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Cultura
Quinta - 24 de Agosto de 2006 às 01:15
Por: Luiz Fernando Vieira

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Passagem da Conceição, em Várzea Grande, está em festa. A igreja de Nossa Senhora da Conceição, marca registrada do local erguida em 1910, passou por uma reforma e será devolvida à comunidade hoje, às 18 horas.

A construção, tombada como patrimônio histórico da cidade em 2001, passou por obras de recuperação e, juntamente com o entorno, que ganhou um projeto paisagístico, forma um belo conjunto. Ele se junta à praça, às fachadas de casarões e à Casa de Memória "Dona Sinharinha" para tornar a comunidade um dos pontos turísticos mais ricos e interessantes do estado.

Durante cerca de dois meses a capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição passou por uma restauração, com recursos do Programa Estadual de Recuperação e Revitalização do Patrimônio Histórico de Mato Grosso. Até mesmo o salão de festa, construído mais recentemente e que destoava do conjunto, foi adaptado para que se integrasse ao estilo.

Era um desejo antigo dos habitantes, inconformados com as condições em que se encontrava o prédio, conta a presidente da Associação de Moradores da Passagem da Conceição, Maria do Carmo Fontes Taques. Ela explica que igreja tem uma ligação muito forte com a comunidade. Foram os próprios moradores, com a ajuda de Dom Aquino Correa, que a levantaram em 1910. Segundo a presidente, ele gostava muito daquela localidade, bem como das pessoas que ali foram morar.

Foi o próprio Dom Aquino que, em vista do crescimento da comunidade, sugeriu a construção da igreja e se dispôs a ajudar com o que fosse possível, assim como membros de famílias tradicionais como Gabriel Curvo. Foi um grande mutirão, descreve Maria do Carmo. As mulheres faziam a massa e a levavam para que os homens fizessem subir as paredes, todas de adobe.

Terminada a obra, remonta a presidente, Joaquim Corsino, um abastado morador, ressaltou a necessidade de colocar uma santa ou um santo no altar da igreja. Ele então doou a imagem, que chegou de barco pelo rio Cuiabá, vindo da distante Portugal. Maria do Carmo conta que a preferência pode ter sido uma influência do número de portugueses que residiam na comunidade.

A igreja, então, fez surgir a tradição de realizar a festa de Nossa Senhora da Conceição, que todos os anos leva milhares de pessoas à Passagem da Conceição no dia 8 de dezembro. A presidente lembra que no início era a comunidade que realizava, depois foram criadas as figuras dos festeiros.

A apenas 20 minutos do centro da Capital, Passagem da Conceição consegue preservar alguns aspectos seculares, como por exemplo a tranquilidade - quebrada apenas nos finais de semana - e as manifestações religiosas. Elas são, portanto, fator de comunhão da comunidade, que começa a ver o desenvolvimento retornar junto com antigos moradores.

Maria do Carmo ressalta que Passagem da Conceição é bem mais antiga que a igreja e que a própria cidade de Várzea Grande. Surgiu em 1813, quando Manoel da Conceição foi morar ali. Sua casa foi a primeira da localidade e o fato dele ter uma canoa tiveram grande influência no desenvolvimento do distrito. Ele fazia a travessia do pessoal que vinha de locais como Rosário Oeste e Jangada e precisava ir para Cuiabá. "Na época os tropeiros se reuniam e diziam que tinham que passar no porto do Conceição", reproduz, para lembrar de onde veio o nome.

Mas uma grande enchente em 1942 acabou derrubando vários casarões e expulsando antigos moradores. Famílias que começam a voltar para lá, festeja Maria do Carmo.

O mesmo sentimento de alegria é demonstrado por Ursino Orestes de Moraes, de 43 anos. Ele nasceu em Passagem e hoje mora em Cuiabá, mas não sai de lá. Se orgulha de trabalhar na construção de novas casas na localidade. Para ele, este é um sinal de que o desenvolvimento está voltando.

Não é, porém, a garantia da volta do charme do passado. Ele aponta com tristeza para o que "sobrou" dos casarões antigos: as fachadas reproduzidas para ilustrar a arquitetura típica. O mesmo em relação à antiga balsa, ou também o que sobrou dela. Encostada na beira do rio, enferrujada e com o madeiramento deteriorado, ela é uma prova da importância que aquela passagem tinha.

Quando não havia tantas pontes ligando as duas cidades, a travessia naquele trecho era uma constante, onde se transportava de tudo, até automóveis, lembra ele. A balsa, segundo Moraes, está parada há cerca de dez anos e ele confessa que não alimenta mais esperanças de vê-la funcionando novamente.




Fonte: A Gazeta

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