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Politica Brasil
Quarta - 11 de Outubro de 2006 às 15:15
Por: Kleber Lima

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Muita gente anda se queixando que não há diferenças entre os candidatos a presidente Lula e Geraldo. Outros a vêem na forma do maniqueísmo pobres x ricos. Já outros focam apenas o fato de um ser mais ético que outro, ou de um ser mais culto que outro.

Penso que as diferenças entre Lula e Geraldo são de projetos nacionais, e não apenas de personalidades. Em que pese a aparente semelhança das suas políticas econômicas, as diferenças pontuam na medida em que olhamos os rumos que um e outro pregam para o Brasil.

O que há de semelhante e verdadeiro na política econômica é a defesa intransigente que ambos fazem da estabilidade econômica. O Brasil sofreu décadas com a inflação estratosférica. Experimenta há 10 anos o processo de estabilidade da moeda, fruto de uma coalizão de forças políticas no transcurso do Governo Itamar, em que pese o fato de o PSDB ter ficado com os méritos. Ponto para FHC que manejou melhor a promoção pessoal e a propaganda partidária, capitalizando um feito social. Independente disso, todavia, a estabilidade é uma conquista da nação brasileira.

Outrossim, o ponto chave de agora em diante é como fazer o país crescer mais rapidamente sua economia, distribuindo renda e reduzindo o nosso estoque de excluídos e miseráveis. O Governo Lula tem o mérito de ter encontrado um caminho de distribuição de renda, por meio das políticas sociais, ora chamadas de compensatórias, ora de assistencialistas. O fato é que esse caminho tem tirado milhões da tragédia da fome, a principal doença social do mundo em todos os tempos, e com isso aquecido setores da economia, sobretudo a chamada economia popular.

O PSDB não propôs caminho algum nessa direção durante os oito anos do Governo FHC. Só enxergou as reformas estruturais, baseadas na liberalização da economia e nas privatizações. Deu muito certo no caso da telefonia. Em outras áreas, nem tanto. Agora, acossado pelo resultado eleitoral que o caminho petista rendeu ao presidente Lula, no máximo admite manter as políticas sociais, aperfeiçoando-as. Tá certo. Ninguém é obrigado a ser o primeiro a enxergar os processos. Reconhecê-los, ao menos quando eles se tornam insofismáveis, já é um avanço. Mas, proposta original e diferente de fazer justiça social o PSDB e Geraldo não têm.

A diferença também é notada na orientação geral que um e outro propõem ao Brasil. Geraldo e o PSDB pensam o Brasil como caudatário de uma política econômica imperialista, que tem no Estado Mínimo seu principal fundamento. Daí resultam políticas como as privatizações desenfreadas e o corte dos direitos trabalhistas.

Lula, ao contrário, defende o Estado forte com a reconceituação da sua finalidade precípua, de promover o Estado do Bem-Estar Social. Em verdade, o receituário petista não tem nada de revolucionário. É apenas Social Democrata, o que já representa um avanço para uma visão de Estado feudal e autoritário que ainda predomina no Brasil.

Outra diferença é a política. E política é meio, não fim. Para conquistar o poder e aplicar sua orientação neoliberal, o PSDB abdicou da social democracia, retrocedeu em relação à sua doutrina original e compôs com um setor mais conservador e à direita - o PFL, cujo maior símbolo é ACM.

Já o PT de Lula fez a opção pela aliança de centro-esquerda, popular, estimulando os movimentos sociais a participarem mais ativamente da vida e das decisões do país. Errou politicamente, no início, ao buscar a governabilidade parlamentar com os pequenos partidos expatriados de ideologia, usurários do Erário, e está pagando caro por isso até hoje. Residem aí os desvãos de ordem ética que acometeram seu governo.

O presidente, contudo, já sinalizou com uma correção de rumo, ao buscar a governabilidade com setores médios e mais institucionais, como o PMDB, e deve prosseguir a faxina política consolidando a sustentabilidade do governo no movimento popular e social, aproveitando a liderança pessoal do presidente.

A discussão ética não pode ser apresentada como uma diferença fundamental. Ela foi artificialmente inflada, como recurso eleitoral, para substituir o debate real que a sociedade deveria fazer. A rigor, o PSDB e Geraldo não têm diferencial comparativo para impor essa agenda. É um factóide. Jogada de marketing. Às vezes dá certo, mas nem sempre.

(*) KLEBER LIMA é jornalista em Cuiabá. kleberlima@terra.com.br.





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