Lula deve se unir aos EUA para liderar na A.Latina
Lula aparece como o candidato favorito nas pesquisas à reeleição na principal economia da América Latina, num momento em que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, amplia sua influência no continente com divisas do petróleo e atrai a atenção internacional com um discurso antiamericanista.
Mas o Brasil poderia modificar esse cenário se buscasse uma aproximação maior com os norte-americanos, disse Peter Hakim, presidente do centro de estudos Diálogo Inter-Americano.
"O mais difícil de entender (para os EUA) foi a necessidade de o Brasil fazer grandes planos com a Venezuela", disse Hakim numa entrevista à Reuters no final da tarde de segunda-feira.
"Todos entendemos por que o Brasil não queria briga com a Venezuela. Essa é sua tradição, manter uma boa relação com os vizinhos, mas não havia a necessidade de abraçar Hugo Chávez a cada dois meses e convidá-lo para participar do Mercosul", acrescentou.
O Mercosul é um bloco comercial composto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai e aceitou a Venezuela como membro pleno no último mês de julho.
No final do primeiro mandato de Lula, a anunciada liderança que o presidente Lula buscou obter no continente parece ter sido ofuscada por Chávez, que vem tentando influenciar o cenário político em eleições como na Bolívia, Peru e México.
"No final das contas, parece que a Venezuela domina mais o cenário da América do Sul e da América Latina, mas isso é em parte pelo jogo que (Chávez) decidiu jogar, ganhando publicidade por se opor aos Estados Unidos", disse Hakim.
Para o analista, a diplomacia brasileira deveria reduzir um pouco suas aspirações para o futuro e fixar prioridades, como resolver os problemas no Mercosul e restabelecer boas relações com os outros países da região.
Em relação aos Estados Unidos, o Brasil está tentando manter uma postura positiva na briga por redução de subsídios agrícolas na Organização Mundial do Comércio (OMC) por meio da liderança do G20, o grupo de países que busca eliminar as distorções no comércio agrícola produzidas pelos subsídios a agricultores nos países ricos, indicou Hakim.
Também pode encontrar uma agenda positiva com os norte-americanos na área de energia, já que os Estados Unidos buscam reduzir sua dependência de petróleo e o Brasil tem liderança na área de biocombustíveis.
ERROS E ACERTOS
Hakim acredita que são moeda forte para o país, no âmbito internacional, o respeito que conseguiu com o manejo responsável da economia e a vantagem com que Lula lidera as pesquisas de opinião para a reeleição, mesmo depois do escândalo político como o que abateu o Partido dos Trabalhadores em 2005.
Nessa esfera, o ponto alto para o país foi ser um dos indicados a ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), disse Hakim. Mas a diplomacia brasileira acumula vários fracassos na região também, sendo o principal deles o bloco comercial Mercosul.
"O Brasil não conseguiu resolver o conflito entre Argentina e Uruguai" disse ele, referindo-se as divergências entre os dois países sobre a instalação de indústrias de celulose no lado uruguaio do rio do Prata.
Hakim também menciona que Argentina e Brasil, além das desavenças dentro do bloco, não chegaram a um acordo sobre dar a Lula uma plataforma de liderança para avançar com um acordo comercial com a União Européia.
Outro sinal de "debilidade" seria a atuação em relação à Bolívia, onde o Brasil é o principal investidor na indústria de gás por meio da Petrobras e vem sofrendo, junto com outras empresas estrangeiras, com a nacionalização do setor promovida pelo presidente Evo Morales, uma aliado na proposta socialista de Chávez para o continente.
No âmbito internacional, o Brasil também tentou emplacar, e não foi bem sucedido, em cargos como o de embaixador da OMC em Genebra e a presidência do Banco Inter-Americano de Desenvolvimento (BID), em Washington.
"A política exterior do Brasil parece um grande jogo de futebol. Todos os jogadores jogando com destreza, com muita energia e capacidade, mas o time não está fazendo gols", afirmou Hakim.
"De maneira geral, o Brasil mostrou liderança, mas não mostrou resultados concretos".
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