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Meio Ambiente
Segunda - 25 de Setembro de 2006 às 12:40

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Supernova 'esquisita' foi encontrada em 2003 Um grupo internacional de astrônomos encontrou uma supernova que não deveria existir. Para piorar: o achado pode implicar que os cientistas estão pisando em ovos ao tentarem identificar a taxa de expansão do Universo num passado remoto. Em suma: problemas.

Até agora, as chamadas supernovas do tipo Ia eram as mais previsíveis do cosmos. Os cientistas sabem que essas explosões ocorrem em estrelas binárias, compostas por uma anã branca (objeto compactado que é o resto mortal de uma estrela como o Sol) e uma estrela normal. Ao longo do tempo, a anã branca vai roubando matéria de sua companheira, até atingir um limite e explodir violentamente. Esse limite, descoberto pelo indiano Subrahmanyan Chandrasekhar (1910-1995), que inclusive ganhou o Prêmio Nobel pelo cálculo, era de 1,4 massa solar. Ou seja, toda vez que a anã branca atingia, ao roubar massa de sua vizinha, 40% mais matéria que o Sol, explodia como uma supernova Ia.

Pode não parecer tão importante, mas é. Afinal, se esse tipo de supernova é sempre igual, com objetos de mesma massa e com a mesma energia envolvida, para saber a distância em que ela está, basta calcular o brilho que tal explosão bem conhecida teria se estivesse a tantos anos-luz daqui. Sabendo a distância, sabemos a época (lembre-se que a luz do objeto que chega até nós levou um tempão para chegar até aqui, de modo que a imagem que temos dele é a do que ele foi num passado remotíssimo), e, analisando o quanto a luz foi “esticada” durante a viagem até a Terra, pode-se calcular em que ritmo o Universo estava se expandindo na ocasião.

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Em suma: as supernovas do tipo Ia serviam como “faróis” no oceano cósmico. Foi graças a elas, por exemplo, que os astrônomos conseguiram determinar que a expansão do Universo está se acelerando, e não freando, como era o esperado pela teoria. (Hoje, para explicar essa aceleração, os cosmólogos evocam a existência de uma estranha energia escura, que parece agir de forma contrária à gravidade, repelindo os objetos nas grandes escalas do cosmos.)

Pois é, serviam. Porque um objeto encontrado em 2003 e recém-estudado por Andrew Howell, da Universidade de Toronto, no Canadá, e seus colegas, embora seja uma supernova Ia, não se originou de um objeto com 1,4 massa solar. “Logo que analisamos o espectro dela [a luz, dividida em suas componentes] e identificamos sua composição química vimos que ela era uma supernova esquisita”, disse Howell ao G1.

Análises posteriores só fizeram por confirmar a esquisitice. Ao que parece, a supernova SNLS-03D3bb (como é conhecida entre os astrônomos) só foi explodir quando atingiu cerca de 2,1 vezes a massa do Sol. “Não temos tanta certeza de que o valor seja exatamente esse, mas estamos convencidos de que ela não explodiu com o tradicional 1,4”, diz o líder do estudo, que foi publicado na última edição da revista científica britânica “Nature”.

Para explicar essa supernova que não deveria existir, Howell e sua equipe propõem duas hipóteses. “Uma é que a anã branca estivesse em altíssima rotação. Assim, a força centrífuga dela poderia adiar a explosão conforme ela fosse adquirindo mais massa roubada de sua companheira. Outra, que consideramos um pouco menos provável, é que ela seja fruto da colisão de duas anãs brancas”, afirma.

Cosmologia na mira

Independentemente da explicação, a conclusão importante é que os “faróis”, antes tidos como regulados precisamente, podem estar cada um numa sintonia diferente, confundindo os astrônomos. No artigo publicado na “Nature”, os pesquisadores dizem que “futuros estudos cosmológicos terão de considerar possível contaminação de eventos como esse”.

Entretanto, ainda não é o caso de os cientistas rasgarem todos os seus estudos e começarem tudo do zero. “Na verdade, acho que o resultado não tem tanto impacto nas conclusões obtidas até agora com as supernovas Ia”, diz Howell. “A maioria delas continua bem confiável, e podemos distinguir quando uma estrela está fora do padrão, como fizemos agora.”

Apesar disso, o achado evoca a necessidade de os astrônomos procurarem mais “supernovas que não deveriam existir” para aperfeiçoar o conhecimento sobre essas incríveis explosões. Howell acha que é uma coisa boa. “Antes nós só conhecíamos dois tipos de supernova, tipo I e tipo II. Depois, novos estudos mostraram que o tipo I se dividia em tipo Ia, Ib e Ic. Acho que nosso resultado é só mais uma oportunidade para aprofundarmos nosso entendimento desses objetos.”





Fonte: G1

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