Cientistas do Centro da Criança Johns Hopkins, de Nova York, das universidades do Mississipi e de Massachusetts apresentaram neste domingo em uma conferência nos Estados Unidos o que chamaram do primeiro caso de uma "cura funcional" de uma criança infectada pelo HIV. O paciente de 2 anos foi tratado com drogas antivirais nos primeiros dias de vida e não tem mais níveis detectáveis do vírus nem sinais da doença. A criança não recebe mais tratamento contra aids há 10 meses.
Segundo os pesquisadores, o paciente recebeu uma terapia antirretroviral nas primeiras 30 horas de vida. Os pesquisadores afirmam que a pronta administração dos medicamentos pode ter levado à cura do bebê por ter impedido a formação de "reservas" do vírus - células dormentes responsáveis por reiniciar uma infecção de HIV semanas após a interrupção da terapia tradicional com o coquetel.
"A pronta terapia antirretroviral em recém-nascidos que começa nos primeiros dias de exposição (ao vírus) pode ajudar crianças a limpar o vírus e alcançar uma remissão de longo prazo, sem (a necessidade de) um tratamento por toda vida, ao prevenir a formação de tais esconderijos virais", diz Deborah Persaud, do Johns Hopkins, que participou do estudo.
A criança que passou pelo tratamento recebeu o HIV da mãe. O tratamento nas primeiras horas de vida resultou em um decréscimo gradativo da presença do vírus no organismo do paciente. Com 29 dias, o bebê não tinha mais níveis detectáveis do micro-organismo no sangue. Com 18 meses, o tratamento foi interrompido e, 10 meses após a interrupção, novos testes não conseguiram detectar a presença do HIV.
Atualmente, recém-nascidos de alto risco (cujas mães têm infecções pouco controladas ou cuja infecção foi descoberta próxima ao parto) recebem uma combinação de antivirais e em doses profiláticas para prevenir a infecção durante seis semanas e, se o vírus for detectado, começam o tratamento tradicional com o coquetel de drogas. O novo estudo pode mudar essa prática, já que mostra a cura potencial do tratamento nas primeiras horas de vida.
O próximo passo, afirmam os cientistas, é descobrir se o caso é uma resposta muito incomum ou algo que possa ser replicado em demais pacientes. Os pesquisadores destacam que existe somente um caso de cura "esterilizadora" conhecido do HIV, de um paciente que recebeu um transplante de medula.
Em nota, os Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) afirmam que este é o primeiro caso bem documentado de uma criança que - aparentemente - foi "funcionalmente" curada de uma infecção de HIV, ou seja, sem níveis detectáveis do vírus e sem sinais da doença na falta de terapia contra o mal - ao contrário da cura "esterilizadora", na qual todos os traços do vírus são completamente erradicados do corpo, mesmo em testes ultrassensíveis. A instituição destaca, contudo, que são necessárias mais pesquisas para entender se o caso pode ser replicado em testes clínicos com outras crianças infectadas pelo HIV.
"Apesar do fato que pesquisas nos deram as ferramentas para evitar a transmissão mãe-filho do HIV, muitas crianças infelizmente nascem infectadas. Neste caso, aparentemente nós temos não apenas um desenlace positivo para esta criança em particular, mas também uma pista promissora para pesquisa adicional para curar outras crianças", diz em nota Anthony S. Fauci, diretor do Instituto Nacional para Alergias e Doenças Infecciosas dos NIH.
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