Teatro Mosoica encena texto de Ariano Suassuna em Chapada dos Guimarães
Uma Mulher Vestida de Sol, texto inédito de Ariano Suassuna, foi escrito no ano de 1947, quando o autor tinha 20 anos, sendo sua primeira obra e única tragédia. Partindo de um trecho do Apocalipse, sobre uma das aparições da Virgem Maria, o autor concebe uma fusão harmônica entre o barroco e o popular, real e mítico, além de uma verdade poética e dramática, subsídios estes que servem para retratar um drama humano universal – a luta do homem pela terra. É uma tragédia nordestina, com uma atmosfera de amor e violência que nos remete às obras elisabetanas, unindo sangue, honra, família e incesto.
Nesta montagem, o texto é ambientado em pleno cerrado mato-grossense, no Horto Florestal de Chapada dos Guimarães (MT). Região que no período de estiagem torna-se tão árido e inóspito quanto à região retratada na tragédia de Suassuna. A Aridez é caracterizada tanto pelo cenário real e pelos silvos dos ventos da Chapada, como também o figurino feito em tons terrosos e que inspiram a interpretação do elenco.
A história conta a disputa de terra entre os cunhados Joaquim Maranhão e Antônio Rodrigues, que têm suas terras divididas por uma cerca, pomo da discórdia de uma guerra declarada. Desta forma a história tem dois núcleos familiares: do lado de Joaquim Maranhão, moram sua filha Rosa e Donana, avó de Rosa, que viu sua filha ser assassinada por Joaquim Maranhão; do lado de Antônio Rodrigues, moram sua esposa Inocência, irmã de Joaquim e o filho Francisco que foge de casa, por uma razão desconhecida. Rosa, filha de Joaquim, nutre sentimentos por Francisco, filho de Antônio, ocasiando o amor impossível entre os filhos das duas casas.
Para cuidar da cerca do lado de Antônio Rodrigues, estão os capangas Caetano e Manuel (que é também o coveiro da região); do lado de Joaquim Maranhão, os irmãos Martim e Gavião, sobrinhos de Joaquim, que são obrigados a se tornar jagunços por circunstâncias da vida. Martim é apaixonado por Rosa, sua prima.
Cícero, personagem enigmático tem um ar profético e chega pra contar a desgraça que se abaterá sobre aquelas terras. A morte de Neco, filho dos retirantes Inácio e Joana é o ínicio do ciclo de mortes que desencadeará durante toda a história.
Esta é a primeira montagem feita para o teatro de Uma Mulher Vestida de Sol, que tem a direção de Maira Jeannyse. Maira Jeannyse é formada em Artes Cênicas pela Universidade do Rio de Janeiro (UniRio) com habilitação em Direção Teatral. A diretora diz que o interesse pelo texto surgiu por conta do tema, o povo do sertão com suas acirradas lutas, a atmosfera de amor e violência unindo os elementos sangue, honra, família em que a tensão cresce entre rifles, cercas, procissões de enterros, covas e cadáveres.
Para a Companhia Teatro Mosaico, este espetáculo “coroa” uma história de mais de dez anos de estrada e o convite feito à diretora Maira Jeannyse surgiu por conta da referência em pesquisa feita com teatro e cultura popular, característicos das obras do repertório do Teatro Mosaico. Para esta montagem, além do elenco principal, alguns artistas regionais foram convidados para entremearem as cenas, alguns grupos folclóricos e também artesãos de Chapada dos Guimarães confeccionaram elementos que serão utilizados em cena.
Este projeto foi contemplado pelo Prêmio Myrian Muniz da Funadação Nacional das Artes do Ministério da Cultura. Uma Mulher Vestida de Sol, estréia no dia 16 de setembro no Horto Florestal de Chapada dos Guimarães e contará com a presença do autor do texto, Ariano Suassuna na ocasião da estréia. O espetáculo fica em cartaz até o dia 08 de outubro, aos sábados e domingos às 19h30. Informações: (65) 3623-0000.
Comentários