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Internacional
Sábado - 26 de Agosto de 2006 às 11:00

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Universitários russos colocaram a bomba que matou sete asiáticos em um dos mercados mais movimentados de Moscou, no que foi chamado de o primeiro "atentado terrorista racista" da história da Rússia.

"Não se trata de um ataque espontâneo com um taco ou com uma faca, mas de um plano terrorista premeditado para matar estrangeiros. Isso nunca havia acontecido antes", denunciou Lev Ponomariov, presidente do grupo "Pelos Direitos Humanos".

A explosão, ocorrida na segunda-feira no mercado de Cherkizovski, onde a maioria dos trabalhadores são caucasianos, centro-asiáticos, chineses e vietnamitas, tirou a vida de dez pessoas, oito delas estrangeiras, e feriu cinqüenta.

Os autores do massacre confessaram que escolheram esse mercado porque "continha muitos asiáticos", minoria étnica que os "repugnam profundamente".

Com este atentado, já são 29 os estrangeiros assassinados e 208 os feridos este ano nos cada vez mais freqüentes ataques racistas na Rússia, informou o centro de direitos humanos Sova.

Além da magnitude, o que diferencia este atentado racista dos anteriores é não ter sido cometido por neonazistas, mas por três estudantes do primeiro e do quarto períodos de uma universidade, com idades entre 18 e 20 anos. Os três jovens prepararam a bomba no quarto de um albergue universitário.

Estudante do prestigiado Instituto de Tecnologias Químicas Mendeleev, Oleg, natural da Udmórtia (Urais), não teve muitas dificuldades para encontrar os componentes para a bomba (amoníaco em sal, ácido sulfúrico, açúcar, pó de alumínio, acetona e um espoleta extraída de um despertador) em consultas na internet. Os universitários chegaram ao mercado de metrô e colocaram uma bolsa no café Atlantis, gerenciado por um vietnamita. Nela, havia uma bomba-relógio que demorou 55 segundos para explodir.

As organizações islâmicas pediram ao Governo russo que reconheça que o incidente em Cherkizovski não foi um mero ato de vandalismo, mas "um atentado terrorista em grande parte dirigido contra minorias étnicas".

O rabino Zinobi Kogan, presidente do Congresso de Organizações Religiosas Judaicas da Rússia, denunciou que o anti-semitismo voltou à Rússia, onde vivem dois milhões de judeus, 15% do total mundial.

Os ativistas culpam o Kremlin por incentivar o "culto à violência" como ferramenta para resolver disputas, discurso absorvido por parte da juventude russa.

"A xenofobia doentia já não é exclusividade de certos grupos neonazistas, mas está impregnada em toda a sociedade russa. Os dirigentes têm culpa", afirma Ponomariov.

Na sua opinião, o presidente russo, Vladimir Putin, dá um mau exemplo para a sociedade ao "utilizar uma linguagem militarista e mafiosa" para se referir aos inimigos da Rússia.

Ponomariov lembra que um Tribunal de Moscou condenou por "vandalismo", em 22 de março, os oito neonazistas que participaram, em 2004, do assassinato de uma menina tadjique de 9 anos, que recebeu nove punhaladas. Três dias depois, outra menina de 9 anos, filha de africanos, foi apunhalada no rosto e no pescoço em plena luz do dia em um parque. No mês seguinte, um estudante senegalês foi assassinado por um neonazista, que utilizou uma espingarda de precisão com uma suástica inscrita na culatra. Dezenas de páginas da internet neonazistas pedem a "Rússia para os russos". A Justiça russa não considera que estes sites "estimulem o ódio racial".

Nessas páginas, qualquer pessoa pode consultar "O Manual do terror andarilho", um guia para quem quiser expressar violentamente seu ódio contra os estrangeiros.

A Rússia - que assumiu em meados de maio, em Estrasburgo, a Presidência do Conselho da Europa - se propôs a combater a xenofobia e o racismo.

Enquanto autoridades calculam o número de neonazistas em não mais do que 6 mil pessoas, grupos de direitos humanos falam de 50 mil, sem contar os grupos de nacionalistas russos que compartilham sua ideologia xenófoba.

A Rússia, país aonde anualmente chegam 20 milhões de imigrantes, sofre desde este ano, pela primeira vez em sua história, um déficit de mão-de-obra, segundo reconheceu o Ministério do Trabalho.





Fonte: EFE

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