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Literatura: O acervo de Lenine Póvoas
Lenine de Campos Póvoas foi um dos mais produtivos pesquisadores da cultura e da história de Mato Grosso, mas boa parte do que publicou não chegou a tantas pessoas quanto poderia - ou deveria. Um levantamento feito em seu acervo pela professora Walnice Vilalva, da Unemat (Tangará), constatou a existência de muitos pacotes fechados com livros do historiador que agora serão vendidos num bazar montado especialmente para isso, na segunda edição da Literamérica. A descoberta foi certamente um presente para a instituição, que iniciava um trabalho de organização do imenso volume de obras recebido como doação.
Apesar de o contato com a família de Lenine Póvoas ter sido iniciado há cerca de três meses, somente esta semana a equipe começou a mexer no material, sob autorização do filho Eduardo Gargaglione Póvoas. Walnice percebeu que a biblioteca se divide em duas esferas. A primeira é formada por um vastíssimo volume de material que era usado por Lenine em suas pesquisas ou leituras. A segunda por títulos que ele publicou e que não conseguiu distribuir - publicou nada menos que 27 obras. Walnice conta que foi uma grande surpresa encontrar tanto material guardado. O volume, calcula, deve chegar perto dos dois mil livros.
Na análise da professora, que tem doutorado em Teoria e História Literária pela Unicamp, isso mostra um sistema falho de divulgação e de acessibilidade da produção científica do Estado. Walnice confessa-se triste de ver que havia pessoas se esforçando para publicar, para produzir conhecimento, porém esse conhecimento não chegava de forma satisfatória aos leitores, às bibliotecas. "Que apoio esses pesquisadores tinham para tornar suas obras acessíveis? O estado não tinha gerado mecanismos que dessem condições para isso. Até hoje. Mato Grosso cresceu muito em termos de editoras, mas ainda persiste o problema da distribuição", lamenta.
Vale ressaltar que, durante um bom tempo, a produção de Lenine Póvoas foi impressa fora do estado. Todos os livros feitos com recursos do próprio autor. As tiragens eram geralmente pequenas, muitas vezes inferiores a mil exemplares. E ainda assim Walnice encontrou títulos com mais de 400 livros ainda guardados. O que a comoveu bastante foi constatar que, depois de dezenas de anos de pesquisa, ele terminou sua vida de estudioso vendo que muitos desses livros ainda estavam ali na prateleira.
Isso, salienta a pesquisadora, não diz sobre o autor. Não quer dizer que ele não se mobilizou no sentido de ver sua produção chegar ao público. Diz muito sobre um problema histórico de Mato Grosso. "E a gente ainda vive os reflexos disso hoje", diz, lembrando de outro trabalho realizado na Unemat dentro do Projeto de Preservação e Difusão da Literatura Mato-grossense do Início do Século 20. "Tivemos que reeditar A História da Literatura Mato-grossense, de Rubens de Mendonça. Não tinha em lugar nenhum. A filha dele possuía um único exemplar", conta.
Para Walnice, Lenine Póvoas e Rubens de Mendonça são clássicos, porque foram eles que primeiro escreveram sobre a cultura e a literatura mato-grossense. Os pesquisadores de hoje têm obrigatoriamente que passar pelo que eles fizeram. "Foi um choque para mim ver que havia unidades que poderiam estar em bibliotecas, universidades. Uma negligência histórica. Fico comovida porque a gente que é pesquisador sabe como é difícil fazer um livro".
Eduardo Póvoas, que é odontólogo e revela que nunca foi pressionado pelo pai para seguir o mesmo caminho, diz não ter dúvida de que a vontade dele, assim como a dos filhos, seria a de continuar a divulgação de sua obra. "É importante que isso não tenha solução de continuidade", frisa. Eduardo lembra que Lenine costumava colocar os livros no carro e sair distribuindo, com uma "folhinha" datilografada, onde anotava onde e quantos exemplares havia deixado.
Um homem metódico, "cronometrado" ao ponto de chegar antes do horário aos compromissos, ele era uma pessoa com pensamentos considerados até evoluídos demais para a época. Além disso, tinha preocupação com a educação, com a formação dos jovens, descreve Eduardo. Especialmente preocupado com a utilização da literatura mato-grossense nas escolas, completa Walnice. "A finalidade da vida dele foi para que isso (os livros) chegasse na mão do jovem. Os que poderiam usufruir desses dados para alguma coisa", arremata o filho.
Para Eduardo, além de metódico, Lenine Póvoas era muito crítico em relação ao que fazia. "Tem muita coisa que nós achamos no acervo que nem a minha mãe sabia, como o lado poeta dele. Não sei se por excesso de simplicidade ou autocrítica, por achar que não tinha qualidade suficiente, ele não publicou os poemas", analisa. "Era uma faceta que eu não sabia que ele tinha. Pude constatar, escrito a punho", revela a professora.
