Projeto Peixe-Boi registra primeiro encalhe da temporada
O peixe-boi é uma fêmea recém-nascida de 1,22 metros e 26 kg. Ela foi resgatada pela ONG Aquasis, entidade membro da Remane que atua nos encalhes desses animais no Ceará. “O animal foi transportado até o Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos, mantido por nossa instituição. A filhote está recebendo cinco mamadeiras diárias, além do tratamento prescrito pela veterinária Bianca de Luca”, explica a diretora-presidente da Aquasis, Cristine Negrão.
A analista ambiental responsável pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), área responsável pela reabilitação dos animais, do Centro Mamíferos Aquáticos (CMA)/Ibama, Luisa Lopes, afirma que por conta da evolução clínica do animal, ele será mantido na Aquasis nos próximos 30 dias. “Este prazo é suficiente para as articulações necessárias ao seu transporte até o CMA/Ibama, em Itamaracá, e aos ajustes necessários nesta unidade para sua adequada acomodação em nossas instalações”.
Essas adequação são necessárias, pois desde o recebimento do último animal encalhado, no dia 10 de agosto do ano passado, o coordenador nacional do Projeto Peixe-Boi e chefe do CMA, Régis Lima, alerta para o agravamento do quadro de superpopulação de animais e esgotamento da capacidade de manejo do Cetas do Centro.
“Desde 1991, estamos investindo sem parar na ampliação da estrutura para receber e manejar os animais. Mas, hoje, essa estrutura, reconhecida internacionalmente com uma das melhores para cuidar desses mamíferos aquáticos, está pequena para a demanda”, garante Lima.
Atualmente o Cetas/CMAIbama abriga dez animais nos oceanários de manutenção de plantel reprodutivo, abertos à visitação pública e 17 outros na área destinada à reabilitação. Esses últimos devem ganhar a liberdade quando desmamarem por completo e estiverem com o peso ideal e condições clinicas favoráveis para soltura. Ao todo, 49 animais já passaram pelo Centro e, destes, 15 foram reintroduzidos no habitat natural.
O Projeto Peixe-Boi é executado pelo Centro Mamíferos AquáticosIbama, em parceria com a Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocínio oficial da Petrobras.
Os encalhes dos filhotes de sirênios (ordem à qual pertence o peixe-boi) ocorrem principalmente devido à degradação dos mangues e estuários, berçários naturais do peixe-boi. A instalação de projetos de carcinicultura, o assoreamento dos estuários e a concentração de embarcações motorizadas têm impedido o acesso dos animais a áreas importantes para reprodução, alimentação e suprimento de fontes de água doce, afetando o comportamento deles.
“A degradação do meio ambiente força as mães a dar cria no mar, levando o filhote a se perder de sua mãe, por não estar acostumado às variações de maré e com a correnteza. Desta forma o animal termina encalhando na praia”, explica a veterinária da Fundação Mamíferos Aquáticos, Fernanda Niemeyer.
Com esse encalhe sobe para 19 o número de peixes-bois encalhados vivos na costa cearense que foram trazidos para CMAIbama, em Itamaracá. Nove desses animais já foram reintroduzidos em seu habitat natural. “Entre os reintroduzido dois foram recapturados e estão de volta ao cativeiro, cinco estão sendo monitorados e dois são classificados como desaparecidos, pois não voltaram a ser localizados, vivos ou mortos, após a reintrodução”, explica Fernanda Niemeyer, da Fundação Mamíferos Aquáticos.
Um dos motivos do elevado número de encalhes no Ceará é que, segundo dados da Aquasis, 70% dos mangues do litoral cearense apresentam algum nível de degradação. De acordo com o Plano de Ação para mamíferos Aquáticos, editado pelo Ibama, o peixe-boi marinho é o mamífero aquático mais ameaçado de extinção do país, restando apenas cerca de 500 animais ao longo de cinco mil quilômetros de litoral, desde Alagoas até o Amapá. O animal já está extintos nas costas do Espírito Santo, Bahia, Sergipe e Pernambuco, onde há registros históricos da ocorrência de peixe-boi.
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