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Internacional
Sábado - 30 de Dezembro de 2006 às 20:17

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A execução do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, desejada por muitos e temida por outros, abre um novo capítulo de incertezas e instabilidade no Iraque, país devastado por conflitos sectários desde a deposição do presidente, em abril de 2003. Muitos devem se perguntar "que país nos espera quando terminar a explosão de felicidade dos xiitas e curdos, principais vítimas do tirano?".

Ninguém tem certeza de quais medidas serão tomadas pelo Governo do primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, para conter a previsível reação da comunidade sunita, fiel a Saddam, e evitar que o ex-ditador atinja status de mártir.

Embora a data e a hora da execução - na alvorada da Festa do Sacrifício (Eid al-Adha), a mais importante do calendário muçulmano - pareçam ter sido escolhidas a dedo para acalmar as reações, deverá ser difícil evitar que a figura de Saddam não se transforme em um ícone da luta para os sunitas iraquianos.

Sua morte e, sobretudo, a maneira como ocorreu - enforcado após um duvidoso julgamento no dia do sacrifício - podem transformar o presidente deposto em um símbolo poderoso, e por si próprio capaz de inflamar ainda mais o ódio sunita e a guerra civil no Iraque.

Ainda em vida, Saddam associava sua imagem como sucessor do famoso guerreiro e líder muçulmano Saladino, alvo dos cruzados e líder dos maometanos.

"Para muitos muçulmanos, laicos e religiosos, sunitas e não sunitas, não se trata de um ato de justiça, mas sim de vingança. E no mundo muçulmano, ainda impera com força o ditado olho por olho, dente por dente", afirma um analista iraquiano que prefere não ser identificado.

A prova de fogo será o enterro do próprio ditador, que deverá ser realizado fora do Iraque.

Hamad Humud, governador da província de Salah al Din, onde nasceu Saddam Hussein, revelou hoje à Efe ter entrado em contato com o Governo central, para que o cadáver seja sepultado no povoado de Al Ulya.

Por enquanto, a cidade vizinha de Tikrit, que foi fortaleza do tirano e de grande parte de seus aliados no poder, está em estado de alerta máximo.

As ruas do local estavam hoje, dia do Aid, inusitadamente desertas. Eram visíveis somente as pegadas das botas e os fuzis dos órgãos de segurança do Governo xiita-curdo.

No entanto, ao que tudo indica, a opção escolhida deverá ser atender a exigência da família de Saddam, que deseja enterrar o corpo no Iêmen.

Horas antes do enforcamento, Raghad Saddam, filha mais velha do presidente deposto, expressou o desejo familiar de que seu pai seja enterrado na capital iemenita, Sanaa.

Em declarações exibidas pela emissora de TV por satélite árabe "Al Jazira", Raghad pediu que o Governo do Iêmen "intervenha para que Saddam seja enterrado em Sanaa", de forma temporária, até que "a saída das tropas de ocupação do país", permita que o ex-ditador seja sepultado com honras no Iraque.

"Vai ser um trabalho enorme para o atual Governo tentar apagar a lembrança de Saddam e evitar que ele se transforme, assim como os clérigos xiitas que matou, em um mártir que estimule os confrontos", afirmou o analista.

O presidente deposto do Iraque, que foi aliado do Ocidente e posteriormente se tornou inimigo daqueles que o aceitaram como um muro para conter a influência da revolução iraniana no Oriente Médio, sabia disso.

Antes de subir no cadafalso, altivo e desafiante como foi em todoa a sua vida, enviou uma última mensagem de rebeldia ao povo iraquiano: "Lutem contra o opressor".

Uma frase escolhida com cuidado, e que contém uma clara alusão a quem Saddam Hussein considerava seus verdadeiros adversários, e os reais inimigos do povo iraquiano: os xiitas, transformados pelos sunitas nos novos opressores.





Fonte: EFE

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