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Cultura
Terça - 19 de Setembro de 2006 às 14:42
Por: João Negrão

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“Bombril!”. “Pixaim!”. Ouvir expressões ofensivas contra o cabelo crespo é comum para crianças negras, especialmente meninas. E a escola muitas vezes é o lugar onde elas são mais repetidas. Discutir o assunto com professores, alunos e pais é o objetivo da cartilha infantil “Cabelo Ruim?”, da jornalista Neusa Baptista, que será lançada amanhã (20), às 9 h., durante a Literamérica 2006.

A inspiração para o livro veio da própria experiência da jornalista, negra e vinda de uma família de sete irmãs, que sentiu desde cedo as desvantagens de ter cabelo crespo. Na escola, as piadinhas eram inevitáveis. “Me chamavam de bombril, quiçaça e outras coisas piores”, lembra ela. Na família, era comum ver as irmãs às voltas com cremes alisantes que prometiam “resolver o problema” do cabelo crespo, mas apenas danificavam os fios provocando até quedas. Não gostar do próprio cabelo era uma atitude comum. E as conseqüências para a auto-estima, devastadoras.

Virada – Foi em 1998, ao aderir às tranças rastafári, que Neusa, então estudante de Jornalismo, percebeu uma mudança no modo de encarar o cabelo. Segundo ela, as tranças, características da estética africana, afirmaram sua negritude e, ao mesmo tempo, fizeram com que percebesse sua beleza. De 1998 a 2001, ela foi adepta a esse tipo de penteado, até resolver usar seu cabelo ao natural. “Foi muito tranqüilo isso para mim. E pensar que há alguns anos eu jamais me veria usando meu cabelo sem nenhum tipo de química, trança ou outro artifício. Desde então, perdi a vergonha de meu cabelo.”

Da experiência positiva, nasceu a idéia de um estudo sobre o tema, que ela inscreveu com êxito numa pós-graduação em Salvador. Mas desistiu do curso e guardou um acervo de entrevistas, documentos, livros e recortes de jornais sobre o assunto. A idéia da cartilha “Cabelo Ruim?” surgiu do desejo de transmitir às crianças valores positivos sobre o cabelo, semeando a dúvida sobre a feiúra do cabelo crespo. “O objetivo desta cartilha não é dar receitas prontas, mas estimular o questionamento. Há mentiras que, de tanto serem repetidas, viram verdades. Uma delas é a da feiúra intrínseca do cabelo crespo. Essa é a questão”, explica a jornalista.

História

Com ilustrações da designer gráfica Nara Silver, a cartilha “Cabelo Ruim?” conta a história de três meninas que, ao se depararem com o preconceito contra o cabelo crespo em sala de aula, assumem uma postura positiva em relação ao assunto e conseguem dar a volta por cima de uma forma divertida. “É uma maneira de mostrar à criança que seu cabelo é bonito sim, e deve ser aceito como é. A pergunta que precisa ser feita é: quem disse que o cabelo crespo precisa ser alisado para ser bonito?”, finaliza Neusa.

O projeto, patrocinado pela Lei Estadual de Fomento à Cultura, está sendo divulgado gratuitamente em escolas e outras instituições interessadas. Os interessados podem obter mais informações pelo telefone: (65) 3664 1984.





Fonte: Da Assessoria

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