Lula e Alckmin correm risco em debate, avalia FHC
"Eu acho que o risco do Lula é o de dizer coisas que não são corretas. Porque ele confunde dados, quer comparar com o meu governo e diz números que não são verdadeiros. Ele pensa que o outro não sabe. É o risco de ficar muito excitado com a sua própria glória", afirmou Fernando Henrique, em entrevista ao repórter Steve Kingstone, da BBC.
"O risco do Geraldo é não ser incisivo. Num dado momento, numa discussão entre os dois, numa competição, se o outro ultrapassa certos limites você tem que parar o outro. Você tem que ser firme."
O ex-presidente, no entanto, observou também os pontos fortes dos dois candidatos. "O Lula é um bom debatedor. É um homem que tem experiência, é rápido", afirmou. "O Geraldo também é bom debatedor. É firme, é cauteloso. Tem raciocínio claro. Fala de uma maneira distinta, as pessoas entendem o que ele diz."
Ausências Segundo Fernando Henrique, a ausência de Lula no último debate (que foi muito criticada e provocou especulações de que teria sido o motivo pelo qual o presidente não foi reeleito já no primeiro turno) é diferente da sua própria ausência de debates com a oposição, quando governava o país e concorria à reeleição.
"O mais importante foi o ´não-debate´ no caso do Lula. Porque na verdade, quando eu não debati, havia muitos candidatos. Agora não. Já se sabia que era um ou outro. Então isso decepcionou a opinião pública", disse o ex-presidente.
Conforme Fernando Henrique, o público vai estar muito atento ao próximo debate. "Eu acho que vai ser um momento muito denso, muito dramático. E, o que é interessante, a população vai ver, vai julgar. Porque agora é escolha, é este ou aquele. E vai julgar em termos pessoais, não partidários", afirmou.
Reeleição Fernando Henrique reafirmou sua posição em defesa do direito à reeleição, que tem sido questionado por Geraldo Alckmin. "Eu sou favorável à reeleição. Sempre fui, continuo sendo. Eu acho que é um princípio saudável."
O ex-presidente afirmou, no entanto, que é possível melhorar o sistema. "O que se pode é aperfeiçoar, colocar mais regras. Para evitar que aconteça o que está acontecendo agora no governo Lula, que é um exagero. De usar a máquina pública. Isso pode limitar."
"Agora, eu entendo as circunstâncias especiais do meu partido que, como tem tantos eventuais presidentes, talvez seja a vontade de dar uma chance a todos", disse.
"Concertação" O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, afirmou ainda no primeiro turno que, se reeleito, o presidente Lula gostaria de chamar os ex-presidentes Itamar Franco, José Sarney e o próprio Fernando Henrique para uma “concertação política”.
Fernando Henrique, no entanto, não demonstrou empolgação com a idéia. "Sempre vem essa idéia nos momentos de dificuldade. ´Vamos chamar todos juntos´. Por que não foi feito isso em 2003, depois da transição democrática tão suave que nós fizemos? Agora é tarde", disse o ex-presidente.
"É claro que, se houver um interesse nacional em jogo, aí sim. Mas não há. Não há uma crise institucional no Brasil. Não vai haver. Você vê diferenças, brigas e tal, mas não vejo razão para dissolver tudo numa mesma confusão política e utilizar os ex-presidentes pra justificar isto ou aquilo."
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