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Politica Brasil
Sábado - 06 de Janeiro de 2007 às 13:44

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Em surpreendente autocrítica, Lula reconheceu há dois dias que errou na articulação para a escolha do candidato governista à presidência da Câmara. Num diálogo telefônico, lamentou não ter agido, na hora própria, para impedir o surgimento de dois pretendentes ao posto –Aldo Rebelo e Arlindo Chinaglia.

Na última quinta-feira, um governador de Estado alinhado com o Planalto recebeu em seu gabinete dois deputados federais. Em reunião que realizara em meados de dezembro, o governador orientara sua bancada a trabalhar, em Brasília, pela recondução de Aldo Rebelo ao comando da Câmara. "É o nome preferido do presidente Lula", afirmara à época.

Depois de testemunhar, nos corredores da Câmara, a desenvoltura com que Arlindo Chinaglia (PT-SP) se move para prevalecer sobre Aldo Rebelo (PCdoB-SP), a dupla de deputados decidiu voltar, na quinta-feira passada, à presença do governador. Haviam participado da reunião de dezembro. Mas já não estavam tão convictos de que a preferência de Lula recaísse mesmo sobre Aldo.

Um dos deputados relatou ao blog que, durante a audiência, repassou a dúvida ao governador. "Se Lula apoiasse mesmo o Aldo", argumentou, "Arlindo, líder do governo na Câmara, não estaria tão desenvolto". Em resposta, o governador disse que ouvira do próprio Lula a informação de que o governo operaria para reeleger Aldo. "Será que o presidente não mudou de posição?", insistiu o deputado. Intrigado, o governador tocou para o Planalto. Lula o atendeu.

Observado pelos dois interlocutores, o governador explicou a Lula o que se passava. Contou-lhe que tinha diante de si deputados que lhe traziam palavras de dúvida quanto à predileção do governo na Câmara. Foi quando Lula pôs-se a alfinetar a si mesmo. O presidente penitenciou-se, o governador contaria em seguida aos deputados, por não ter sabido impor Aldo ao PT.

Lula disse ao governador que chegara a mencionar à direção do PT o seu desejo de ver Aldo reeleito na Câmara. Alertado sobre a iminência do lançamento da candidatura de Chinaglia, mencionou ao petismo os riscos da repetição do “efeito Severino Cavalcanti”. Mas reconheceu que não impôs nenhum tipo de veto a Chinaglia, embora achasse que, como seu líder, ele devesse ter agido em sintonia com o Planalto.

Em dado instante da conversa, o governador perguntou explicitamente a Lula qual a orientação que deveria repassar aos seus liderados na Câmara. Passou cerca de dois minutos ouvindo a resposta. Depois, despediu-se e levou o telefone ao gancho. Um dos deputados que testemunhava o diálogo não se conteve: "E aí?"

Entre surpreso e desanimado, o governador disse que, segundo o presidente, o governo estaria aferindo a posição dos partidos da base aliada, para verificar quem tem mais chances de vitória, se Aldo ou Arlindo. O que estiver em pior situação será instado a desistir, mediante compensações que o presidente não explicitou. Lula insinuara, disse o governador, que o nome de Arlindo crescera além do esperado. Mencionara que o PL e o PTB haviam indicado ao Planalto a preferência pelo petista. Embora dividido, o PMDB também sinalizara que pende para Arlindo.

Os deputados deixaram o gabinete do governador do mesmo modo que haviam entrado: em dúvida. Foram orientados a continuar trabalhando por Aldo Rebelo. Até segunda ordem. Uma ordem que, esperam, seja dada até o final da próxima semana.

Segundo contou-lhes o governador, o Planalto convocará os presidentes dos partidos que compõe o consórcio governista para perguntar-lhes formalmente qual o candidato mais bem-posto em suas respectivas bancadas. Na conversa com o blog, o deputado que contou o caso relatado acima resumiu o drama com um chiste: "Nunca na história desse país, um governo esteve politicamente tão desarticulado."





Fonte: Folha de S. Paulo

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