Abel Pereira terá de explicar propina à PF
Barjas, tucano, é prefeito de Piracicaba (SP), onde ficam as principais empresas de Abel. Os dois são amigos há pelo menos três décadas. O inquérito da PF apura as ligações de Abel com Luiz Antonio Vedoin, considerado o chefe da máfia das sanguessugas que envolve 72 deputados e senadores e lesou o Tesouro em R$ 110 milhões.
Os federais estão convencidos de que o esquema das emendas que abalou o Congresso foi montado em Mato Grosso. Em parceria com 51 prefeitos, Vedoin aproximou-se de parlamentares que criaram emendas para forçar a liberação de recursos extra-orçamentários da Saúde. O golpe ganhou proporções excepcionais a partir de 2003 (governo Lula) e se alastrou por cerca de 500 prefeituras de quase todo o País.
O inquérito contra Abel já abriga documentos que podem incriminá-lo, na avaliação da PF. São cópias de 15 cheques que somam R$ 601 mil, valor que teria sido depositado em favor do empresário a título de propina. O dinheiro seria para apressar a liberação de recursos do Ministério da Saúde. Esses documentos foram entregues há três semanas à PF por Expedito Afonso Veloso, ex-diretor de análise de risco do Banco do Brasil e protagonista da trama do chamado dossiê Vedoin.
Rastreamento bancário indica que os cheques para Abel foram emitidos pela Klass Comércio e Representação Ltda., empresa do Grupo Planam, principal acusada da máfia das ambulâncias. A gestão Barjas Negri na Saúde liberou dinheiro para a compra de 681 ambulâncias da Planam. Abel teria embolsado o equivalente a 6,5% do montante total. Aqueles R$ 601 mil foram apenas uma parte. A PF suspeita que Abel tentou comprar o silêncio dos Vedoin.
Amizade
Abel e os Vedoin se conheceram em 2002. Darci Vedoin, pai de Luiz Antonio, era bem relacionado com o prefeito de Jaciara (MT) à época, Valdizete Martins Nogueira, então filiado ao PSDB, hoje ao PPS. Abel possui duas fazendas na região. Elas têm o mesmo nome, Cicate. São 14 mil hectares de terra. Eram 15 mil, mas em 2003 Abel vendeu um pedaço para o maior plantador de algodão mato-grossense.
Quem intermediou o negócio de US$ 1, 5 milhão foi Valdizete. O ex-prefeito ganhou uma boa comissão, em torno de 5%. A PF e a Procuradoria da República presumem que as relações entre Abel e Valdizete vão além da amizade. Podem caracterizar improbidade administrativa e crime.
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