A Hungria comemora o 50º aniversário da revolta contra a União Soviética
Desde a mudança do regime, em 1989, o 23 de outubro é uma data de festa nacional, assim como o dia em que foi declarada a Terceira República.
No entanto, os húngaros não celebram juntos, já que a divisão entre o governo de centro-esquerda e a oposição de direita é hoje mais forte do que nunca.
A direita, que anunciou o boicote das cerimônias oficiais, exige a partida do primeiro-ministro Ferenc Gyurcsany depois de sua confissão, em 17 de setembro, que mentiu sobre o estado da economia para poder ser reeleito em abril passado.
A difusão pública dessa confissão causou três semanas de manifestações e três noites de rebelião que deixaram mais de 250 feridos, os piores distúrbios na Hungria desde o fim do comunismo, assim como reiterados chamados da direita para que o chefe de Governo renunciasse ao cargo.
Às vésperas dos festejos oficiais, o governo e a oposição continuam disputando o uso simbólico da Praça Kossuth, diante do Parlamento, onde desde 6 de outubro se realizam as manifestações antigovernamentais de uma hora, a uma iniciativa do Fidesz, o principal partido da oposição conservadora.
Os historiadores criticam o Fidesz por tentar explorar as comemorações com fins políticos e ofuscar um aniversário nacional que colocará a Hungria sob o foco dos holofotes do mundo inteiro.
"Em 1956, a revolução não estava dirigida contra as mentiras e sim contra uma ditadura que impunha um sistema insustentável. Agora vivemos na democracia", afirmo Janos Rainer, historiador e diretor do Instituto 1956 sobre a Revolução Húngara.
Enquanto isso, a Praça Kossuth está sendo ocupada por várias dezenas de militantes nacionalistas que também exigem a renúncia de Gyurcsany. O lugar agora parece uma área de acampamento, com barracas, fogareiros a céu aberto e muito lixo espalhado pelo chão.
Mas fora da Praça Kossuth, as cerimônias devem transcorrer sem problemas.
Na véspera do aniversário, dia 22, os veteranos insurgentes receberão diferentes medalhas e as igrejas históricas celebrarão missas dedicadas à "revolução de 1956". Uma noite de gala está prevista na Ópera de Budapeste.
No dia 23 de outubro será hasteada a bandeira nacional diante do Parlamento e na presença de convidados famosos, que assistirão em seguida à aprovação solene da "Declaração da Liberdade, 1956".
Mais de 1.200 policiais e atiradores de elite se encarregarão da segurança. A circulação será restrita na capital e no espaço aéreo sobre Budapeste.
Entre os convidados internacionais foi anunciada a presença do presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, do secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop Scheffer, e dos reis da Espanha e Noruega, Juan Carlos e Harold V.
O Vaticano estará representado pelo cardeal Sodano, que se somará aos chefes de Estado da República Tcheca, Alemanha, Áustria e inúmeros chefes de Governo e ministros das Relações Exteriores de outros países.
O presidente George W. Bush já prestou homenagem aos protagonistas da rebelião em junho passado, durante uma visita oficial a Budapeste.
No dia 23 de outubro de 1956 as forças de segurança abriram fogo contra os estudantes que apoiavam o protesto anti-soviético na Polônia. Milhares de húngaros se uniram rapidamente às manifestações contra o regime comunista.
Mas duas semanas mais tarde, em 4 de novembro, tropas e tanques de guerra soviéticos arrasaram o movimento com um ataque em massa. A repressão deixou milhares de mortos e o comunista reformador Imre Nagy, nomeado primeiro-ministro em 25 de outubro, foi preso e executado dois anos mais tarde.
Cerca de 180.000 húngaros se refugiaram então na Áustria, único país ocidental vizinho da Hungria que os recebeu com generosidade.
Apesar de a revolução de 1956 ter sido um fracasso na época, o movimento conseguiu sacudir fortemente as convicções soviéticas da Europa do Leste.
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