ANÁLISE-Segundo governo Lula deve ter diplomacia mais contida
Mas ele deve reduzir as ambições da política externa brasileira caso obtenha um segundo mandato nas eleições de outubro, o que é amplamente esperado. Analistas dizem que ele vai priorizar as relações comerciais e ficará afastado das disputas entre os governos da Venezuela e dos Estados Unidos.
"A política externa não vai ser uma preocupação tão grande [para Lula]. Ele vai ter de se voltar mais para questões domésticas", disse o brasilianista Kenneth Maxwell, da Universidade de Harvard.
Lula acumula alguns sucessos e outros fracassos diplomáticos nestes quatro anos.
Analistas dizem que a liderança do Brasil no G20 (grupo de países em desenvolvimento) foi essencial nas negociações da Organização Mundial do Comércio por uma nova ordem comercial global. Eles esperam que o Brasil continue ativamente envolvido nessa questão.
A falta de entusiasmo pela Área de Livre-Comércio das Américas (Alca) atraiu aplausos dos que vêem em Lula um contrapeso dos países pobres ao poderio econômico dos EUA, mas foi criticada pelos que defendem uma relação comercial mais intensa com os norte-americanos.
Na frente regional, o futuro do Mercosul preocupa pelo ritmo lento da integração e da cooperação econômica no bloco, que reúne também Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela.
"O Mercosul não só não avançou como pode ter recuado, então isso é realmente um problema, pois supostamente seria a principal área da nossa política externa", disse Mario Marconini, especialista em comércio em São Paulo.
O setor privado está descontente por não ser muito consultado nas questões comerciais e por acreditar que o Brasil fez concessões demais no Mercosul em troca de pouca coisa, segundo Marconini.
"A questão mais ampla é como o Brasil vê sua inserção nesta economia cada vez mais globalizada", disse Riordan Roett, professor da Universidade Johns Hopkins, de Washington. "Em muitos aspectos, a política externa mais interessante será a política externa econômica e financeira do segundo governo Lula, conforme eles [o Brasil] tentem atingir o grau de investimento".
O FATOR CHÁVEZ
As aspirações de Lula também foram de encontro às ambições do venezuelano Hugo Chávez, que vive às turras com os Estados Unidos e busca aliados para sua causa socialista na região.
Quando Lula foi eleito, conservadores dos EUA viram com preocupação o surgimento de um suposto "Eixo do Mal" na América Latina, composto por Chávez, Lula e o cubano Fidel Castro. Na verdade, o presidente petista se tornou um dos maiores amigos de Washington na região, apesar das diferenças comerciais.
Lula ofereceu um churrasco a George W. Bush quando o presidente dos EUA foi a Brasília, mas também recebeu Chávez várias vezes.
"Os Estados Unidos vão pressioná-lo para ser mais anti-Chávez, mas não acho que ele queira ser. O Brasil não vai cair nessa armadilha", disse Maxwell.
Um constrangimento no atual governo foi a atitude do novo presidente da Bolívia, Evo Morales, que nacionalizou a produção de gás depois de ser recebido de braços abertos por Lula. Analistas dizem que diplomatas e técnicos da Petrobras vão resolver esse problema de forma discreta nos próximos meses.
A campanha por uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, uma obsessão do primeiro mandato de Lula, também está mais complicada, em parte porque a situação no Haiti, onde o Brasil comanda as tropas de paz da ONU, parece a cada dia mais caótica.
Para alguns especialistas, o governo Lula precisa se dedicar menos a posições políticas gerais e dar mais ênfase à competição com países como China e Índia, especialmente buscando mais investimentos externos.
"A liderança é um jogo difícil. Este governo foi um pouco pretensioso sobre o que achava que poderia conseguir, e, talvez, tenha dado um pouco com a cara na parede", disse Marconini.
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