Carta de tucano criticando Lembo abre crise com PFL
“Caros amigos”, começa a carta. Farias diz que o governador é “filho legítimo da elite retrógrada, que bajulou o regime militar, Lembo foi um vice inócuo”. Ao atacar o governador, o vereador tem um objetivo: defender o ex-secretário da Administração Penitenciária Nagashi Furukawa e a gestão de Geraldo Alckmin.
O ex-governador havia procurado Lembo e o secretário da Segurança Pública, Saulo Abreu, para tentar abafar a divulgação da investigação feita pelo atual titular da SAP, Antônio Ferreira Pinto, segundo a qual uma “rede de ganhar dinheiro” foi montada na SAP envolvendo ONGs contratadas na gestão Furukawa. Alckmin conversou ainda com Furukawa, para quem chamou de “mesquinha” a atitude de Ferreira.
Com o fracasso da ação para impedir a divulgação, o grupo passou a tentar torpedear a nomeação de Ferreira para o cargo - ele foi confirmado na secretaria pelo governador eleito José Serra. A briga entre tucanos esconde o desejo de parte do partido de ver Alckmin disputar a eleição para a Prefeitura de São Paulo em 2008, enquanto o grupo de Serra aposta na reeleição de Gilberto Kassab (PFL). Ontem, integrantes da cúpula tucana na capital procuraram evitar dar maiores dimensões ao “estrago” feito pela carta de Tião Farias, que demonstra a divisão vivida pelo PSDB em São Paulo.
Em sua carta, no melhor estilo “fogo amigo petista”, Farias afirma que o “grande erro” da indicação de Lembo para vice de Alckmin levou a outros “grandes erros” e diz que a confirmação de Ferreira no cargo por Serra é um desses. “Quero manifestar o meu repúdio à sanha desse senhor (Ferreira) em relação a Furukawa”.
O governador Cláudio Lembo economizou palavras para comentar a carta. Com ironia, disse: “não li e não gostei”. Lembo defendeu Ferreira. “(Essa carta) É uma coisa menor diante de problema tão grande como o (provocado) pelo PCC e do trabalho que foi feito (na SAP).”
O presidente do diretório diz que foi companheiro de Furukawa na gestão de Mário Covas e ser “testemunha da admiração e respeito que o governador devotava a Furukawa”. Segundo ele, o ex-secretário “fez um trabalho excelente” e que ele “sempre demonstrou ser homem íntegro e de espírito público”.
Furukawa foi substituído por Lembo após fracassar em conter o crime organizado nas prisões. Acusado de ser pouco rígido, ele cedeu, por exemplo, à exigência de bandidos de mudar de amarelo para marrom a cor do uniforme dos presos.
Quando assumiu a SAP, Ferreira foi informado por funcionários das irregularidades nas ONGs. Essas prestavam contas à cúpula da secretaria, da qual faziam parte Furukawa e a sobrinha Fabiane Furukawa. Ambos disseram que, se houve irregularidades, elas não têm a amplitude apontada por Ferreira. Seriam, assim, casos isolados.
No relatório do atual secretário, dez ONGs são acusadas desde apropriação de dinheiro público ao pagamento de presos, além de apresentar notas frias. No fim da carta, Farias diz que “se há irregularidade, deve ser apurada”, mas que não poderia “reagir com naturalidade diante da ação truculenta de Ferreira”. Procurado pelo Grupo Estado, Ferreira não se manifestou.
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