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Cultura
Quinta - 28 de Dezembro de 2006 às 08:35

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A cada ano aumenta a quantidade de filmes lançados, e nem sempre a qualidade acompanha esse ritmo. Mas também, a cada balanço de fim de ano constatamos que boas atrações não faltaram e, garimpando, somos capazes de compor uma amostra interessante do que de melhor houve no ano.

Em termos numéricos, os lançamentos se aproximaram dos 400 longas-metragens, dos quais 72 brasileiros. Uma cifra importante de participação nacional que, no entanto, não se refletiu na bilheteria. Apenas a comédia de Daniel Filho, Se Eu Fosse Você atingiu números expressivos, 3,6 milhões de espectadores. Os outros patinaram: os filmes são feitos, mas não chegam ao público. Falta resolver essa equação. E é uma pena que não seja resolvida porque a seleção cinematográfica brasileira não decepcionou como a outra. Entre os títulos colocados à disposição do público, podem-se pinçar, sem dificuldade, exemplares muito bons. A começar por aquele que talvez seja o melhor de 2006, O Céu de Suely, de Karim Aïnouz, que venceu o Festival de Havana, ganhou o Prêmio APCA e consagrou sua protagonista, Hermila Guedes, a atriz do ano no Brasil.

O Céu de Suely vai ao Brasil rural e flagra o modo de vida da gente simples, mas a personagem principal poderia ser qualquer um de nós, com suas aspirações e sonhos a realizar, e sua maneira particular de concretizá-los. A exemplo de outros, é um filme de silêncios, de ambientação e de deslocamento, como se as imensas dimensões do Brasil atraíssem os cineastas e os inspirassem a retratar o movimento interno no País. Também vai por aí Árido Movie, de Lírio Ferreira, filme de estrada à brasileira, que reinventa um sertão com paleta fotográfica inspirada no Cinema Novo. Também o singelo Tapete Vermelho, de Gal Pereira, se ambienta no mundo rural, em terna evocação de Mazzaropi e seu universo cinematográfico.

Pode ser que o filme brasileiro mais emocionante de 2006 tenha sido O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburguer, com sua revisita aos anos da ditadura Médici pelos olhos do menino que apenas deseja ser goleiro e acompanhar a Copa do México em companhia de pai e mãe. A recriação do bairro do Bom Retiro é tocante, com seu retrato da sociedade multiétnica e solidária, um Brasil que poderia ter sido e não foi.

Provavelmente a medalha de mais radical fique com Crime Delicado, de Beto Brant, embora tenha A Concepção, de José Eduardo Belmonte, em seus calcanhares disputando esse título. Acontece que Crime Delicado, adaptado da novela de Sérgio Sant’Anna, é mais redondo e incisivo que A Concepção. Ambos espreitam o subsolo do comportamento e da mente humana, põem em xeque a superficialidade dos bons modos e do politicamente correto. São os filmes de risco, no fio da navalha, sem os quais nenhuma cinematografia anda para frente. Nesse sentido, embora em outra faixa, caminha também a animação de Otto Guerra, "Wood & Stock", sobre os anos loucos de sexo, drogas e rock, em chave não nostálgica e debochada.

Já na radicalidade da ternura, o destaque fica para Eu me Lembro, de Edgard Navarro, um Amarcord baiano que refaz, com toques de ficção, a trajetória de vida do diretor, dos anos 1950 até os 1970. Quando um artista como Navarro recompõe de forma ficcional a sua vida, fala também da nossa, daí a universalidade desse memorialismo áspero e comovente, como é bem o caso de Eu me Lembro.

Dos 72 longas brasileiros lançados, 41 foram de ficção, 30 documentários e uma animação (Wood & Stock). O número é significativo, já a fatia de público conquistado - 12% dos ingressos - deixa a desejar.

O número de documentários deve ser comentado. Trinta títulos, a maioria de boa feitura, mapeando aspectos diversos do País, e um deles excepcional - Estamira, de Marcos Prado -, imersão no universo da esquizofrenia e também das precárias condições sociais da personagem. Destaque para Mamute Siberiano, de Vicente Ferraz, sobre a odisséia cinematográfica de Mikhail Kalatozov, que, na época de aproximação entre Fidel e Kruchev, foi à ilha para filmar o hoje clássico Soy Cuba, incompreendido em seu tempo.

Estrangeiros Quanto às produções estrangeiras, é preciso filtrar sem dó para destacar o que houve de interessante no período. E então surgem as pepitas. Se tivesse de escolher o mais belo filme do ano ficaria com Amantes Constantes do francês Philippe Garrel, estudo em preto-e-branco sobre o legado do maio-1968. O mais intenso seria Volver, de Pedro Almodóvar, com Penelope Cruz e um time de atrizes de tirar o fôlego, dando vida ao solidário universo feminino do cineasta. O mais engajado seria A Criança, dos irmãos belgas Dardenne, que enxergam a violência da questão social sob o verniz da Europa civilizada. E o mais inquietante seria Cachê, que o austríaco Michael Haneke filmou na França, e no qual detecta, como poucos, o mal-estar das relações humanas na afluente União Eu





Fonte: AE

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