo para a ação do crime organizado. Por isso defendo o aumento do efetivo da PF e a ação das Forças Armadas nas fronteiras do País", disse.

Ele e os também governadores Sérgio Cabral (Rio), do PMDB, Aécio Neves (Minas Gerais), do PMDB, e Paulo Hartung (Espírito Santo), do PMDB, formalizaram semana passada, no Rio, o Gabinete de Segurança Pública Integrada entre os Estados, em que fizeram as reivindicações ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Investigações da Polícia Federal e da Civil indicam que a região próxima ao centro da cidade do Rio de Janeiro está na frente do ranking de recebimento de armas contrabandeadas por ser reduto do traficante Luiz Cláudio da Rocha Mero, o Berola, 35 anos. Preso pela PF em julho, ele é homem de confiança de Beira-Mar e um dos principais articuladores da facção criminosa Comando Vermelho (CV).

Ele chegou a ter uma conversa telefônica gravada pela Polícia Civil, em 2005, em que negociava armas do Paraguai com homem chamado Cláudio Fonte, também encarcerado. Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Armas, em Brasília, ano passado, Fonte admitiu que recebia armas e munição do Paraguai.

Segundo a PF, ao ser capturado em Santos, litoral de São Paulo, Berola estreitava o contato entre o Comando Vermelho e a facção paulista PCC (Primeiro Comando da Capital) com o objetivo de comprar armas e entorpecentes para abastecer os pontos de venda de drogas do grupo carioca.

Reunião vai definir operações As ações iniciais da FNS serão definidas hoje em reunião entre o governador Sérgio Cabral, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, o secretário Nacional de Segurança, Luiz Fernando Correia, o comandante da FNS, coronel Aurélio Ferreira e o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame. A reunião será no Palácio Guanabara. Os 500 policiais de elite deverão se apresentar ao governador amanhã.

"Eles vão se deslocar quarta-feira para a Operação Divisa Segura", afirmou Cabral na sexta-feira.

Enquanto não entram em ação, eles ficarão aquartelados no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cefap), em Sulacap. Para eles, foi preparado jantar de boas-vindas com frango, purê de batata, arroz, feijão e queijo.

O embarque da tropa que veio em avião da FAB atrasou. Os militares só deixaram Brasília por volta das 18h porque pneu furou de caminhão que trazia quatro toneladas de bagagem e armamentos dos militares. Os que vieram pela estrada, deixaram a capital às 5h.

Além da FNS, outra estratégia para combater a violência no Rio continua em discussão: o uso das Forças Armadas para patrulhar áreas em torno dos quartéis.

Desvio de quartéis estrangeiros A reportagem mostrou, em julho, que as polícias Civil e Federal do Rio e a Senad paraguaia detectaram a rearticulação da quadrilha de Beira-Mar na fronteira entre os dois países, para enviar drogas e armas para o Brasil.

Em 20 de agosto, a reportagem revelou que arsenal com 228 armas, apreendido dia 11 daquele mês em Pedro Juan Caballero, Paraguai, pela polícia do país, seria enviado para Rio e São Paulo. A PF admite que Beira-Mar pode ter negociado o carregamento de dentro da cela da instituição, em Brasília.

A PF abriu investigação sobre metralhadoras ponto 30, antiaéreas, desviadas do Exército da Bolívia para as mãos de criminosos brasileiros com o objetivo de atacar presídios, traficar drogas e roubar bancos e carros-fortes.

Um quarto das armas que abastecem o crime no País é desviado de quartéis da Argentina, Uruguai e Paraguai. Escutas da PF mostraram dois traficantes, hoje presos, conversando. Um deles afirma que general uruguaio, lotado na fronteira com o Brasil, facilita o transporte de armamento e diz: "Tenho um generalzinho na mão. Ele é que manda. Vai em três, quatro quartéis, e aí...".

Já foram intensificadas as apurações da Comissão Especial de Investigação do Comércio Ilegal de Armas na Fronteira sobre o tráfico de armas na fronteira. Nela, há representantes dos três países, dos chefes das Forças Armadas daqui, dos ministérios da Justiça e das Relações Exteriores, e da CPI das Armas. Pedro Vaz, embaixador do Uruguai no Brasil, informou que denúncias levaram à troca de informações entre instituições brasileiras e uruguaias.




Fonte: O Dia

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