Pintura e fotografia no Misc

O modo de ser e de viver do cuiabano ganha ainda mais cores nas telas da individual Centro Histórico de Cuiabá, do artista plástico José Pereira da Silva. E o mesmo faz o fotógrafo Mário Vilela com uma das manifestações culturais mais significativas de Mato Grosso, a Festa do Congo de Vila Bela da Santíssima Trindade. Os trabalhos podem ser vistos até o dia 15 de dezembro em duas exposições montadas no Museu da Imagem e do Som de Cuiabá (Misc).

Em Centro Histórico de Cuiabá, 28 obras retratam o cotidiano, a cultura e o modo de ser cuiabano. Os dois temas principais que sempre acompanharam a carreira do artista Zé Pereira - as Festas Tradicionais de Santo e o futebol - também estão presentes em muitas das obras a mostra. Todo o passado e a vivência saudosa da capital mato-grossense são expressos nas telas. O passeio de bicicleta pela ruas de pedra, a "pelada" dos meninos no final da tarde, o carrinho de pipoca, o moço que vende o algodão doce, as festas de santo. As telas do pintor são otimistas e chamam a atenção pela alegria.

O diretor do Misc, Paulo Traven, diz que a arte de Zé Pereira contribui para a conservação do Centro Histórico. Segundo ele, esse é um dos motivos da exposição estar sendo realizada no Museu da Imagem e do Som, já que este foi criado para contribuir com a revitalização do Centro Histórico de Cuiabá. "José Pereira é um artista naïf, ingênuo. Ele vem se desenvolvendo bastante. Desde que fizemos sua primeira exposição individual ele amadureceu muito", afirma Paulo, fazendo uma análise das obras. Um artista naïf, como caracterizou o diretor do Misc, é aquele que expressa-se com liberdade, espontaneidade, inocência e suas obras são sempre cheias de cor. Às vezes suas figuras podem estar sem proporção ou simetria. Mas quando isso acontece eles são perdoados, porque muitas vezes não receberam orientações técnicas ou ensinamentos de um professor: são autodidatas.

José Pereira da Silva nasceu em Correntina, no sertão baiano. Assim que chegou na capital de Mato Grosso encantou-se pela cultura do povo. Desde então, o futebol e o jeito de ser dos cuiabanos passaram a ser sua inspiração. A sua arte começou a ser exposta em 1992 e o pintor passou a participar de várias mostras. Ao todo, foram 17, entre elas estão o Salão Jovem Arte Mato-Grossense, a Mostra Internacional de Arte Naif, a Bienal Brasileira de Arte Naif e a primeira exposição individual, Futebol.

Todas as cores da negritude - A exposição Festança de Vila Bela da Santíssima Trindade, do fotógrafo Mário Vilela, é outra boa atração do Museu da Imagem e do Som de Cuiabá. A mostra foi aberta na semana em que foi comemorado Dia Nacional da Consciência Negra (20 de novembro), porque o trabalho retrata uma das principais manifestações afro-brasileiras e cuja força é muito grande na cidade. A Festança é uma celebração tripla (Divino Espírito Santo, Dança do Congo/Festa de São Benedito e Santíssima Trindade).

A Dança do Congo, em Vila Bela, representa a resistência dos negros que continuaram ali após a transferência da capital para Cuiabá, em 1835. A dança ocorre por toda a cidade ao som do ganzá, do bumbo e do cavaquinho. Toda esta movimentação é captada pelas lentes da máquina de Vilela, que conserva a cultura de um povo por meio de sua apurada percepção. A alegria deste povo simples que tem orgulho de conservar suas tradições é o que mais chama a atenção.

As fotos foram feitas para o livro de mesmo nome. Um trabalho de pesquisa de três anos no município que durante algum tempo foi a capital de Mato Grosso por sua posição estratégica para a ocupação da região - contra o avanço da coroa espanhola. Os textos foram produzidos pelo jornalista Sílvio Carvalho e o prefácio é do pesquisador da raça negra Edemir de Carvalho. Além disso, muitas das fotos ganharam legendas a partir de textos do escritor chapadense Ricardo Guilherme Dicke.

Mário Vilela, que recentemente recebeu o Prêmio Estímulo no XXIII Salão Jovem Arte Mato-grossense, atua como repórter fotográfico no Estado há mais de 15 anos. Durante boa parte desse tempo percorreu várias partes do estado, o que possibilitou a captação de muitas imagens, já mostradas em outras oportunidades.

Serviço - As exposições podem ser conferidas até o dia 15 de dezembro, no Misc -Voluntários da Pátria com 7 de Setembro, no Centro de Cuiabá -, das 13h às 18h. A entrada é franca. O telefone para mais informações é 3025-4109. Segundo Paulo Traven, é importante que as visitas escolares sejam agendas para, assim, o museu proporcionar um melhor atendimento. (colaborou Luiz Fernando Vieira)