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Politica Brasil
Terça - 31 de Outubro de 2006 às 07:40
Por: Antonio Peres Pacheco

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Os petistas, com certeza, vão achar que é ranhetice, que é excesso de zelo meu. Os tucanos vão achar que é uma crítica tardia ou pior, um “gancho” para tecer loas à vitória de seu adversário. Sim, admito, uns e outros poderão pensar assim com doses iguais de razão. Mas, o fato é que não posso deixar de manifestar aqui as minhas impressões sobre o rescaldo do pleito que resultou na reeleição do presidente Lula para mais quatro anos de mandato e na segunda derrota consecutiva do PSDB na esfera nacional.

Agora que a campanha terminou e está confirmada a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo menos em mim restou uma sensação de que faltou mais consistência nas propostas apresentadas pelos dois principais candidatos ao Palácio do Planalto. Eu esperava mais de ambos. E creio, não estou sozinho nessa impressão.

Vimos durante a campanha, de um lado, o presidente Lula num interminável balanço de seu primeiro mandato, despejando números e repisando frases de efeito para enfatizar algumas realizações e conquistas sociais como a ampla cobertura do programa Bolsa Família, os empregos formais criados e o controle da inflação.

Quase nada vimos ou ouvimos dele sobre as obras de infra-estrutura básica urbana como esgotos, asfalto, urbanização de favelas, construção de casas populares, ou investimentos diretos na saúde básica, na educação - além do ProUni e dos Centros de Educação Tecnológica -, ou ainda sobre as grandes obras estruturantes nas regiões menos desenvolvidas como nordeste, centro-oeste e estados da Amazônia como Rondônia, Acre, Tocantins, Pará e Roraima, por exemplo. Isso para ficar só no que seria básico de um efetivo Plano de Governo nacional.

Da parte de Geraldo Alckmin foi ainda pior. O candidato tucano revelou-se monocórdio, repetitivo, a ponto de fazer eco a si mesmo. Provinciano, manteve-se prisioneiro dos limites de seu estado, São Paulo. Foi incapaz de enxergar que o Brasil vai além das barrancas do rio Paraná e dos contrafortes da Serra da Mantiqueira.

Sem saber o que se passa para além dos muros de Alphaville e do Morumbi, Alckmin fez um discurso dirigido exclusivamente aos minoritários cidadãos da parte belga de “Belindia” - síntese do Brasil feita pelo economista Edmar Bacha, em 1974, para exemplificar péssima distribuição de renda no país, onde uma pequena parte da população vive como se aqui fosse a Bélgica e a grande maioria, como se fosse uma imensa e miserável Índia -, sem atentar para o fato de que a maioria, afinal, é que decide quem governa nas democracias.

Há analistas dizendo que o voto em Lula, dado pela maioria da população, foi um voto de comodismo com uma situação estabelecida no seu primeiro mandato e de medo ao desconhecido, natural em qualquer mudança. Discordo frontalmente desse pensamento maniqueísta. Particularmente, entendo que a opção da ampla maioria dos eleitores foi por um projeto de país que contempla, prioritariamente, a inclusão social em detrimento do estruturalismo econômico neoliberal dos tucanos. Isso me parece óbvio.

Se faltou ao presidente-candidato dizer o que pretende e como fará, neste segundo mandato, para melhorar efetivamente a qualidade de vida dos cidadãos mais pobres do país, a educação, a saúde e a segurança, ficou mais que claro que, no campo da macroeconomia, ele considera que estão assentadas as bases do segundo mandato e que, no campo político, as prioridades estão definidas: vai investir na implementação das reformas política e fiscal para reordenar estes dois setores e criar condições mais favoráveis para a execução dos projetos estruturais e estruturantes em áreas como energia e transporte, considerados por ele como catapultas para a aceleração do crescimento econômico.

Desse modo, fica evidente que as reformas que ainda terão que ser feitas na estrutura política e administrativa, principalmente, serão o "calcanhar de Aquiles" do novo mandato de Lula. O sucesso ou o fracasso do presidente nessas duas frentes sim, darão o mote de seu segundo governo e dirão se o povo fez bem em reelegê-lo ou se deu uma tremenda bola-fora.

(*) Antonio Peres Pacheco é jornalista, poeta e escritor. E-mail: app.jornalista@gmail.com





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