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Politica Brasil
Domingo - 03 de Setembro de 2006 às 10:45

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O empresário Luiz Antônio Vedoin fez estremecer o Congresso ao detalhar, em depoimentos prestados no último mês de julho à Justiça Federal, como subornou uma centena de parlamentares e ex-parlamentares ao longo dos últimos cinco anos. Vedoin comandava um esquema de pagamento de propinas em troca de emendas ao Orçamento destinando recursos a prefeituras para a compra de ambulâncias – que eram vendidas por sua empresa, a Planam. Há duas semanas, em entrevista a VEJA, o empresário somou mais um nome à lista de políticos que diz ter corrompido: o do senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT). Como, em declarações anteriores, ele não havia comprometido o senador, imediatamente entrou em curso uma estratégia com o fim de desqualificar as acusações do empresário. Vedoin, sugeriram jornalistas ingênuos, estaria usando a imprensa para um acerto de contas com os políticos: inocentaria alguns deles – na esperança de receber algumas dívidas – e faria novas acusações a outros, por razões ainda não muito claras.

É certo que o dono da Planam decidiu contar o que sabia não por elevado sentimento de Justiça, mas para escapar da cadeia – afinal de contas, é o que prevê o benefício da delação premiada do qual resolveu fazer uso. É evidente ainda que, por sua ação corruptora e alto grau de envolvimento no esquema, suas declarações devem ser encaradas como um ponto de partida para as investigações. Mas é inegável também que todas as confissões que fez até agora se revelaram bastante robustas, tanto do ponto de vista documental como de testemunho. Essas confissões não podem, por obra daquela costumeira associação entre ingenuidade jornalística e malandragem política, ser descartadas por causa de eventuais fragilidades de outros depoimentos de Vedoin.

Uma das confissões mais consistentes do corruptor foi feita a VEJA, em entrevista exclusiva publicada duas semanas atrás. Nela, Vedoin disse ter pago ao senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) uma propina de 40.000 reais por emendas apresentadas pelo parlamentar. O dinheiro, afirmou, foi repassado ao deputado Lino Rossi (PP-MT) a pedido de Antero. Diante dessas declarações, o senador jurou inocência. Dias depois, porém, o dono da Planam não só ratificou as afirmações junto à 2ª Vara Federal de Mato Grosso como deu detalhes da negociação. Segundo o depoimento, foi seu pai, Darci, quem negociou diretamente com Antero, depois de ser recebido no gabinete do senador por sua secretária. O empresário ainda entregou à Justiça a cópia de um ofício enviado pelo deputado Lino Rossi ao Ministério da Saúde. Nele, aparece detalhada a cota do senador Antero no total de recursos das emendas da bancada de Mato Grosso para a compra de ambulâncias – valores e destinos coincidem com o que havia dito Vedoin.

"Os indícios contra o senador são fortes", afirma o presidente da CPI dos Sanguessugas, Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ). Na semana passada, VEJA teve acesso a outro documento que prova, no mínimo, que Antero tinha o hábito de discutir emendas com uma turma pouquíssimo recomendável. Trata-se de uma ata da reunião da bancada de Mato Grosso que, em 2000, definiu a apresentação de emendas ao Orçamento no valor total de 750.000 reais. Parte desses recursos – 50.000 reais – destinava-se à compra de ambulâncias. Participaram da reunião dez políticos, além de Antero, que assinou a ata. Desse grupo, nada menos que seis parlamentares estão sendo investigados por participação no esquema dos sanguessugas. O senador, bem como outros políticos acusados por Vedoin, tem, sim, de ser investigado. Se o empresário está tentando jogadas desonestas para auferir benefícios, isso não pode servir de pretexto para poupar culpados. Cabe à Justiça – e não à imprensa ou ao espírito de corpo dos políticos – separar o joio do trigo.





Fonte: 24 Horas News

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