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Cultura
Quarta - 04 de Outubro de 2006 às 13:36

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O cineasta espanhol Carlos Saura se preparou para deixar ontem o Brasil, por pouco tempo. Em julho do ano que vem ele pretende estar de volta, para filmar "Amor de Deus", longa-metragem musical dedicado a ritmos brasileiros. Em sua temporada como convidado do Festival do Rio, onde deu uma aula magna de cinema, Saura, 74, aproveitou para visitar bailes e registrá-los em fotos e com câmera portátil.

O diretor retorna à Espanha, pensando em "como ajustar esses bailes ao roteiro do filme", que será assinado pelo diretor brasileiro Karim Aïnouz.

Aïnouz disputa a Première Brasil do Festival do Rio com seu segundo longa, "O Céu de Suely". Saura disse que assistiu apenas ao filme de estréia do diretor brasileiro --"Madame Satã" (2002)--, com quem se encontrou em Madri, para acertar o projeto conjunto. "É um homem muito talentoso e nos entendemos muito bem."

A uma platéia de cinéfilos que acompanhou sua aula magna, no Cine Odeon, na segunda, Saura, autor de clássicos como "Carmem" (1983) e de filmes que abordam a música como "Tango" (1998), falou da importância da música no cinema. "Vejo todos os tipos de filmes, mas sobretudo comédias americanas. Nesses filmes, a música persegue os personagens. Não suporto isso. Usa-se muito a música no cinema, mas de modo regular ou ruim."

O diretor contou uma anedota sobre seu conterrâneo Luiz Buñuel (1900-1983). "Ele dizia que não tinha interesse pela música no cinema, mas Buñuel estava surdo. E era mentira, porque, num filme de 1932, ele usou um trecho inteiro de Brahms", citou, assinalando a admiração pelo mestre. "Se tivesse que escolher um mestre, escolheria três: Buñuel, [o sueco Ingmar] Bergman e [o italiano Federico] Fellini. Cada um deles usou a imaginação no cinema segundo a sua cultura."

Amigo do cubano Tomás Gutierrez Alea, o Titón, Saura contou que esteve "a ponto de ir viver em Cuba", quando seu primeiro filme foi censurado na Espanha. "Mas eu queria falar do meu país e das pessoas do meu país." Desistiu de emigrar e acha que "estar aqui, hoje, com vocês, depois de quase 40 filmes, parece um milagre".

"Fotógrafo compulsivo", Saura contou que, "por amor a uma menina", foi atraído para a fotografia e, desta, ao cinema:

"Ela tinha 7 anos, e eu, 9. Não podia dormir de paixão. Como eu era muito tímido, não me atrevia a falar com ela. Peguei a câmera do meu pai, que era um péssimo fotógrafo, suas fotos saíam invariavelmente desfocadas. Escondido, fiz uma foto dela -vejam que já era meio voyeur- e até que não saiu mal. Desenhei um coração flechado atrás da foto e enviei-a para ela. Ela nunca me respondeu. Mas pelo menos eu comecei assim."

Sobre a produção atual de cinema, disse que, "com os avanços técnicos, qualquer um pode fazer um filme. O problema não são mais os meios, mas o talento" e defendeu que os cineastas busquem "se não um caminho diferente, pelo menos próprio".





Fonte: 24HorasNews

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