Famílias coreanas sentem o impacto do teste nuclear
"Eu vi todas as informação na televisão até às 4h da manhã, não conseguia parar", conta este sexagenário que vive no Sul. Ele foi separado de sua família em 1945, durante a divisão da península em dois países e, depois, durante a guerra da Coréia (1950-53).
"Eu tenho quase 70 anos. Eu quero rever minha irmã uma vez antes de morrer", diz. "Como coreano, espero muito uma reunificação para poder rever os meus parentes que ficaram no Norte", continua.
Os reencontros das famílias coreanas, interditados desde julho, ocorrem regularmente no Monte Kumgang, no norte da fronteira intercoreana, desde uma cúpula histórica realizada em 2000 que lançou um processo de reaproximação entre os dois países, sempre teoricamente em guerra pela ausência de tratado de paz desde o fim do conflito em 1953.
Há dez anos, mais de 13.600 coreanos participaram destas reuniões, em alguns casos por vídeo, a última delas em 19 de junho.
Mas o processo de reaproximação foi seriamente afetado pelos tiros de teste de sete mísseis efetuado pela Coréia do Norte, em 5 de julho e globalmente condenado. Pyongyang anunciou em 19 de julho o cancelamento das reuniões acusando sua vizinha do Sul de se tornar cúmplice do Ocidente ao condenar também os tiros.
"Nos próximos dez anos, podemos estimar... que a maioria das pessoas da primeira geração das famílias separadas estarão mortas", calcula Jeong Gu Heo, responsável da Cooperação intercoreana na Cruz Vermelha sul-coreana.
"É um dos aspectos mais trágicos desta crise", destaca Peter Beck, diretor para o nordeste da Ásia da organização independente International Crisis Group. "Até aqui, os grandes perdedores são as famílias porque dezenas de seus membros morrem a cada dia", diz.
E o teste nuclear declarado em 9 de outubro pela ditadura comunista, e sancionado sábado pela ONU, não vai resolver nada. "Estou realmente decepcionado", admite o coreano Lee Jae-Woon, 72 anos.
"O teste nuclear da Coréia do Norte lançou uma sombra escura sobre a retomada dos reencontros das famílias. E eu acredito que não haverá novos meios sem progresso na crise nuclear e nas relações intercoreanas", acrescenta Lee Jae-Woon, presidente da Associação "Dez milhões de famílias separadas".
"Muitos membros da associação são impacientes, porque estão velhos agora", afirma. Triste, ele acusa o Norte de ter "traído os sonhos das famílias".
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