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Cultura
Sábado - 21 de Outubro de 2006 às 03:10
Por: Luiz Fernando Vieira

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A Orquestra de Câmara de Mato Grosso se apresenta hoje e amanhã, no Sesc Arsenal, em mais um concerto da Temporada 2006, quando as atenções estarão especialmente voltadas para o violoncelista inglês David Gardner. O momento é marcante não apenas pelo fato de David atuar como solista, mas pela história desse músico que chegou a Cuiabá em agosto de 2005 e resolveu fixar-se na cidade, onde pretende continuar desenvolvendo suas atividades musicais.

Como será o "comandante" da orquestra nessas duas apresentações, nada mais justo que escolhesse algo para o concerto. E ele optou por unir o útil ao agradável. Vai ter o gostinho de mostrar para os mato-grossenses o trabalho de um dos mais importantes compositores ingleses, cuja característica principal é estar carregada de cultura popular. A figura em questão é Ralph Vaughan Williams (1872-1958) e a obra é "Seis Estudos Sobre Canções Populares".

David, que já consegue se expressar bem em português, explica que a escolheu porque está carregada de folclore inglês. Não da Grã-Bretanha, mas da Inglaterra, frisa. Dessa forma, o violoncelista que diz gostar muito de tocar rasqueado vai mostrar como são grandes as diferenças entre ambas. O diretor artístico e maestro da Orquestra Leandro Carvalho considera Vaughan Williams uma espécie de Villa-Lobos inglês. "O Vaughan se inspirou na cultura popular britânica e esta tem uma característica muito específica que a gente desconhece e ele (David) está aqui para nos ensinar", diz.

Para Leandro, isso favorece tanto o grupo quanto o público. O fato de poder ter em suas fileiras músicos de diversos países - Estados Unidos, Suíça, Suécia, Escócia - e de vários estados brasileiros é a garantia de um trabalho cada vez mais rico. São pessoas que nunca se viram, com passados e formações diferentes, que se juntam para tocar a mesma música, compartilhar da mesma emoção e transmiti-la para o público, analisa.

David Gardner já é um resultado desse processo, aponta ele. Está em Mato Grosso há mais de um ano e decidiu que iria morar em Cuiabá - já está até de casamento marcado com uma cuiabana - e nela trabalhar no próprio desenvolvimento e de novos músicos. Conceituado na Europa, portanto com colocação garantida em qualquer boa orquestra, ele considerou que num país como o Brasil e num estado como Mato Grosso poderia contribuir sobremaneira para a arte que abraçou desde muito cedo.

Para David, o Brasil está crescendo, está em franca ascensão em relação à música, o que não vem mais acontecendo na Inglaterra, onde ele identifica uma curva descendente. Hoje David tem vários alunos, muitos deles atendidos gratuitamente. "Está contribuindo não só artisticamente, mas fazendo coisas que não precisava. Está fazendo porque realmente quer contribuir", salienta Leandro.

O violoncelista quer que, como ele, um número cada vez maior de brasileiros tenha a oportunidade de se dedicar à música erudita. David começou com cinco anos de idade - hoje está com 28 anos -e se formou na Inglaterra, no Conservatório Trinity. Filho de pai arquiteto e mãe professora, poderia ter escolhido qualquer outra profissão, mas decidiu ser músico. Isto porque em seu país, se uma criança quiser, tem a chance de obter uma bolsa e dedicar-se àquele sonho. "Eu escolhi o violoncelo, pensei: "é esse aqui". Quero fazer a mesma coisa com os brasileiros. Eles querem muito fazer música", declara.

O violoncelista participou de orquestras jovens, masterclasses, festivais, ganhou prêmios, como o primeiro lugar entre os formados na Trinity. Isso abriu oportunidades para que trabalhasse inclusive como solista em grupos como os de música de câmara. Chegou a estudar na Holanda, onde fez pós-graduação, e numa dessas andanças conheceu Leandro. Conta que foi tudo muito rápido. Lembra que estava saindo de um prédio quando cruzou com ele e, depois de algumas conversas, decidiram desenvolver um projeto juntos, levando a música brasileira para as salas européias. "O projeto com o Leandro foi importante porque os músicos lá não conhecem muito sobre a música brasileira", diz, ressaltando que o trabalho de Villa-Lobos é uma exceção nesse caso.

O concerto - Além das composições de Vaughan Williams, o público poderá conferir uma das peças mais belas e difíceis de todo o repertório camerístico, a "Serenade" Op. 22, do compositor tcheco Anton Dvorak (pronuncia-se Divórjak). Esta certamente exigirá bastante dos músicos, diz Leandro. Completam o programa a peça "A Dança do Siriri", encomendada pela Orquestra ao compositor paulista Sérgio Kafejian e mostrada recentemente na abertura do XII Encontro de Empreendedores, e o clássico "Trem do Pantanal", de Paulo Simões e Geraldo Roca.

A apresentação deste fim de semana marca ainda o início de uma série de concertos onde os estrangeiros poderão mostrar seu virtuosismo. "Na verdade, como a orquestra é composta de músicos muito talentosos, que têm não só a característica de tocar em conjunto, mas também do músico solista, é importante que a gente dê espaço para que mostrem o que sabem fazer", explica o maestro. Desta vez o destaque é David Gardner, no mês que vem vai ser o violinista escocês Marc Wilson, que fará "As Quatro Estações", de Vivaldi.

A Orquestra é uma iniciativa do Governo do Estado de Mato Grosso, através da Secretaria de Estado de Cultura, e tem como apoiadora a Lei Federal de Incentivo à Cultura, e as empresas EPE Pantanal Energia, Bimetal, Nortox, Localiza, Churrascaria Fornari, Hotel Mato Grosso Palace e do Sesc Mato Grosso.

Serviço - A Orquestra de Câmara do Estado de Mato Grosso se apresenta hoje e amanhã, às 20 horas, no teatro do Sesc Arsenal.




Fonte: A Gazeta

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