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Cultura
Quarta - 04 de Outubro de 2006 às 00:57
Por: Luiz Fernando Vieira

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O artista plástico Nilson Pimenta, um baiano radicado em Mato Grosso, brilha na capital britânica com uma individual promovida pelo Brazilian Contemporary Arts (BCA) e o To Be Tupi - duas instituições que procuram divulgar a arte e o artesanato brasileiro em terras inglesas. A exposição, aberta nesta terça-feira e que vai até o dia 15 de outubro, faz parte das comemorações do 25º aniversário do BCA e conta inclusive com a presença do pintor, que fica por lá até o fim de semana.

Não obstante os detratores da arte naïf - ingênua para alguns, primitiva para outros -, Pimenta segue levando o nome de Mato Grosso a várias partes do país e ao exterior justamente por manter a essência de uma pintura que não se preocupa com excelência técnica, mas tem profundidade e um forte apelo social. Em suas telas, os aspectos simples e, às vezes, aviltantes da vida no campo são eterna inspiração. Da mesma forma que mostra festas, alegria, também denuncia a degradação ambiental, o trabalho escravo ou a violência no campo.

São imagens bem familiares para alguém que ainda se considera um lavrador, um homem do campo. Que certa vez afirmou que não mais trabalha a roça com a inchada na mão, mas com o pincel. O artista que já foi vigia noturno, apesar de ter conseguido prestígio e hoje estar à frente do Ateliê Livre do Museu de Arte e de Cultura Popular da Universidade Federal de Mato Grosso (MACP/UFMT), mantém o jeito simples de homem do campo. Dificilmente se verá Pimenta utilizando vocabulário rebuscado para falar ou agindo com maneiras típicas de citadinos natos.

A individual em Londres - na ZiZi Gallery, no badalado Mayfair - certamente irá abrir ainda mais fronteiras para sua arte já bastante elogiada. E não é exagero dizer que vai fazer com que muita gente volte os olhos para a arte popular contemporânea brasileira também. Com curadoria de Roberto Rugiero, da Galeria Brasiliana, de São Paulo, a exposição será a primeira de arte popular brasileira no Reino Unido desde 1985, quando o fundador do BCA, Horst Troege, promoveu uma coletiva pioneira do gênero em solo inglês.

A individual parte de dois importantes momentos. Um deles é a comemoração pelos 25 anos do Brazilian Contemporary Arts, uma organização artística e cultural brasileira, sem fins lucrativos, fundada em 1981 em Londres, com o principal objetivo de ampliar o conhecimento sobre a arte e a cultura brasileira no Reino Unido. O outro é o fato de ser a primeira exposição organizada pelo To Be Tupi, projeto que tem por objetivo promover na Grã-Bretanha o melhor arte e artesanato brasileiros.

O evento é mais uma importante iniciativa de Roberto Rugiero, fundador da Galeria Brasiliana, que desde os anos 60 tem trabalhado com o mercado de arte e aprendeu com o marchand Giuseppe Baccaro a importância do ecletismo e dos artistas populares no contexto da arte brasileira. O mesmo que tratava-os em pé de igualdade com os demais, fascinado pelas pinceladas de Maria Auxiliadora, José Antonio da Silva, Chico da Silva, Heitor, Tereza d"Amico, Eli Heil.

Rugiero conta que se apaixonou pela obra do primitivo Agostinho Batista de Freitas, cuja carreira tinha o apoio do grande Pietro Maria Bardi, e desde então começou a investigar outros artistas. Entre eles Ranchinho, José Coimbra, Sergio Vidal, João Pilarski, Licidio Lopes, Lorenzato, Dalva de Barros, Irene Medeiros, Adir Sodré, Vicente Ferreira, Alcides Pereira e o próprio Nilson Pimenta.

O artista - Nilson Pimenta da Costa, de 56 anos, nasceu na Bahia e saiu de lá ainda nos braços da mãe rumo a Prata dos Baianos, no Espírito Santo, e com seis anos de idade chegou a Mato Grosso. Trabalhou em plantações em diversas cidades, como Barra do Garças, Brasilândia e Jaciara. Um pouco mais crescido, começou a reproduzir onde desse o que via no campo.

Os primeiros desenhos em papel foram feitos com lápis de cor, em 1979, já em Cuiabá, onde trabalhou como vigia noturno. Sua sorte foi que os desenhos acabaram chegando às mãos de gente como Humberto Espíndola, artista plástico premiado na Bienal de São Paulo em 1971 e então diretor do MACP, que o presenteou com os primeiros materiais para pintura.

Com um estilo já bem característico, Pimenta ganhou o primeiro Prêmio no Salão Jovem Arte da Prefeitura de Cuiabá em 1979. Em 1980, foi convidado para ser orientador do Atelier Livre, que tinha sido transferido da prefeitura para a Universidade Federal do Mato Grosso.

Em 1981 fez sua primeira mostra individual, sob a curadoria de Aline Figueiredo e vendeu todos os quadros. Saíram as primeiras matérias sobre seu trabalho nas revistas Manchete, Isto É, Veja. Rapidamente começou a participar de importantes exposições, entre elas "Arte Aqui é Mato", no Museu de Arte de São Paulo e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Realizou, ainda, inúmeras exposições individuais em Brasília, Salvador, São Paulo, Campo Grande e Rio de Janeiro. Hoje ocupa um lugar de destaque entre os pintores populares brasileiros atuais, sendo mesmo considerado por muitos o mais importante dentre eles.




Fonte: A Gazeta

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