Tal descoberta, aliada ao grande número de livros guardados fizeram com que o pessoal da Unemat pensasse não mais em reeditar seus livros, mas publicar material inédito. Este, no entanto, é um outro momento do trabalho, explica Walnice. A prioridade agora é colocar as obras à venda, aproveitando a Literamérica (de 16 a 24 de setembro). "Penso que não existe momento e espaço melhor", diz, ressaltando que o preço será simbólico.
Apesar de o contato com a família de Lenine Póvoas ter sido iniciado há cerca de três meses, somente esta semana a equipe começou a mexer no material, sob autorização do filho Eduardo Gargaglione Póvoas. Walnice percebeu que a biblioteca se divide em duas esferas. A primeira é formada por um vastíssimo volume de material que era usado por Lenine em suas pesquisas ou leituras. A segunda por títulos que ele publicou e que não conseguiu distribuir - publicou nada menos que 27 obras. Walnice conta que foi uma grande surpresa encontrar tanto material guardado. O volume, calcula, deve chegar perto dos dois mil livros.
Na análise da professora, que tem doutorado em Teoria e História Literária pela Unicamp, isso mostra um sistema falho de divulgação e de acessibilidade da produção científica do Estado. Walnice confessa-se triste de ver que havia pessoas se esforçando para publicar, para produzir conhecimento, porém esse conhecimento não chegava de forma satisfatória aos leitores, às bibliotecas. "Que apoio esses pesquisadores tinham para tornar suas obras acessíveis? O estado não tinha gerado mecanismos que dessem condições para isso. Até hoje. Mato Grosso cresceu muito em termos de editoras, mas ainda persiste o problema da distribuição", lamenta.
Vale ressaltar que, durante um bom tempo, a produção de Lenine Póvoas foi impressa fora do estado. Todos os livros feitos com recursos do próprio autor. As tiragens eram geralmente pequenas, muitas vezes inferiores a mil exemplares. E ainda assim Walnice encontrou títulos com mais de 400 livros ainda guardados. O que a comoveu bastante foi constatar que, depois de dezenas de anos de pesquisa, ele terminou sua vida de estudioso vendo que muitos desses livros ainda estavam ali na prateleira.
Isso, salienta a pesquisadora, não diz sobre o autor. Não quer dizer que ele não se mobilizou no sentido de ver sua produção chegar ao público. Diz muito sobre um problema histórico de Mato Grosso. "E a gente ainda vive os reflexos disso hoje", diz, lembrando de outro trabalho realizado na Unemat dentro do Projeto de Preservação e Difusão da Literatura Mato-grossense do Início do Século 20. "Tivemos que reeditar A História da Literatura Mato-grossense, de Rubens de Mendonça. Não tinha em lugar nenhum. A filha dele possuía um único exemplar", conta.
Para Walnice, Lenine Póvoas e Rubens de Mendonça são clássicos, porque foram eles que primeiro escreveram sobre a cultura e a literatura mato-grossense. Os pesquisadores de hoje têm obrigatoriamente que passar pelo que eles fizeram. "Foi um choque para mim ver que havia unidades que poderiam estar em bibliotecas, universidades. Uma negligência histórica. Fico comovida porque a gente que é pesquisador sabe como é difícil fazer um livro".
Eduardo Póvoas, que é odontólogo e revela que nunca foi pressionado pelo pai para seguir o mesmo caminho, diz não ter dúvida de que a vontade dele, assim como a dos filhos, seria a de continuar a divulgação de sua obra. "É importante que isso não tenha solução de continuidade", frisa. Eduardo lembra que Lenine costumava colocar os livros no carro e sair distribuindo, com uma "folhinha" datilografada, onde anotava onde e quantos exemplares havia deixado.
Um homem metódico, "cronometrado" ao ponto de chegar antes do horário aos compromissos, ele era uma pessoa com pensamentos considerados até evoluídos demais para a época. Além disso, tinha preocupação com a educação, com a formação dos jovens, descreve Eduardo. Especialmente preocupado com a utilização da literatura mato-grossense nas escolas, completa Walnice. "A finalidade da vida dele foi para que isso (os livros) chegasse na mão do jovem. Os que poderiam usufruir desses dados para alguma coisa", arremata o filho.
Para Eduardo, além de metódico, Lenine Póvoas era muito crítico em relação ao que fazia. "Tem muita coisa que nós achamos no acervo que nem a minha mãe sabia, como o lado poeta dele. Não sei se por excesso de simplicidade ou autocrítica, por achar que não tinha qualidade suficiente, ele não publicou os poemas", analisa. "Era uma faceta que eu não sabia que ele tinha. Pude constatar, escrito a punho", revela a professora.
Tal descoberta, aliada ao grande número de livros guardados fizeram com que o pessoal da Unemat pensasse não mais em reeditar seus livros, mas publicar material inédito. Este, no entanto, é um outro momento do trabalho, explica Walnice. A prioridade agora é colocar as obras à venda, aproveitando a Literamérica (de 16 a 24 de setembro). "Penso que não existe momento e espaço melhor", diz, ressaltando que o preço será simbólico.
Fonte:
A Gazeta
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/278223/visualizar/
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