Representante do setor de crédito atribui recorde de recursos na habitação a estabilidade e novas regras
Gonçalves diz que as medidas tomadas nos últimos anos para regulamentar a compra da casa própria foram importantes para dinamizar os financiamentos principalmente os do setor privado, que operam recursos da caderneta de poupança. Ele destaca a criação do patrimônio de afetação, regra pela qual o patrimônio de um empreendimento, como um prédio em construção, tem contabilidade separada da construtora, o que, segundo ele, fornece mais segurança para o mutuário.
O especialista ressalta ainda outras medidas que reduziram os riscos para os agentes financeiros. Cita como exemplo a alienação fiduciária, que mantém a propriedade do imóvel com o banco até o momento da quitação. Com direito apenas ao uso da residência nesse período, o mutuário pode ter o imóvel retomado em até 90 dias em caso de inadimplência.
Outra medida apontada por Gonçalves é a exigência, por lei, de o mutuário continuar a pagar os encargos do imóvel, como condomínio e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), em caso de questionamento do contrato na Justiça. "Antes, muita gente entrava com processo e deixava de pagar despesas que não tinham nada a ver com o financiamento do imóvel", explica.
O desempenho positivo do setor em 2006, no entanto, trouxe uma mudança. A maior fatia dos investimentos no financiamento habitacional deixou de ser do FGTS, apesar do desembolso recorde do fundo de R$ 7,3 bilhões no último ano para o setor. Com movimentação estimada em R$ 9,3 bilhões no último ano, os financiamentos pela caderneta de poupança, concedidos pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), já respondem pela maioria dos recursos.
Na avaliação de Gonçalves, a principal medida que estimulou a expansão do SBPE foi a exigência de os bancos destinarem 65% das captações em caderneta de poupança para financiamentos imobiliários. A obrigatoriedade foi estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 2005.
Ao mesmo tempo, o CMN flexibilizou a norma e permitiu que instituições que financiem imóveis entre R$ 60 mil e R$ 80 mil apliquem um multiplicador sobre esse valor para atingir os 65% exigidos. Na prática, a medida fez com que os agentes financeiros pudessem aplicar recursos da poupança no mercado financeiro e estimulou o financiamento para unidades habitacionais mais baratas.
Os contratos do SBPE destinam-se a mutuários com maior poder aquisitivo. Enquanto os financiamentos pelo FGTS estão restritos a famílias com renda de até R$ 4.900 mensais, o SBPE não opera com limite de renda. Além disso, os recursos da poupança financiam imóveis avaliados em até R$ 350 mil, mais que o triplo do limite máximo dos contratos pelo FGTS (de R$ 100 mil).
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