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Cultura
Segunda - 27 de Novembro de 2006 às 06:45

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Mariana Aydar lança seu Kavita1 (Universal Music e Cinco Editorações e Produções); com ele, o ar que dissemina harmonias se agita, refresca-se; luzes incomuns refletem, triscam o céu musical.

Kavita, que em Sânscristo é poeta, é o CD 1 de Mariana. Menina com ares de quem chega para abalar, aos 26 anos, ela se espelha em suas melhores companheiras de ofício cantoras que, para serem o que são, se esmeraram sempre em busca de repertório que representasse o que aqui se faz de bom e dá partida para se lançar no mundo fonográfico.

E ela abafa com um repertório digno das melhores que temos. Sua voz límpida, que vem suave pela garganta quando a letra e a melodia assim sugerem, logo pode se transformar numa voz nasalada (com doce lembrança de Clara Nunes) a pedir passagem para cantar samba que pede pés, pernas e gogó para se fazer mais cadenciado. Tem manha a Mariana. Sabe o que quer e canta firme o que precisa dizer.

Sua afinação é preciosa, sem que para exercê-la precise esfriar a emoção; as divisões rítmicas escolhidas para cada samba (grande maioria no disco) são elegantes, agradáveis de ouvir e adequadas para se entender o sentido das letras postas nas melodias.

Mariana Aydar armou um fuzuê para gravar seu Kavita 1. Apoiada por produtores experientes BiD (produziu o lendário Afrociberdelia, de Chico Science & Nação Zumbi) e Duani (parceiro de Mariana em "Festança", oitava faixa do CD) , ela esbanja suingue, expondo levezas e malícias.

Filha do músico e produtor Mario Manga e da também produtora Bia Aydar, a menina teve berço embalado à música. Admiradora de Roberto Ribeiro, João Nogueira e Jackson do Pandeiro, deles assimilou o molejo.

Certo dia, um qualquer em 2004, respirando ares parisienses e, dentre outras atividades musicais, abrindo os shows de Seu Jorge, ela ouviu pela primeira vez "Minha Missão", uma das obras-primas de João Nogueira e Paulo César Pinheiro. Chapou! Sentiu que deveria voltar ao Brasil, mais precisamente à sua terra natal São Paulo. O germe do samba estava definitivamente inoculado em sua voz, em seu corpo, em sua alma. O Brasil acabara de ganhar uma sambista. Mas não apenas: ganhara uma intérprete que desponta como definitiva cantora de todos os gêneros, mas que através do samba certamente se imporá ao mercado por sua originalidade de boa cantora que é.

O disco abre com o antológico "Minha Missão", num arranjo que começa a capella; logo a voz de Mariana acolhe o som do repique e segue emocionada: "Quando eu canto/ É para aliviar meu pranto/ E o pranto de quem já/ Tanto sofreu (...) Mensageira sou da música (...) O meu canto é uma missão/ Tem força de oração/ E eu cumpro o meu dever/ Aos que vivem a chorar/ Eu vivo pra cantar/ E canto pra viver (...)"; ao fundo ouvem-se belos contracantos por ela mesma entoados, como se sobrepor sua voz ao próprio canto a fizesse ainda mais absolutamente cantora.

Chico César está no CD com uma música feita especialmente para Mariana "Prainha", exaltação a Trancoso. Nela ouve-se o violão do autor, além de ouvir-se também Mario Manga nos cellos, Felipe Pinaud nas flautas, Serginho Carvalho no baixo, Duani na bateria, nas craviolas, no crivador e no agogô, o grande percussionista Papete no ganzá e no berimbau incrementado por efeitos, e ainda o sintetizador pilotado por BiD. Ela também dá show na brejeira "Vento no Canavial", de João Donato (que participa da faixa) e Lysias Ênio, e no clássico "Menino das Laranjas", de Théo de Barros.

Para encerrar, explicitando o carinho com que seleciona seu repertório, Mariana Aydar elegeu o partido alto "Maior é Deus", de Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro: "Eh! Maior é Deus, pequeno sou eu/ O que eu tenho foi Deus quem me deu/ O que eu dou é o que eu tenho/ Foi Deus quem deu." Assim é ela. Amém.

O samba é um dom, Mariana o tem. Revelada em Kavita 1, esta graça a habilita a logo brilhar onde já cintilam Beth Carvalho, Alcione...

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa.




Fonte: A Gazeta

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