Obra de Nilson Pimenta chega a Londres
Com curadoria de Roberto Rugiero, da Galeria Brasiliana de São Paulo, a exposição será a primeira de arte popular brasileira no Reino Unido desde 1985, quando o fundador do BCA, Horst Troege, promoveu uma coletiva pioneira do gênero em solo inglês.
A mostra faz parte das comemorações do 25º aniversário do Brazilian Contemporary Arts, uma organização artística e cultural brasileira, sem fins lucrativos, fundada em 1981 em Londres, com o principal objetivo de ampliar o conhecimento sobre a arte e a cultura brasileira no Reino Unido.
É, ainda, a primeira exposição organizada pelo To Be Tupi, projeto que tem por objetivo promover na Grã Bretanha o melhor arte e artesanato brasileiros.
Nilson Pimenta da Costa
Nilson Pimenta, 56 anos, tanto homem como artista, é pessoa singular. Pinta o que sabe, viu e experimentou, portanto traduz um conhecimento vivencial. Daí a sinceridade encantadora de suas telas, narrativas da verdade de uma facção da sociedade brasileira: o trabalhador rural, o roceiro e o peão. Esse homem esquecido do interior, brabo e surdo, e suas duras lidas. Homens cuja única fonte de renda são seus braços que tiram do agreste da terra – que não é sua – o seu minguado sustento e cujo único bem a perder são as suas resignadas vidas. Valiosos construtores que nada sabem de suas valias.
Nilson foi um desses homens e, se preciso for, o será novamente pois deligência não lhe falta. Baiano de nascimento, saiu de lá ainda nos braços da mãe rumo a Prata dos Baianos, no Espírito Santo, e com seis anos de idade dava com os costados no leste de Mato Grosso. Os campos de Barra do Garças, Brasilândia, Finca-Faca, Irenópolis e Jaciara o viram crescer plantando arroz, feijão, milho, amendoim em terra de toco, isto é, apenas derrubada e não mecanizada. Um ou dois anos depois da mata derrubada e feita a primeira e precária colheita, essas terras arrendadas eram entregues para o dono, já beneficiadas pelo seu suor. Mudanças. Outros municípios, novos ranchos. Taperas guardam mimos e abandonos, vestígios da breve morada do roceiro nômade que não consegue se enraizar.
Nessas andanças, à procura de novos alqueires para plantar e novas empreitadas a enfrentar, fossem matas para derrubar, campos para limpar, cercas para esticar ou cana para cortar, Nilson se fez homem e formou sua memória. Para retê-la, rabiscava num papel qualquer, carteira de cigarro vazia. Com pedaços de carvão desenhava numa cancela, com gravetos riscava o chão ou com os dedos deixava marcas na poeira da lateral de algum automóvel. Os primeiros desenhos em papel fez com lápis de cor, em 1979, já em Cuiabá, expulso do campo devido à má sorte com os roçados. Durante esse ano foi guarda do campo de Vigilante. Como o serviço era pouco, ficava só com aquele revolvão na cintura, aproveitava para rememorar visualizando no lápis e no papel o seu recente passado que colocara à margem dos seus afazeres. Foram esses os desenhos que nós, da Universidade, tomamos conhecimento em 1980. Humberto Espíndola, artista plástico premiado na Bienal de São Paulo em 1971 e então diretor do Museu de Arte e Cultura Popular, presenteou Nilson com as primeiras tintas a óleo (e algumas eram estrangeiras) e o colocou na pintura. Foi como se só e sempre fizesse isso", escreveu em 1984 Aline Figueiredo, pesquisadora e esposa de Humberto, sobre o Nilson Pimenta que já começava a chamar a atenção do circuito nobre da arte popular brasileira.
Nilson entrou em contato com o artista plástico Humberto Espíndola através de Adir Sodré, que já freqüentava o Atelier Livre montado pela Prefeitura de Cuiabá.
Em Cuiabá, sob a orientação da notável pintora Dalva de Barros, o atelier formou uma geração de artistas, entre eles o próprio Adir Sodré, além de Alcides Pereira dos Santos, João Sebastião da Costa e Gervane de Paula. Outro atelier livre que rendeu muitos frutos foi o do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, sob orientação do renomado artista Ivan Serpa.
O estilo e desenho de Nilson Pimenta, no entanto, não mudaram – permaneceu fiel a seu estilo. Nilson ficou mais fascinado com a disponibilidade de material. Humberto Espíndola deu-lhe um belo estojo de tinta a óleo e ensinou as diluições e misturas, o que ajudou Nilson no desenvolvimento da técnica de pintura a óleo.
Em 1979 ganhou o Primeiro Prêmio no Salão Jovem Arte da Prefeitura de Cuiabá. Em 1980 foi convidado para ser orientador do Atelier Livre, que tinha sido transferido da prefeitura para a Universidade Federal do Mato Grosso.
Em 1981 fez sua primeira mostra individual, sob a curadoria de Aline Figueiredo. Vendeu todos os quadros.
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