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Cultura
Quinta - 05 de Outubro de 2006 às 09:54

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A 27ª Bienal de São Paulo, que abre suas portas em 7 de outubro com o lema "Como viver juntos", terá este ano um caráter político e centrado na inclusão social, disseram os organizadores.

A mostra não terá homogeneidade estética e não contará com cotas nacionais, como acontecia antes, o que levava as instituições culturais dos países convidados a escolherem os artistas que as representariam. Os responsáveis da Bienal,

que apresentaram o evento na última quarta-feira em São Paulo, reconheceram que isso resultou na diminuição das ajudas econômicas de alguns países, embora tenha facilitado a liberdade na seleção e participação de nações com menos recursos, cujos artistas precisaram do apoio monetário da Bienal.

"Como viver juntos é nossa maior crise e supõe um desafio enorme, me pareceu um bom tema para sintetizar a ansiedade e a angústia que senti no trabalho dos artistas", declarou à Efe Lisette Lagnado, curadora da Bienal, que ficará aberta até o 17 de dezembro.

A assimilação de imigrantes, o conflito do Oriente Médio, o "quarto mundo" no Brasil ou a pobreza na África são assuntos tratados pelos 118 artistas, jovens em sua maioria, e procedentes de aproximadamente 50 países.

"Também tivemos o desafio de fixar-nos em um continente, o africano, muitas vezes esquecido e com grandes participações na Bienal", comentou Lagnado, que citou o trabalho desenvolvido pela sul-africana Jane Alexander, que oferece uma visão alegórica de mais de três décadas de segregação racial (apartheid).

"Qualquer artista bom é político e tem que incomodar à sociedade, porque é o eco das angústias e aborrece à elite", disse a curadora, que advogou pela democratização da arte através de projetos desenvolvidos na periferia, de entradas gratuitas, cursos preparatórios e visitas guiadas dos mais desfavorecidos.

A chegada de Lagnado à Bienal deu fim a polêmica gerada pela curadoria, nas duas últimas edições, do alemão Alfons Hug, cuja gestão foi questionada por alguns críticos.

Mas o prestígio de Lagnado não reabilitou completamente a imagem do evento, implicado em duas polêmicas protagonizadas pelo artista brasileiro Cildo Meireles e pelo coletivo dinamarquês Superflex.

Meireles não quis participar da mostra por causa da decisão, posteriormente revogada, de manter no conselho da Fundação da Bienal Edemar Cid Ferreira, ex-proprietário do Banco Santos, que teve problemas com a justiça por supostos delitos de colarinho branco.

Manoel Francisco Pires da Costa, presidente da Fundação Bienal, rejeitou as acusações de "censura" à "Guaraná Power", obra conceitual do Superflex que tem como protagonista à bebida popular brasileira.

Pires considerou a obra de "mau gosto", acrescentou que "jamais interferiria no processo de seleção" e deixou claro que tinha sido "responsabilidade do escritório jurídico da Bienal", que optou por repeli-la por "problemas legais de caráter comercial".

O coletivo Superflex é conhecido por sua luta contra as patentes e por transferir o conceito de "software livre" do mundo da informática a outros setores, como o cervejeiro ou o dos refrescos, com bebidas que imitam as de conhecidas marcas.

"Nos esforçamos para que fosse uma Bienal compreensível e não um trabalho hermético", disse Lagnado.

Denise Grinspum, responsável do projeto educativo da Bienal, se aprofundou na idéia e apostou no "rompimento das barreiras simbólicas de inclusão social" já que "75% dos visitantes da edição anterior eram de classe média alta ou alta".

Muitos artistas terminaram suas criações no local, ou porque o suporte escolhido foram as próprias paredes da Bienal ou, no caso do libanês Marwan Rechmaoui, porque o conflito entre o Hisbolá e Israel o obrigou a terminar sua obra no Brasil.





Fonte: Terra

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