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Cultura
Quarta - 27 de Setembro de 2006 às 03:47
Por: Ubiratan Brasil

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Os amigos enumeram elogios, a família preparou uma comemoração discreta e marcante, mas Luis Fernando Verissimo preferia passar em silêncio a data de ontem, quando completou 70 anos. Não por vaidade ou orgulho, mas o avançar da idade (em outras palavras, a velhice) pode significar, com o tempo, uma diminuição no poder criativo. Uma preocupação precoce, pois, no caso de Verissimo, ainda não há nenhum vestígio de queda na criatividade: em novembro, ele lança o romance A Décima Segunda Noite (Objetiva), adaptação para a célebre comédia Noite de Reis, de Shakespeare.

Além disso, continua com sua colaboração em jornais brasileiros. O perfil típico de um jornalista em ascensão aos 70 anos. "Não sei se estou em ascensão, a impressão é que estou num declive, e sem freio", comenta ele, no já tradicional tom sério que encobre uma fina ironia.

Cronista, cartunista, ficcionista, saxofonista, gourmet e torcedor fanático do Internacional, Luis Fernando Verissimo é uma das raras unanimidades positivas do País. Autor de quase 60 livros que já venderam cinco milhões de exemplares (entre eles, os best sellers O Analista de Bagé e A Comédia da Vida Privada) e de personagens emblemáticos (a Velhinha de Taubaté, que criticava a ditadura, o detetive Ed Mort, as Cobras), o filho do escritor Erico Verissimo só começou a escrever aos 30 anos, depois de ter passado por várias escolas de arte e desenho, inacabadas; de ter tentado o comércio "só para reforçar o mau jeito da família"; e de ter passado por uma rápida carreira jornalística, de revisor e colunista de jazz a cronista principal do jornal gaúcho Zero Hora.

O resto é história - em pouco tempo, Verissimo cruzou fronteiras, tornou-se colaborador de programas humorísticos de televisão e rádio, vistos e ouvidos em todo o Brasil. Sua timidez tornou-se outra característica sempre lembrada, reforçando o valor de seu texto: sim, Verissimo sempre buscou ser engraçado na escrita e não na fala. Na verdade, nunca se julgou um humorista. "Acho que há uma diferença entre ser humorista e fazer humor", disse, certa vez. "O humorista é o cara que tem uma visão humorística das coisas. O humor é sua maneira de ver e de ser."

Um filosofia que se revelou útil durante a dura fase de exceção. Verissimo conta que, durante a ditadura, ele enviava uma crônica para o jornal deixando sempre uma na gaveta, de reserva. "E não foram poucas as vezes em que saiu a reserva", comentou, em outra entrevista. "Os censores pareciam achar o cartum algo infantil; então, era mais fácil fazer passar um cartum político que um texto político."

Autodeclarado um gaúcho desnaturado, por não andar a cavalo, não tomar chimarrão e ter nascido e se criado na cidade, Verissimo comemorou com a família, mas não com um festão. "Em respeito aos meus sentimentos", justifica.




Fonte: A Gazeta

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