No exterior, programa de governo é base da campanha
"O manifesto está sendo preparado o tempo todo. A partir do momento em que um partido é eleito, eles já pensam na eleição seguinte", diz a cientista política Raquel Barnard. Os partidos britânicos realizam convenções anuais durante as quais renovam e repensam suas políticas, que são todas colocadas no manifesto.
Estados Unidos A versão final do programa é divulgada apenas pouco antes do início da campanha. "É com base no manifesto que o eleitor vai escolher em quem votar.", afirma Barnard.
A lei não prevê uma determinada data para a divulgação dos programas de governo, mas nas últimas eleições parlamentares, realizadas em 2005, os programas dos principais partidos britânicos foram lançados durante os três primeiros dias da campanha eleitoral.
Nos Estados Unidos, o programa de governo também é elaborado muito antes da campanha, segundo o professor de assuntos internacionais do Elizabethtown College, Wayne Selcher. "Mas nas últimas décadas, não existem grandes surpresas. O eleitorado e quem acompanha a política já sabem de antemão o teor principal e até detalhes do programa do partido em que vão votar e também do partido opositor".
Assim como na Grã-Bretanha, os candidatos escolhem apenas alguns assuntos do programa ¿ que é divulgado pouco antes do início da campanha ¿ e concentram-se neles durante toda a propaganda política.
Simbolismo Tanto Selcher como Barnard acreditam que o programa de governo nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha tem uma importância e um simbolismo muito maior do que no Brasil. "Aqui nos Estados Unidos ele é levado muito a sério, com muita emoção, é como se fosse um protesto de fé político", diz Selcher.
"O manifesto, na Grã-Bretanha, é como se fosse a alma do partido. Mostra a ideologia e as ambições de cada um deles. Além de o partido ser cobrado se não seguir o que escreveu no manifesto, é questionado também se fizer algo que não estava previsto no documento", explica Barnard.
Os dois cientistas políticos acreditam que o programa de governo no Brasil não tem a mesma força e importância por causa da instabilidade partidária. "O Brasil tem muitos partidos e os políticos mudam facilmente de partido. Isso gera a necessidade de fazer alianças de momento. Esta instabilidade favorece o não-cumprimento das promessas", diz Selcher.
Barnard também ressalta que os partidos no Brasil são baseados em personalidades e não em ideologias. "Tanto o Partido Trabalhista como o Conservador, que são partidos com mais de cem anos, têm uma ideologia profunda, uma tradição baseada em história e ideologia. Os partidos no Brasil ¿ talvez o PT tenha começado diferente ¿ não têm isso".
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