Candidatos arrecadam um terço atribuidos a eles no Mensalão
Valério foi o principal operador de um esquema que teve como objetivo distribuir dinheiro entre partidos e parlamentares, supostamente em troca de votos em favor do governo no Congresso, de acordo com denúncia do Ministério Público Federal. O caso ficou conhecido como o escândalo do mensalão.
Dentre os acusados de participação no esquema, os 11 que são candidatos na eleição deste ano declararam ter arrecadado R$ 2,91 milhões para a campanha até agora, de acordo com declaração ao Tribunal Superior Eleitoral em setembro. O valor é equivalente a 34,6% dos R$ 8,41 milhões que os candidatos sacaram das contas de Valério, levando em conta apenas o que eles admitiram ter recebido.
Cinco dos candidatos alegam ter sacado bem menos ou nada do que lhes fora atribuído. O deputado Vadão Gomes (PP-SP), por exemplo, candidato à reeleição, diz não ter recebido nada das contas de Marcos Valério. O publicitário mineiro, no entanto, afirmou à CPI dos Bingos que Gomes recebeu R$ 3,7 milhões.
Se considerados os valores que os acusados não admitem ter recebido, o total de repasses das contas de Valério chegaria a R$ 19,36 milhões. Com isso, o valor arrecadado por eles na campanha deste ano equivaleria a apenas 15,3% do que teria sido sacado das contas de Marcos Valério. O cálculo não inclui os R$ 4,9 milhões de empréstimos supostamente fictícios tomados por Marcos Valério, avalizados pelo PT e depois repassados ao partido.
O esquema Segundo a denúncia original do deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ), o esquema do mensalão consistia no pagamento de "mesadas" a parlamentares para votar matérias de interesse do governo. De acordo com as investigações da Câmara, os recursos vinham de várias fontes, de empréstimos bancários supostamente fictícios a desvios de recursos de estatais e fundos de pensão de empresas públicas.
Dos 11 candidatos acusados de envolvimento com o mensalão que disputam a eleição, um não apresentou a prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) -- José Borba (PMDB-PR). A candidatura de Borba foi indeferida pelo Tribunal Regional Eleitoral do Paraná porque ele teria feito o registro como avulso, já que o PMDB do estado diz que seu nome não havia sido referendado no prazo estipulado pelo diretório do partido.
O deputado alega, no entanto, que seu nome fazia parte da lista oficial dois antes do fim do prazo de registro. Apesar de indeferido, seu nome continua na lista oficial de candidatos do TSE.
Apenas um candidato relacionado ao escândalo do mensalão, José Genoino (PT-SP), não exercia mandato na época em que o escândalo veio à tona -- ele era o presidente nacional do PT. Genoino assinou os contratos de empréstimo em nome do PT como avalista de Marcos Valério.
Outros cinco acusados de envolvimento com Marcos Valério (Eduardo Azeredo, do PSDB-MG, com mandato como senador até 2011, Wanderval Santos, do PL-SP, Roberto Brant, do PFL-MG, Carlos Rodrigues, sem partido/RJ, e José Janene, do PP-PR) não se candidataram. No total, eles sacaram R$ 4,1 milhões das contas de Valério. Azeredo, porém, teria sido beneficiado por dinheiro das contas de Marcos Valério em 1998, quando era candidato ao governo de Minas Gerais.
Há ainda três acusados de envolvimento com o mensalão que tiveram seus mandatos cassados e perderam os direitos políticos por oito anos: Roberto Jefferson (PTB-RJ), que denunciou o caso e admitiu ter recebido R$ 4 milhões, o ex-ministro José Dirceu (PT-SP), acusado por Jefferson de comandar o esquema, e Pedro Corrêa (PP-PE), que teria sido beneficiário de R$ 4,1 milhões, embora tenha admitido ter recebido apenas R$ 700 mil das contas de Marcos Valério. Dirceu nega as acusações de Jefferson.
Arrecadação legal Entre os chamados "mensaleiros", o recordista em arrecadação legal, segundo os dados de prestação de contas de setembro divulgados pelo TSE, foi o ex-presidente do PL Valdemar da Costa Neto, com R$ 777.302,80, seguido do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), que conseguiu até setembro R$ 635.967,50.
O terceiro mais bem colocado na lista de arrecadação legal é o petista Professor Luizinho, acusado pela CPI do Mensalão de ter recebido R$ 20 mil das contas do publicitário Marcos Valério, ironicamente o menor valor entre todos os envolvidos no caso. Na prestação de contas feitas ao TSE, Professor Luizinho disse ter arrecadado até agora R$ 476.108,68, dos quais gastou R$ 362.761,96.
Costa Neto renunciou ao mandato para escapar de um possível processo de cassação. João Paulo, por sua vez, ameaçou renunciar, mas voltou atrás, e acabou absolvido no plenário da Câmara, junto com quase todos os outros acusados de envolvimento com o esquema.
Os R$ 777.302,80 de arrecadação declarados à Justiça Eleitoral por Costa Neto (26,7% do total arrecadado pelos 11 acusados no esquema) o colocam como campeão de eficiência nas duas pontas de financiameto de campanha, a legal e a ilegal. Nas sombras do mensalão, o ex-presidente do PL teria conseguido R$ 10,8 milhões, embora tenha admitido o recebimento de um valor menor, R$ 6,5 milhões.
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