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Cultura
Quinta - 02 de Novembro de 2006 às 03:22
Por: Luiz Fernando Vieira

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"De médico e louco todo mundo tem um pouco", diz a máxima. Mas algumas pessoas abusam do direito de ter muito mais do segundo. É o caso da trupe da Terça Insana, que promete fazer muita gente gargalhar desta sexta-feira (dia 3) até domingo, no Teatro Universitário, em mais um oferecimento do jornal A Gazeta. Trata-se do show mais recente do projeto paulistano, com elenco e piadas novos, onde o que não muda mesmo é o tom sempre deliciosamente espirituoso.

A proposta do Terça Insana, além de trazer ao público muito humor, é variar os temas do espetáculo, abrindo sempre espaço para novas criações. Cenas e tipos se agregam ao elenco e o enredo gira, basicamente, em torno da vida urbana de São Paulo. Mas o público vai identificar características encontradas em personagens comuns a todas as partes do país. O que o grupo faz é usar sua sensibilidade e capacidade de observação para pinçar de cada um deles os detalhes mais marcantes e potencializá-los.

E vem sendo assim desde o começo, quando a atriz Grace Gianoukas, que dirige o espetáculo desde outubro de 2001, teve a brilhante idéia de dar uma sacudida no cenário do humor paulistano. A tônica era justamente fazer com que a comédia deixasse a mesmice de lado, passando a ser muito mais criativa e arrojada. Assim, buscou-se a irreverência e o desprendimento de formalismos nas atuações.

O show que os mato-grossenses curtem neste fim de semana foi especialmente montado pela trupe para uma turnê nacional, onde encontram-se personagens considerados clássicos e novas criações, trazidas pelos integrantes que entraram recentemente no grupo. O Terça Insana funciona como um grande laboratório onde todos podem criar. Para se ter uma idéia, somente nos três primeiros anos, o projeto recebeu 260 atores convidados e reciclou dez vezes o elenco fixo. Por conta disso mais de 400 personagens foram apresentados em 340 shows diferentes, um novo a cada semana.

Ao longo dos anos, o Terça Insana alcançou um público de 500 mil pessoas entre as apresentações no Avenida Clube, em São Paulo, e a turnê de um ano realizada entre 2004 e 2005. Em 2006, mais uma vez na estrada, Grace Gianoukas, juntamente com Marco Luque, Agnes Zuliane, Roberto Camargo e Guilherme Uzeda ampliam o já imenso rol de fãs do projeto com ainda mais insanidades.

Que dizer de uma pessoa como Grace, que alterna personagens como Aline Dorel, estrela de cinema internacional dependente de Lexotan, que filmou com os maiores diretores da história, é surrealista e atemporal e se sente perseguida pela cultura de Gerald Thomas. Ou Cinderela, uma traficante internacional de drogas que vive metida em confusões com os clientes, com a polícia e com sua própria dependência. Ou ainda Sharon, retirante nordestina que, após passar muito apuro na cidade, vira punk; Xica da Silva Xavier, médium que recebe ghost writers e psicografa; ou Xula Mirinda, ex-bolete, ex-chacrete, atualmente intelectual da USP.

Na mesma linha, o ator Marco Luque encarna tipos como Silas Simplesmente, um taxista cheio de charme, que se orgulha de ter o táxi mais bem equipado da cidade, com bancos aveludados, direção acolchoada, frigobar e delícias da culinária. E Mari Help, uma brasileira simples e trabalhadora, faxineira "terceirizada", pois tem três empregos.

Já Guilherme Uzeda vira o personagem Zildo, um cara abençoado por Deus e feliz por ser podre de pobre; e Luis Otavio, um palestrante que filosofa sobre o enraizadíssimo "jeitinho brasileiro".

A exemplo de Grace, Roberto Camargo também tem muitos personagens. Ele é o Mestre de Cerimônias, apresentador da Terça Insana que introduz os temas da noite, com inteligência e muito humor; Betina Botox, garoto clubber, feliz, e que defende a diversidade de comportamento e opções, luta contra os preconceitos, discute cidadania e direitos humanos; Emiliano Salvatore, promoter que faz as melhores festas da cidade e todos querem estar no seu mailing, que vai do high society até o underground e ainda tem que lidar com um filho de 12 anos que já é estilista; Melton Celo, ator com uma tendência para o dark, apaixonado pelo romantismo e experimentação, mas que só consegue trabalho como animador de pequenas festinhas infantis.

E não é só. Tem ainda o Frotinha, personalidade da mídia, malhado, às vezes ator, às vezes empresário, às vezes modelo de revistas masculinas; Peter Pan, um cara cansado da Terra do Nunca que tenta entrar nas festas, mas ninguém acredita que ele já alcançou os 50 anos de idade; Âncora Insano, espécie de Zelig -homem-camaleão interpretado por Woody Allen - que se transforma no casal de apresentadores de telejornal, nos entrevistados, na repórter de rua...; e Boliviano, cantor que se desligou do grupo andino do qual fazia parte para desenvolver trabalho mais pop, gravando seus próprios CDs e os vendendo na rua, de bicicleta.

Agnes Zuliani fecha a lista com personagens como a Senadora Biônica, uma senhora que foi senadora biônica na época da ditadura militar e que hoje, sozinha, lembra com saudades daqueles tempos. Que aproveita e compara as mudanças poucas que na verdade vieram com a "modernidade". Ou a Mal Amada, sobre as alegrias e tristezas da mulher que nunca teve muito sucesso na vida amorosa e que, além disso, hoje se depara com a realidade da idade "avançada" que se aproxima.

Só vendo para crer!

Serviço - O espetáculo Terça Insana será apresentado entre os dias 3 e 5 de novembro (sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h), no Teatro Universitário. Ponto de venda no térreo do Shopping 3 Américas. Informações 3627-4497 ou 3905-4000.




Fonte: A Gazeta

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