Show de Gal Costa em Nova York vira CD nos EUA
O repertório é focado em standards associados à bossa nova - não por acaso, Tom Jobim é o compositor predominante no repertório - e em antigos sambas-canções. A rigor, há apenas uma música inédita na voz de Gal, I Fall in Love Too Easily, composta por Sam Cahn e Jules Styne para a trilha do filme Marujos do Amor, de 1945, e gravada por nomes como Frank Sinatra e Chet Baker, cujo repertório será o mote do próximo disco de estúdio da cantora. O standard americano ganhou batida suave no registro de Gal, que conversa com a platéia entre alguns dos 17 números.
O ineditismo de Live at the Blue Note está mais no fato de Gal cantar acompanhada por quarteto à moda dos pequenos grupos de jazz. Se Desafinado e Chega de Saudade soam estranhas, como se reclamassem a ausência da batida diferente de João Gilberto, Triste ganha suingue ultimamente bissexto no canto de Gal.
Bossas à parte, o andamento de músicas como Ave Maria no Morro é o do samba-canção em voga nos anos 40 e 50. E vale ressaltar a alta voltagem emocional da interpretação de Pra Machucar meu Coração, de Ary Barroso, de quem Gal grava também Camisa Amarela (cheia de ginga) e Aquarela do Brasil (em ritmo ligeiramente mais acelerado do que o habitual). Outro destaque é o arranjo mais arrojado de Nada Além, calcado no baixo. O número é herança do CD/show Todas as Coisas e Eu - assim como o medley que junta Sábado em Copacabana e Copacabana.
Com sua voz cristalina geralmente em primeiro plano, e em forma, Gal desfia temas como Fotografia, Corcovado, Wave e A Felicidade. Ou seja, de certa forma, Live at the Blue Note é quase um segundo volume de Gal Costa Canta Tom Jobim, o duplo álbum ao vivo de 2000. É que a obra genial do maestro soberano ainda é o passaporte mais rápido para fazer uma cantora brasileira atravessar fronteiras com êxito.
Gal tem cacife para investir mais em carreira internacional. Seu canto técnico é mais global do que o mundo dramático de Maria Bethânia, por exemplo. Mesmo com baixo teor de novidade para ouvidos brasileiros, Live at the Blue Note confirma o tom universal de Gal Costa.
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