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Politica Brasil
Terça - 29 de Agosto de 2006 às 11:00

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Tratando sua reeleição como praticamente certa, o presidente candidato Luiz Inácio Lula da Silva disse na segunda-feira que fez "o jogo real da política" em seu governo e que está voltando "mais forte" para um segundo mandato, depois de ser dado como acabado.

"Política a gente faz com quem a gente tem, não com quem a gente quer", disse Lula ao fazer uma análise de seu governo para uma platéia de intelectuais de esquerda.

"Esse é o jogo real da política e precisou ser feito por quatro anos para que nós pudéssemos chegar hoje numa situação altamente confortável do ponto de vista econômico, político e social", acrescentou.

Lula justificou as alianças do primeiro mandato —marcadas pelo escândalo do mensalão—, definiu-se como "vermelho" e disse que a população mais pobre sente-se dona do governo no Brasil.

"Todo mundo achava que nós tínhamos acabado e, de repente, descobrem que a gente não só não tinha acabado, como ressurgimos mais fortes do que éramos", afirmou Lula, que tem 49 por cento das intenções de voto para o Planalto, segundo o Datafolha.

Mesmo defendendo as alianças, Lula disse que o PT "sempre terá um papel" em seu governo e desdenhou as críticas a sua propaganda eleitoral, que privilegia a figura do candidato em detrimento dos símbolos e cores do PT.

"A imprensa me cobra: cadê o vermelho do PT? O vermelho sou eu, ora!", afirmou.

Foi o mais forte discurso de Lula desde o início da campanha eleitoral.

EMPREGADA E PORTEIRO

Lula sinalizou para os intelectuais, alguns dos quais haviam se afastado do PT e do governo, que pretende "dar o próximo passo" em um segundo mandato, mas não explicitou para onde. Preferiu falar sobre a luta política.

"O fenômeno novo na política brasileira não é o fato de o Lula estar subindo nas pesquisas, é o fato de que uma parcela significativa dos pobres se acha importante, e (eles) se sentem iguais ao presidente da República", afirmou. "Eles já não falam no governo do Lula, eles falam: nós governamos este país."

Lula aproveitou o fato de a filósofa Marilena Chauí e do escritor Artur Poerner terem mencionado, antes dele, que a origem da maior parte das intenções de voto na reeleição está nas camadas mais pobres da sociedade e na região Nordeste do país.

"Os chamados formadores de opinião já não detêm mais a verdade absoluta. Hoje não são os setores médios que determinam o voto da empregada doméstica e do porteiro do prédio", afirmou Lula. "O pobre agora está achando que ele pode."

O presidente evitou entrar no debate macroeconômico, proposto pelo economista Paulo Nogueira Batista, que pediu a substituição dos "jogadores do time adversário" no Banco Central. Lula pediu ao presidente do PT, Ricardo Berzoini, para providenciar um encontro exclusivamente com economistas.

CORRELAÇÃO DE FORÇAS

Segundo Lula, a análise correta da "correlação de forças" —no jargão tradicional das correntes marxistas— levou o PT a lançar a "Carta ao Povo Brasileiro," em 2002, comprometendo-se com a estabilidade econômica, o que permitiu sua própria sobrevivência.

"Nós não fizemos uma revolução no Brasil, nós ganhamos uma eleição, que se consolidou quando fizemos a Carta ao Povo Brasileiro", disse Lula ao abrir seu discurso de 54 minutos para cerca de 60 acadêmicos e escritores. "A pergunta que se faz hoje é por que sobrevivemos e como sobrevivemos", prosseguiu.

"Quantos presidentes chegariam aonde nós estamos hoje, com a aceitação que o governo tem, depois de sofrermos —sofrermos, não, passarmos— tudo que passamos?", indagou.

"Outros caíram, outros foram obrigados a se afastar e eu, que era contra a reeleição, estou disputando numa situação muito mais favorável do que quando fui eleito", acrescentou.

O presidente candidato disse que, em 2002, aceitou um processo de "transição pacífica" do governo do PSDB por que, se tivesse "cavucado e devassado" o passado, não teria tido condições de governar o país.

RINOCERONTE E FIDEL Lula disse à platéia de acadêmicos que foi para o encontro com indisposição intestinal, provocada por algo que comera para substituir o almoço. "Às vezes a gente pensa que comeu um petisco e parece que comeu um rinoceronte", brincou, justificando-se por ter se retirado da reunião, por dez minutos, para ir ao banheiro. Logo na chegada ao salão de convenções do Hotel Sofitel, onde ocorreu o encontro, Lula surpreendeu seguranças, assessores e jornalistas, ao romper o cordão de isolamento em direção ao toalete.

"Não é porque tem imprensa que vou deixar de ir ao banheiro", disse, aparentando irritação, antes de romper o cordão de isolamento e atravessar a barreira de repórteres. "Vocês não se incomodem, é rapidinho", falou aos jornalistas.

A não ser pelas críticas de Nogueira Batista ao BC, e da psicanalista Maria Rita Khel (que cobrou rigor na concessão de emissoras de rádio e TV), Lula ouviu praticamente apenas palavras de apoio dos onze oradores.





Fonte: Terra

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