Alckmin divide atenção de romeiros durante missa em Aparecida

Portando câmeras, o povo todo correu atrás, mas não da imagem de Nossa Senhora da Aparecida. Os romeiros presentes na festa da Padroeira do Brasil ficaram ainda mais agitados com a comitiva de políticos, liderada pelo candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin.

O ex-governador de São Paulo, que freqüenta a festa desde criança, causou tumulto ao circular pelo complexo do Santuário Nacional de Nossa Senhora da Aparecida, a 160 quilômetros da capital paulista. Uma multidão corria para lhe dar um abraço, um beijo, tirar fotos e entregar bilhetes.

Durante a missa celebrada pela manhã, a bagunça foi ainda maior devido aos fotógrafos, cinegrafistas e repórteres que tentavam registrar cada passo do candidato tucano, ficando todos bem ao lado do altar central e tampando a vista de muitos peregrinos que estavam ali desde a madrugada.

"Pagamos para vir até aqui e só dá para ver jornalista", reclamou Maria Inês Rossi, de 57 anos, que estava bem pertinho do altar desde as 2h, sem ir ao banheiro e só comendo um pacote de bolachas, dividido entre amigas. "A corda vai arrebentar", alguém disse ao seu lado.

"A padroeira vai iluminar a cabeça dos eleitores e ajudar Geraldo", disse Leonor Caramello Couvielo, de 63 anos, organizadora de excursões e freqüentadora da cidade há mais de 30 anos.

Alckmin estava em uma área reservada, ao lado do governador paulista Cláudio Lembo (PFL), sua mulher, Lu Alckmin, o prefeito da cidade de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL), e do presidente da Fiesp, Paulo Skaf.

Enquanto os Alckmin cantavam algumas das canções sacras e rezavam com a cabeça baixa, sempre silenciosos, Kassab e Lembo conversavam animadamente. O senador Eduardo Suplicy (PT), que chegou atrasado, também participou da cerimônia.

O sermão de Dom Raymundo Damasceno Assis citou o candidato tucano duas vezes, ao agradecer a presença das autoridades no começo e no final. Ao ter o nome mencionado pela primeira vez, Alckmin recebeu aplausos contidos que ecoaram na imensa igreja. Os políticos também foram comungar e receberam as hóstias do arcebispo.

Para encerrar a missa, a dupla Gean e Giovani subiu ao altar central para cantar músicas sobre Nossa Senhora. Quando Gean se despediu, reverenciou Alckmin, inclinando o corpo em sua direção e falando, fora do microfone, "boa sorte".

Após a cerimônia, Alckmin e outras autoridades deram uma rápida entrevista à imprensa, arrastando uma multidão até a chegada ao auditório do santuário. "Enquanto eu tiver vida e saúde, eu estarei todo dia 12 de outubro aqui na Santa Missa, com a Nossa Senhora", disse o candidato aos jornalistas.

"Orei e pedi a Nossa Senhora sua proteção a todos aqueles que estão doentes, que estão sofrendo, nos hospitais ou em casa", completou Alckmin, afirmando que não mistura religião com política.

Dom Raymundo negou que a missa tenha tido caráter político por ter citado o nome do tucano. "O santuário é a casa da Mãe. E como casa da Mãe, ela recebe todos os seus filhos e filhas", disse o arcebispo.

Cerca de 155 mil pessoas são esperadas na Festa da Padroeira do Brasil até o final do dia. Só no primeiro semestre, o santuário recebeu 3 milhões de visitantes, segundo a assessoria de imprensa.

O complexo religioso —com estacionamento para 4 mil veículos e heliporto para três aeronaves— foi construído nos anos 1950, na cidade onde a imagem de Nossa Senhora Aparecida surgiu no rio Paraíba em 1717, realizando diversos milagres na região. A proclamação oficial da santa como padroeira do Brasil aconteceu em 1931, pelo presidente Getúlio Vargas.