Dinheiro de dossiê passou por jogo do bicho, aponta PF
Segundo as investigações da PF, o dinheiro teria transitado por bancas ligadas a Antonio Petrus Kalil, localizadas na Baixada Fluminense (RJ). Não significa, porém, que seja ele o fornecedor do dinheiro.
Conhecido como Turcão, Kalil é apontado pelos investigadores como um bicheiro antigo, cujos negócios hoje são tocados por prepostos e familiares. Segundo a PF, como ele tem um grande capital de giro, também atua como uma espécie de ressegurador de bancas menores a fim de garantir o pagamento de eventuais ganhadores.
Nesta linha, abre-se para a investigação a possibilidade de que o jogo do bicho tenha sido usado para reunir parte ou a integralidade dos reais que seriam usados na compra do dossiê. A PF chegou ao nome de Turcão por meio do trabalho de informantes. A eles foram apresentadas pedaços de fitas de calculadora encontrados em meio ao dinheiro. Uma das fitas tinha a inscrição "Caxias 118", referência a uma banca de jogo. Os papéis também tinham um carimbo em comum.
Os reais foram apreendidos por policiais no dia 15 de setembro em um hotel, em São Paulo, quando os emissários petistas se preparavam para fechar a negociação com prepostos da família Vedoin, que comanda a máfia dos sanguessugas.
Ao ler anotações inscritas nas cintas, os informantes associaram o dinheiro aos negócios de Turcão, cuja atuação hoje se concentra em Niterói. Na Baixada Fluminense, conforme a Folha apurou, as bancas trabalham também em nome de Aniz Abrahão David, o Anísio, e Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães.
A PF agora tenta apurar de qual banca teria saído o dinheiro --se de alguma de de Turcão ou de outra que tenha se valido de seus serviços como garantidor de pagamento de prêmios.
Na terça-feira (17), a PF cumpriu ações de busca e apreensão de documentos em um escritório que centraliza a arrecadação de bancas do bicho na Baixada Fluminense. Os policiais apreenderam calculadoras. Agora vão fazer perícias para ver se as fitas e os tipos dos números são os mesmos encontrados com o dinheiro suspeito. Hoje a PF pedirá à Justiça Federal em Mato Grosso mais tempo para investigar o caso e também apresentará um relatório parcial da investigação, que completa 34 dias.
No documento, o delegado Diógenes Curado Filho, que preside a investigação, resume as providências tomadas até o momento e indica as razões pelas quais precisa de mais tempo para o trabalho, entre as quais o pedido e análise de novas quebras de sigilo bancário e telefônico para chegar ao dono do dinheiro e coleta de outros depoimentos.
Na próxima segunda, por exemplo, a PF deve ouvir Abel Pereira. Empresário de Piracicaba, Pereira foi apontado pelos empresários Darci e Luiz Antonio Vedoin como uma pessoa capaz de conseguir a liberação de emendas do Ministério da Saúde no final de 2002, quando a pasta era comandada pelo tucano Barjas Negri.
No relatório de Curado também constará que, até o momento, a PF indiciou somente Gedimar Passos, agente da PF aposentado em poder de quem estava parte do R$ 1,75 milhão (em dólares e reais) apreendido em 15 de setembro. Gedimar foi indiciado por suspeita de ter praticado o crime de supressão de documento. É que, segundo depoimento de Valdebran, ele teria recebido documentos que comprometeriam prefeituras envolvidas com a máfia dos sanguessugas. Mas Gedimar teria se recusado a apresentar os papéis à PF.
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