Convite de Lula ao diálogo divide a oposição
A possibilidade de dialogar com o Governo não só provocou divergências entre PSDB e PFL, que apoiavam o candidato derrotado Geraldo Alckmin, mas criou uma cisão entre os pefelistas.
Enquanto o PSDB deu sinais de estar disposto a negociar com o Governo projetos de interesse do país, a direção do PFL rejeitou o convite.
A posição da direção, no entanto, não teve o apoio de todos os membros do partido.
"Em Brasília, existem poucos sinais de trânsito e eles ficaram temerosos, mas eu atravesso a rua e sempre vou ao encontro de meus adversários para dialogar", afirmou hoje o governador de São Paulo, Claudio Lembo, do PFL.
Lembo fez referência à declaração feita na véspera pelo presidente do partido, senador Jorge Bornhausen, de que "não atravessaria a rua" que separa o Palácio do Planalto do Congresso para dialogar com Lula, e que pretende transformar o Legislativo em uma "trincheira" para atacar o Governo.
O governador de São Paulo defendeu o diálogo com o Governo e afirmou que o partido, que na próxima legislatura terá a maior bancada no Senado, não pode se colocar como antagonista total.
"O Bornhausen não reflete a opinião de todo o PFL, já que parte vai dialogar no Congresso", assegurou o deputado Maurício Rands, vice-líder do PT na Câmara dos Deputados, ao se referir à divisão da oposição.
O presidente reafirmou seu convite ao diálogo no pronunciamento que fez terça-feira, em rede nacional de rádio e televisão para agradecer sua reeleição e anunciar as prioridades do Governo em seu segundo mandato, que começa em 1º de janeiro.
"Conclamo toda a sociedade, a começar pelas lideranças políticas e movimentos sociais, a unirmos o Brasil em torno de uma agenda comum de temas de interesse geral", afirmou Lula.
O presidente admitiu que precisa do apoio da oposição para poder levar adiante projetos que já apresentou ao Congresso e outros que pretende enviar na próxima legislatura.
Entre eles, Lula citou a reforma tributária, incentivos a pequenas e médias empresas e o Fundo Nacional de Educação Básica (Fundeb).
O presidente já antecipou que proporá no ano que vem uma ampla reforma política, que prevê modificações nos partidos, no sistema eleitoral e na composição do Congresso.
Ao contrário da direção do PFL, que fechou as portas a qualquer entendimento, o PSDB de Alckmin e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso advertiu que pretende exercer uma oposição "dura", mas que não rejeitará projetos que possam interessar ao país.
O presidente do PSDB, Tasso Jereissatti, esclareceu que qualquer entendimento não impedirá que o partido continue questionando o Governo sobre as denúncias de corrupção.
Entre os líderes do PSDB que defendem o diálogo estão José Serra, eleito governador de São Paulo em 1º de outubro; e Aécio Neves, governador reeleito de Minas Gerais.
Os dois possíveis presidenciáveis em 2010 que, durante o segundo mandato de Lula, governarão os dois estados mais populosos do país, dizem ter boas relações com o presidente.
"Na oposição, o PSDB se comportará com altivez. Não fomos, não somos, nem seremos adeptos do quanto pior melhor. Seremos oposição no plano federal justamente porque não somos iguais. Diante de cada projeto de lei ou de emenda constitucional, saberemos separar o que beneficia o país do que o atrasa. Esta será nossa melhor contribuição à governabilidade do país", afirmou Serra.
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